Capitulo 3

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Meus pais e os do Sas foram nos buscar na escola.
Eu me sentia culpada por ter contado aquilo pro meu irmão, eu sabia que ele não se sentiria bem. O Sas não parava de chorar, os soluços dele ressoava pela sala da secretaria. Oque foi que eu fiz? Eu não deveria ter contado para ele, devia ter esperado ele descobrir sozinho.
Eu já tinha chegado em casa, e não conseguia parar de pensar na notícia da morte de Iran e no choro do meu irmão quando eu contei. O dia não estava muito bem, não, o dia não estava nada bem, mas eu tinha que ir para a NLF, eu queria mais informações, queria tentar descobrir o porque disso tudo, e se possível, quem fez isso. Então, uma hora da tarde em ponto eu saí de casa para ir para o núcleo.

- Filha, você não precisa ir se não quiser. - disse minha mãe

- Eu quero ir mãe, eu preciso ir... - digo em resposta e então fecho a porta.

Coloco meus fones tocando a música oração de A Banda Mais Bonita da Cidade, e ajusto o volume para o máximo.
Enquanto eu caminhava eu não parava de pensar, na morte de Iran, quem é o assassino? Oque aconteceu de fato? Porque mataram ele? No choro do meu irmão...
Eu me sentia babaca, porque lá no fundo eu sabia que estava sofrendo mais pelo sofrimento do Matheus do que pela morte de Iran. Eu sofria também pela morte dele, afinal ele me ajudou em momentos que ninguém percebia que eu estava perto da morte.
Eu lembro que, quando eu comecei a me dopar de remédios eu ficava alterada. Muito alterada. É como se eu estivesse drogada ou algo do tipo, só três pessoas perceberam de verdade, O Sas, O Felipe, O Guilherme ( da escola), o Bernardo, e o Iran. Esse cinco sempre cuidavam de mim quando chegava nesse estado no núcleo (no caso de Gui na escola), eu cambaleava,  falava coisas sem sentido e tinha alucinações muito fortes. Lembro de uma vez que eu  achei que estava quase que tendo uma overdose e mandei uma mensagem pra Guilherme me despedindo dele, ele entrou em desespero. Nesse dia, meus olhos lacrimejavam, as cores se misturaram em um tom forte de azul, rosa e roxo, me sentia gelada e como se eu estivesse afundando em um misto de universos, e meu nariz sangrava. Meus pais não sabem disso, na verdade poucas pessoas sabem disso, poucas pessoas sabem que eu tenho ansiedade e que já cheguei a me cortar, porque eu sempre sorri muito, sempre fui um estereótipo de pessoa alegre e irritante, então quando ficava quieta ninguém percebia, só esses cinco . E sou grata a eles de coração.
Mas agora um deles estava morto. E eu não podia fazer muito coisa, mas oque eu podia eu iria tentar, isso era uma promessa.
Eu já estava na rua do núcleo quando senti uma mão no meu ombro, Era Stephanie, ela era tubista no núcleo e era amiga de Iran.
Eu tiro meu fone para ouvir ela.

- Você já sabe né? - perguntou ela como quem não precisava de uma resposta - Aparentemente o Samuel também, ele não está muito bem. Eu também fiquei muito... - ela respira fundo - abalada, eu não sei oque fazer, mas eu me senti na obrigação de vir hoje.

- Eu também estou mal... - digo

- Eu sei Nick, eu sei... - diz ela mais pra si mesma do que para mim

E caminhamos em um triste e confortável silêncio pelo resto do caminho. Então enfim, chegamos no núcleo, ele não estava tão alegre como eu estava acostumada, todos estavam muito silenciosos e monótonos, até Bernardo e Guilherme quando me viram, andaram de forma triste e serena. Bernardo me abraçou com muita força. Não era por causa de Iran. Era por mim. Bernardo tem uma harmonia e união comigo tão forte que eu não preciso dizer uma palavra ele sabe dizer oque eu estou sentindo. Eu amo ele. E o abraço dele foi como uma luz na escuridão, Guilherme não me abraçou, ele não sabe como reagir em certas situações, mas aprendi a não ligar, ele tem dez anos de idade, seria maldade exigir certas coisas dele.
Enquanto eu caminhava para a parte de baixo para encher minha garrafa eu vi Stephanie, Meu irmão e Jasmin na casa amarela, eles estavam chorando e olhando para algo, quando cheguei um pouco mais perto eu vi oque era. Um tímpano com um texto escrito, com um título chamado Iran Figueiredo.

...

A aula foi normal, tirando pelo clima monótono e falta de risadas e falação alta.
No segundo horário fomos liberados após alguns discursos sobre luto e saudades de Iran. Muito integrantes só olharam, alguns entediados outros não se importavam muito, e também tinha aquele grupo de pessoas que choravam silenciosamente. Eu conseguia escutar os soluços de Stephanie e do Sas de onde eu estava, e pela organização da orquestra, eu ficava bem à frente deles.
Eu fui pegar meu lanche. Era pizza. Meu lanche favorito. Mas eu estava sem fome e dei ele pra Felipe. Felipe sabia o peso da situação e não brincava nem desrespeitava isso, mas ele não tinha nenhum tipo de vínculo com Iran, ele não estava exatamente triste mas sim chocado e levemente assustado com essa situação toda. Bernardo e Guilherme já tinham ido em bora é meu irmão também. Ele me deu um abraço meio choroso e soltou um "eu te amo..." baixinho, oque pra quem conhece ele é uma benção, ele não sabe demonstrar muito bem. Então sem vontade de ir para casa fiquei com Felipe meu outro irmão.  Deitei no colo dele e dormi, ele não falou nada, só apoiou seu braço em mim e me deixou dormir, me acordou de uma vez em outra enquanto eu estava tendo um pesadelo.
Então eu sonhei, sonhei que em minha frente tinha uma cama e em cima dela eu vi Guilherme morto.
E então meu irmão me acordou de novo.

- Guilherme vai morrer - Disse eu no susto

- Como assim? - Disse Felipe com o braço apoiado em mim ainda

- Eu sonhei que ele ia morrer. Ele vai morrer. Meu melhor amigo vai morrer... - Digo em desespero

- Nicole se acalma, isso foi só um sonho, como você pode ter certeza de que isso vai acontecer? - Fala ele tentado me acalma

- Meus sonhos sempre se realizam Lipe. Sempre - Respondo enfim me levantando

- Você só está assustada com a morte de Iran. - ele dá uma breve pausa - Se acalma, vai ficar tudo bem... - sussurra ele após me vê chorando

Eu deito no ombro dele em meio às lágrimas, ele tenta me confortar com um cafuné, mas meu irmão não é muito bom nisso. E em meio às lágrimas o sono vem, e novamente eu durmo.

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