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        À MINHA frente, havia um corredor imenso e escuro. Eu estava vestida com um longo vestido branco, solto e delicado, que me fazia sentir como se estivesse flutuando. O corredor se estendia à minha frente, repleto de portas que pareciam se perder na penumbra. A curiosidade era mais forte do que o medo, e assim abri a primeira porta que vi.

Para minha surpresa, ela estava entreaberta. Assim que a empurrei, fui recebida por uma cena que me fez parar no lugar: uma mesa repleta de pessoas, todas sorrindo. Era a minha família. Bom, quase toda a minha família; alguns estavam faltando. Mas ali estavam eles, e isso já era um conforto imenso. Minha mãe me acenava com um gesto suave, chamando-me para me juntar a eles.

Um sorriso genuíno surgiu em meu rosto à medida que me aproximava. Podia ver as imperfeições de cada um, mas, no fundo, eram essas mesmas falhas que tornavam nosso vínculo tão real. Eram a minha família, e isso era tudo que eu precisava, mesmo que a vida me ensinasse a duvidar de tudo.

— Vem, filha, junte-se a nós — minha mãe falava com uma calma reconfortante.

— Estamos felizes em te ver. Como nossa menina está? — Perguntou minha avó materna, seu olhar iluminando o ambiente.

— Estou ótima! Um pouco confusa, mas estou bem, e vocês? — Menti, mas a verdade era que me sentia perdida.

— Estamos ótimos! — Respondeu Alisson, meu pai, com um sorriso que parecia abarcar toda a mesa.

— Que bom! Onde está o resto da família? — Perguntei, olhando ao redor.

— Nas outras portas. — Disse Alisson, enquanto todos compartilhavam olhares cúmplices.

— Mas antes, queremos te dizer que estaremos sempre com você — minha mãe continuou, a voz dela transbordando amor e apoio.

— Independentemente da situação — completou Alex, meu pai biológico, um semblante sério, mas gentil. Confesso que fiquei surpresa em vê-lo.

— Te amamos, filha!

— Eu também! — As palavras saíram num sussurro, mas a emoção que sentia era avassaladora.

Levantei-me da cadeira, um misto de alívio e tristeza preenchendo meu coração. Enquanto caminhava em direção à segunda porta, um frio na barriga me acompanhava. O medo do desconhecido me paralisava por um instante, mas a vontade de descobrir superava tudo. Ao abrir a porta, me deparei com um quintal familiar — o quintal da minha antiga casa. Uma onda de nostalgia me invadiu, mas não vi ninguém à primeira vista.

— Minha estrelinha. — Uma voz doce e reconfortante ecoou, e meu coração disparou.

— Vô!! Que saudade! — As lágrimas começaram a escorregar pelo meu rosto enquanto me aproximava dele, meu avô, a única pessoa que sempre soube entender meus sentimentos.

— Eu também, minha neta. Como você está? — Perguntou, com um sorriso caloroso que fazia o mundo parecer mais seguro.

— Mal, muito mal! Estou preocupada, confusa e, principalmente, com medo de ter colocado todos em perigo. Eles não têm nada a ver com a minha vida! — Não consegui conter as lágrimas enquanto o abraçava, sentindo seu cheiro familiar e reconfortante. Ele sempre foi o único que eu podia confiar para desabafar.

— Calma, você sempre dá um jeito em tudo. Sempre resolve seus problemas. Você não vai desistir no meio do campeonato, né? — Ele disse isso com um tom de encorajamento, mas a tristeza que sentia pesava em meus ombros.

— Não, mas eu estou cansada. As coisas ruins só acontecem comigo. — Sussurrei, o desânimo se apoderando de mim.

— Lembra da frase que eu te dizia? "Primeiro a tempestade de granizo, depois, o sol radiante." Fica tranquila, logo você poderá brincar no gramado. — Ele estava tentando me confortar, mas a verdade é que não me lembrava dessa frase. E, mesmo assim, ela soava como uma esperança distante.

— Obrigada, vô! EU AMO MUITO O SENHOR! — Aquelas palavras saíram com toda a força do meu coração.

— Eu também, minha neta. Agora vai, tem uma pessoa querendo te ver. — Ele olhou por cima do meu ombro, e a alegria em seu olhar se misturou a um leve tom de seriedade.

Apenas assenti, ainda com um nó na garganta, e fui em direção à porta ao lado, carregando a curiosidade de saber quem poderia ser. Ao abrir a porta, entrei em um espaço que parecia um laboratório de pesquisa, repleto de equipamentos e papéis. E ali, já sabia quem estaria esperando por mim.

— Thomas. — Minha voz saiu em um sussurro.

— Que saudade de você, Estella. — Ele sorriu, e algo em seu olhar me trouxe conforto.

— Me perdoa pelo que aconteceu naquele dia. Eu sabia que tinha alguém ali, mas não consegui impedir. — A culpa pesava como uma âncora no meu peito.

— Fica tranquila. Claro que eu te perdoo; não é culpa sua. Eu também sabia que tinha alguém ali. Todos nós naquele dia sabíamos, e assim como você, ninguém conseguiu impedir. Não se culpe por isso. — A maneira como ele falava trazia um alívio, mas as dúvidas ainda rondavam minha mente.

— Vou tentar, mas onde está a Charina? — Perguntei, sentindo um aperto no coração.

— Aquela ali desceu. — Ele apontou, um sorriso travesso nos lábios.

— Desceu para onde? — Perguntei, confusa.

— Para o colo do capeta. — Ele riu, mas a leveza nas suas palavras não me fez rir.

— Tadinha. Ela tem pecado e não é pouco. E o Mercúrio? — Perguntei, a preocupação tomando conta de mim.

— Você saberá logo, logo, meu bem. — Thomas finalizou com um beijo suave em minha cabeça, e a sensação de proteção que ele me proporcionou foi um bálsamo para minha alma.

A porta se abriu novamente, revelando todos que já havia conversado até agora. A atmosfera estava carregada de sentimentos mistos, um misto de alívio e ansiedade.

— Vamos te dar uma segunda chance. — A voz de Thomas ressoou com uma gravidade que me fez tremer.

— Dessa vez, lembre-se de que a verdade é traiçoeira e que o impossível é possível. — Acrescentou meu avô, seus olhos profundos se fixando nos meus, como se estivesse tentando transmitir um recado além das palavras.

— Obrigada! Amo todos vocês! — As palavras saíram em um sussurro, mas o amor que eu sentia por eles era uma força que eu não poderia esconder. A certeza de que, mesmo nos momentos mais sombrios, eu não estava sozinha, me preenchia de uma nova esperança.

Lembre-se De Mim || Endrick F. (1° Conto da saga Buoni Demoni)Onde histórias criam vida. Descubra agora