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Ao abrir os olhos pela primeira vez na manhã seguinte, senti como se um caminhão tivesse passado por cima de mim, ou então, um bando de elefantes descontrolados. Não me lembrava ao certo como havia chegado em casa, mas sabia que Aaron tinha me trazido. Espera, Aaron? Esbugalhei os olhos e segurei o ar presente em meus pulmões quando notei que um par de braços longos e fortes estavam rodeando a minha cintura, junto de uma respiração pesada, embora serena, se chocando contra a minha nuca.
Permiti que as minhas orbes azuis olhassem para baixo e percebi que estava vestindo a camisa que ele estava usando na noite anterior. Me esquivei dos braços claros do rapaz e levantei da cama, cobrindo a minha boca com uma das mãos. Ele estava com metade do corpo desnudo, os cabelos lisos descansando sobre a testa, os lábios finos entreabertos e a feição tranquila, como a de um bebê.
Demorei alguns segundos para digerir a informação e corei quando comecei a me lembrar da noite anterior e do vexame que passei. A dor de cabeça latejante veio como um lembrete de toda a humilhação e vergonha. Eu nunca mais iria beber na minha vida, nunca mesmo! Me peguei a admirar o corpo de Aaron descaradamente, por mais tempo que o aceitável. Ele é extremamente bonito, tem o físico definido, algumas pintas espalhadas pelo tronco másculo, o peitoral subindo e descendo conforme os pulmões procuram por ar. Pisquei algumas vezes e fui até o banheiro, na intenção de expulsar a ressaca presente em mim.
Encarei o meu reflexo no espelho e apoiei o peso do meu corpo nos braços, passei as mãos pelos fios ruivos, sorrindo para mim mesma. Fiz as minhas necessidades fisiológicas e tomei um banho quente mais demorado que o de costume, na intenção de recuperar as minhas energias. Ao sair do box, escovei os dentes e sequei o meu corpo. Vesti uma calcinha limpa e a roupa que eu iria usar hoje no colégio, a camisa do Aaron e o primeiro jeans que encontrei pendurado nos ganchos do meu banheiro. Alinhei os meus cabelos e os sequei superficialmente com o secador que peguei em uma das bolsas de Theodore.
— Nossa, você está acabada. Alguém anotou a placa? — Dei um sobressalto ao retornar para o meu quarto e encontrar o loiro sentado na minha janela, com um saco de papel nas mãos, pronto para ir para o colégio, ou outra festa.
— Placa, que placa? — Perguntei inocentemente, mantendo o tom de voz baixo para não acordar o moreno, que agora estava de costas para nós.
— Do caminhão que te atropelou — ele respondeu, balançando o saquinho no ar. — Para sua sorte, trouxe um kit de sobrevivência. Remédios para dor de cabeça, enjoo e balas, já que está super atrasada e não vai tomar café da manhã.
— Que horas são? — Questionei, agora realmente curiosa. Acordei tão dispersa que nem sequer me lembrei de conferir o horário.
— Tarde, mas cedo o suficiente para acordar a Bela Adormecida e calçar os sapatos para irmos — afirmou, cruzando as pernas, cobertas por uma calça de alfaiataria verde oliva. — Aliás, quero saber de tudo — completou, apontando com o queixo para a minha cama.
— Não há nada para saber — retruquei, enraivecida, com as bochechas mais vermelhas que dois tomates.
— Puta merda, como vocês resmungam! — Aaron praguejou abafado contra o travesseiro antes de se levantar e nos encarar. — Por que ainda está com a minha camisa?
— Porque quero e você não vai usá-la suja — respondi, como se fosse óbvio. — Theodore disse que estamos atrasados, escolha alguma coisa no meu guarda-roupa e vá tomar um banho.
— Que fofos, parecem um casal de namoradinhos — Theodore voltou a falar, com a voz melosa e fina, juntando as mãos em frente ao queixo.
— Queira ser mais educado. — Aaron e eu falamos ao mesmo tempo.

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Por teus olhos, Sarah
Vampire[EM ANDAMENTO] Sarah Miller retorna à sua cidade natal para terminar o ensino médio e acaba tendo o ano mais intenso de sua vida após conhecer um grupo de adolescentes um pouco fora do comum.