Epílogo - O Caminho que Escolhemos

22 2 0
                                    

O Mestre de Desafios do caern Destino de Gaia não esperava visitas naquela noite. Refestelava-se de uma apetitosa carne de caça malpassada enquanto os músculos relaxavam sobre almofadas macias num sofá improvisado, quando batidas urgentes soaram na porta da sua cabana.

— Quem me incomoda a essa hora? — Perguntou em voz alta, saboreando o último pedaço da sua refeição.

— Sou eu, Anacé. É um assunto importante, abra.

O homem suspirou, cansado. Tivera um dia cheio de problemas para resolver e, quando finalmente pensou que ficaria sozinho com seus pensamentos, tudo indicava que o Mestre de Rituais viera lhe trazer mais dor de cabeça.

Arrastando os pés pelo pequeno cômodo, abriu a porta e lhe deu passagem.

Kay Martelo-do-Trovão não era o exemplar mais fisicamente forte da sua espécie, mas o homem parado em sua sala era tão franzino para os padrões Garou que não chegava perto de intimidar alguém. Sabia que Anacé, cuja forma racial era a lupina, só usava a hominídea quando estritamente necessário. Portanto, sua aparição deveria ter um bom motivo.

— Qual foi o problema dessa vez? — Perguntou, fechando a porta e tomando seu lugar atrás de uma pequena mesa. O integrante da tribo dos Uktena permaneceu de pé, demonstrando inquietude demais para se sentar.

— Acabei de descobrir que nossos Fianna estão quebrando a Litania.

— Quais deles? — Kay não estava surpreso. — São tantos Fianna quebrando a Litania por aí...

— O conselheiro e Uivo-da-Montanha.

O quê?! — A revelação o pegou tão desprevenido que chegou a se levantar da cadeira. — Lirion? Você está me dizendo que ele e a Escolhida...

— Sim, isso mesmo. Confirmado.

Precisou apertar as têmporas com força para controlar a raiva que estava sentindo. A mandíbula estava tão tensa que a voz saiu entredentes.

— Maldito! Charach desgraçado! Com tanta mulher no mundo, ele tinha que se meter justo com essa? Não bastava ser uma Garou, tinha que ser a Escolhida?!

— Essa não é a pior parte — O Theurge mantinha-se calmo, apesar do semblante seriamente preocupado.

— Então fale de uma vez!

— Uivo-da-Montanha ficou estéril.

Kay arregalou os olhos, estarrecido.

Abriu e fechou a boca algumas vezes procurando as palavras, mas não as encontrou. Por fim, respirou fundo e soltou um xingamento, tentando colocar os pensamentos em ordem. Como um Philodox da tribo dos Senhores das Sombras, pensar friamente e achar a melhor saída era o seu instinto natural.

Sabendo da falta de traquejo de um lupino nas comunicações humanas, achou melhor se informar primeiro. Apontou para que o homem franzino tomasse a cadeira à sua frente, sentando-se também.

— Vamos lá, Anacé. Me conte tudo, desde o começo. Como você descobriu?

— Eu estava fazendo minha ronda quando ouvi uma discussão ao longe. Iria passar direto, mas algo me disse que precisava escutar.

— E então?

— Me aproximei e ouvi a Escolhida contar que eles estavam juntos há alguns anos, embora não pudessem se ver com frequência. Entendi que decidiram confessar após ambos quebrarem uma maldição sobre a linhagem de Uivo-da-Montanha e...

— Espere — Interrompeu. — Ela estava contando para quem?

O olhar do Theurge não deixava dúvidas da amplitude do problema.

Contos de Amor e Fúria - O Conselheiro do Ancião Onde histórias criam vida. Descubra agora