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Não consigo erguer o punho para bater na porta, estou petrificada na entrada, minha respiração é lenta e baixa, estou usando qualquer resto de auto controle que existe em mim para não arrebentar a estrutura enorme de madeira na minha frente, meus olhos estão vidrados na maçaneta minúscula, inspiro o ar puro arduamente e agarro a tranca, giro-a e adentro a casa iluminada demais, o sol incrivelmente, está dando sinais desde que cheguei.
Dou passadas rápidas pelo interior da residência, aparentemente vazia, apenas os carros e a moto na garagem, delatam a presença dos meus amigos, atravesso a sala onde me cortei, subo o segundo piso, passo pela cozinha e então vejo Theodore, com trapos embolados nas mãos, aquilo, um dia já fora uma camisa, ele é tão rápido, que as suas mãos desaparecem no ar, em um gesto sobrenaturalmente veloz, o movimento é quase invisível aos meus olhos tensos demais.
Ele parece tão confuso quanto eu. Como se esperasse por qualquer pessoa no mundo, menos eu.
— Sarah. - Ele começa, desconcertado. — O que está fazendo aqui? - A tom de insatisfação que a sua pergunta transmite não consegue ser disfarçada pelo seu sorriso mais lindo. Falso. Manipulador. Me sinto traída e em perigo.
— Momento ruim, Theo? - Destilo, minha saliva é ácida na boca, estou tão nervosa que os meus músculos tremem por baixo da pele, cada mínimo espasmo meu não passa despercebido pelos olhos dourados, líquidos como ouro puro, forço os meus pés a se manterem no lugar, mas, o meu corpo almeja por sair dali.
— É claro que não, boba. Só não esperava te encontrar aqui, você não atendeu as minhas ligações, imaginei que estivesse ocupada com alguma coisa importante. - Seus braços estão escondidos atrás do corpo, segurando o tecido retorcido, o cheiro metálico surge sutilmente, ele engole seco e mantém o sorriso nos lábios, seus olhos acompanham os
meus. — Está procurando pelo Aaron? Eu aviso que...— O que você é? - As palavras rasgam o espaço entre nós, um misto de fúria, medo, desconforto e culpa rondam a expressão do menino. Ele quase consegue manter o seu disfarce, mas o líquido vermelho e espesso pinga no assoalho polido, nossos olhos seguem na mesma direção e então, meu coração para por um segundo e ameaça explodir em seguida.
— Theo, por que está demorando tanto? Aquela coisa me deixou imundo, eu preciso de uma toalha... - Dylan adentra a cozinha e o meu queixo vai ao chão, meu amigo está com o corpo coberto de sangue, algumas folhas estão grudadas no seu tronco nu, seus olhos se cruzam com os meus e o choque consome o homem, Theodore aperta os olhos e larga o tecido no chão. — Sarah? - Pisco inúmeras vezes, alternando minhas órbitas entre os dois.
Cambaleio para trás e trombo em algo, alguém, Aaron. Reconheceria aquelas mãos frias como gelo em qualquer lugar, até mesmo se eu não estivesse lúcida, viro o meu corpo com tamanha brutalidade que faço com que ele se afaste brevemente, ele está sério, mas a sua expressão é pacífica, como a de um enfermeiro que tenta pacificar um insano em surto.
Deixo as minhas mãos erguidas na frente do meu peito em sinal de defesa, estou em pânico, ele tenta se aproximar, mas eu me afasto imediatamente.
— O que vocês são? - Vocifero, apavorada. Consigo agarrar uma faca de cozinha em cima do balcão de mármore atrás de mim, grande o suficiente para cortar uma peça de carne, com as mãos trêmulas e aponto para os três, estou encostada na pia, eles não sabem o que fazer, mas não se aproximam de mim.

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Por teus olhos, Sarah
Vampire[EM ANDAMENTO] Sarah Miller retorna à sua cidade natal para terminar o ensino médio e acaba tendo o ano mais intenso de sua vida após conhecer um grupo de adolescentes um pouco fora do comum.