Eu pairava envolto num éter de abstrações, como que mergulhado em um universo de ideias transcendentes, acolhendo talvez o reino ideal, que Platão tão eloquentemente discorria, mas como tudo que é efêmero, a fantasia dissipou-se em uma nuvem de vapor. O brilho do sol me abraçou de forma a me cegar quando abrupta e subitamente despertei sobressaltado com as batidas frenéticas na porta de entrada da casa. Atravessei a casa com poucos passos, impulsionado por uma descarga de adrenalina tremendo ter perdido a hora e em uma ironia do destino ser eu o atrasado do dia. Tudo isso para dar de cara com duas figuras loiras na frente da minha casa.
- Bom dia, margarida - A voz rouca de Naruto me saudou junto a uns sons desconexos vindos de Boruto no seu colo.
- O que tá fazendo aqui uma hora dessas? - O loiro não me deu muita atenção, me empurrou para o lado e foi entrando, o que apenas aumentou a minha indignação de ter sido acordado.
Fechei a porta e o abandonei na sala sem dá-lo muita atenção, o meu humor matinal não era o dos melhores, então não perdi tempo tentando lidar com ele agora. Faltava alguns poucos minutos para às sete horas mas o dia acompanhava o tempo de ontem, em um esplendor ensolarado e caloroso, então a água fria do chuveiro foi bem recebida e esfriou a pequena ira a qual acordei acompanhado. Quando regressei à sala, estava limpo, medicado e vestido com uma calça de tecido e a minha visita havia ligado a televisão para entreter o filho e terminava o café na prensa francesa. O delicado e enérgico perfume da bebida cafeinada atingiu meu olfato qual droga almejada, e, em certo sentido, ela de fato o era, era meu vício. Me recostei no balcão aconchegando uma xícara entre minhas mãos, enquanto meus olhos se encontraram com os de Naruto, aguardando pacientemente que ele começasse a falar o que precisava. Pela postura eu sabia que ele era o errado de seja lá qual fosse o problema, Naruto nunca negava quando estava errado, sempre aparecia com timidez e um certo encolhimento, uma faceta inusitada de sua personalidade espalhafatosa.
- Briguei com a Hinata - minhas sobrancelhas arquearam com a revelação direta e rara - Quer dizer, ela quem brigou comigo.
- Qual foi o sacrilégio que você cometeu para irritar a Hinata? - Eu perguntei como se fosse uma tarefa homérica, já que a mulher assemelhava-se a uma santa, dotada de benevolência e paciência inigualáveis.
- Nada - Ele respondeu rápido - Ou pelo menos não foi intencional... Foi uma coincidência gigantesca
- O que..- Meu questionamento foi cortado quando a porta abriu-se novamente, o indivíduo do momento não teve a delicada paciência de bater.
De repente sinto ter perdido a autoridade dentro da minha casa.
Tanto eu quanto o Uzumaki esticamos o pescoço para enxergar o intruso e lá estava Sakura, sempre invadindo meus espaços, materiais ou não. O batom e o óculos vermelhos estavam lá, um pequeno elo vinculando-os sobre suas sobrancelhas suavemente arqueadas. Com determinação, dirigiu-se diretamente a Naruto, posicionando-se diante dele com um jeitinho mandão.
- Comece a falar- Ela ordenou apontando o dedo para o peito do loiro.
- Ei! Eu tenho direito a defesa, sabia? - Levantou os braços em rendimento e afastou-se um pouco da rosada - Hinata só ficou brava porque troquei de secretária.
- Ela sua ex! - Rebateu indignada.
- Foi uma coincidência, não foi eu quem contratou a Shion!
Eu, por minha vez, me limitei a observar, desviando meus olhos entre os dois, durante aquela acalorada discussão em busca de esclarecimentos. O nome dela me soava familiar, mas a origem me escapava das lembranças, esgueirando-se como uma sombra nas profundezas da memória.
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Flowers in the paper
Fiksi PenggemarEu estava entorpecido, totalmente perdido naquela bolha de tinta que eu mesmo, de algum jeito, havia me prendido e velejando na minha melancólica vida, onde o sentido e a cor já havia esvaziado há muito tempo, tentei lutar contra isso, me permiti um...