Eu Vim Para Dizer Que Sim

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— Pois, muito bem — andou até estar próxima o suficiente para falar mais baixo, o olhar firme. — Eu vim para te dizer que você tinha razão. Eu achei que se nos afastássemos esse sentimento acabaria, mas me enganei. Foi exatamente o contrário. Todas as vezes em que vi a morte passar diante dos meus olhos pensava no quanto queria estar contigo, pensava em tudo que poderíamos ter vivido. Quando estivemos aqui há algumas semanas e te vi depois de tanto tempo... um soco bem no meio da minha cara teria me desnorteado menos! Fui incapaz de te esquecer. Então, a morte de Brida aconteceu e não pude mais suportar. Não espero que você ainda sinta qualquer coisa por mim, apenas queria deixar claro que eu sinto muito por tê-lo feito sofrer e que jamais foi falta de amor. Eu sempre te amei.

Finalmente, um enorme peso saíra de suas costas.

Sentia-se tão aliviada naquele momento, tão leve, que sua respiração era profunda e lenta.

Mas a de Lirion não.

Seu peito subia e descia com rapidez; o ar era empurrado com certa força e chegava a fazer barulho. A mulher não conseguia distinguir o que ele estava sentindo naquele momento, mas não parecia bom.

Logo o viu tomar mais longos goles da garrafa e largá-la sobre a pia faltando cerca de dois terços do conteúdo. Sabia que aquilo não seria o suficiente para embebedá-lo — Garou eram resistentes por natureza — entretanto, jamais o vira beber daquele jeito fora de desafios.

O conselheiro andou até a porta aberta e a Fianna sentiu seu coração afundar.

Não fez mais nenhum movimento. Apenas ficou ali, parado, segurando a maçaneta, o olhar perdido na mata do lado de fora.

Piscou várias vezes e esvaziou os pulmões para conter as lágrimas.

— Beleza, já entendi. Sei que jamais poderíamos ser um casal, eu só... deixa pra lá.

No fundo, não era o final que queria, mas estava ciente de que poderia acontecer — teria de lidar com isso daqui para frente. Se lhe servia de consolo, pelo menos não morreria sem que tivesse lhe dito.

Parou ao seu lado na porta, mas não ousou olhá-lo.

— Espero que um dia voltemos a ser amigos, ao menos. Desculpe por... tudo.

Apressou o passo para sair o quanto antes dali, queria ficar sozinha para lamentar a peça que o destino lhe pregou mais uma vez.

Já havia cruzado a soleira quando uma mão firme segurou seu braço.

O coração deu um salto e a respiração parou.

Virou a cabeça e se deparou com um Lirion aflito, as sobrancelhas franzidas e os olhos marejados evidenciando seu sofrimento. A voz masculina saiu num sussurro rouco e triste.

— Que merda, Uivo... justo quando eu estava conformado...

Sentiu uma leve pressão puxando-a gentilmente de volta para a cabana. Deixou ser conduzida.

Os dedos acariciaram sua pele e um arrepio se alastrou daquele ponto em diante. O viu mirar a maçaneta, respirar fundo e empurrar a porta para fechá-la.

— Pelo visto, não tenho um pingo de orgulho quando se trata de você.

Girou a pesada chave na fechadura de ferro rústica, trancando-a.

Seu corpo inteiro estremeceu de ansiedade.

A euforia acelerou seus batimentos quando o conselheiro deslizou a mão pelo pescoço fino e envolveu sua nuca, aproximando-se o suficiente para que apenas suas testas se tocassem. Usou o polegar para lhe acariciar a bochecha enquanto a outra mão continuava a desenhar suavemente os contornos do seu braço.

Contos de Amor e Fúria - O Conselheiro do Ancião Onde histórias criam vida. Descubra agora