Capitulo 8

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Eu estava na secretaria, tentava acalmar o meu irmão, oque era totalmente hipocrisia da minha parte já que quando cheguei em casa chorei tanto quanto ele.

Porque mais alguém tinha que morrer?

Eu sabia que Felipe era um suspeito, mas ainda assim eu queria ver ele. Eu precisava falar com algum irmão meu para tentar me acalmar por dentro. Mas o Sas estava desesperado e não seria justo eu ir falar com ele, Bernardo ainda estava abalado com a morte tão recente de Guilherme. Só sobrou Felipe.
Eu saí de casa com a permissão da minha mãe para passar a noite na casa de Felipe. Eu havia falado com a mãe e o padrasto dele antes de ir, mas não falei com ele.
Assim que cheguei na casa de Felipe, - que era tão longe da minha casa quanto a NLF. - eu bati na porta e gritei o nome dele. Ele veio atender, parecia surpreso.

- Nicole?

- Oi - Digo sem ânimo nenhum

- Porque não avisou que iria vir? - pergunta ele

- Eu avisei, mas não para você, eu falei com seus pais. - Respondo

Felipe fica quieto e me observa por um tempo. Ele percebeu que tem algo de errado.

- O que foi que aconteceu? - Ele pergunta preocupado

- Stephanie morreu... - Falo com a voz baixa e rouca

Ele fica em completo silêncio.

- Nicole - ele faz uma breve pausa - vai ficar tudo bem.

Aquilo me parecia uma promessa, só que uma que ele não podia cumprir.

- Não me prometa algo que você não pode cumprir Lipe. - ele me observa em silêncio. - posso entrar? Eu falei que eu vou passar a noite aqui para minha e para sua mãe.

Ele sai da frente da porta e faz um sinal para eu passar. Mas antes de eu entrar ele me pergunta se eu quero um abraço, - Eu e Lipe temos esse gesto como algo sagrado, nos abraçamos quando vamos nos ver, quando vamos embora e quando um dos dois está triste ou irritado. - eu aceito o abraço, eu amo os abraços de Felipe, porque ele sabe valorizar eles.
Eu entro na casa dele. Eu já tinha ido lá, sabia aonde era cada cômodo. Eu cumprimentei a mãe e o padrasto dele, eles dois pareceram perceber que eu estava bem mal então não tentaram puxar muito assunto.
Felipe me dá um lençol para cobrir o chão, um cobertor e um travesseiro.
Mas antes de dormir a gente ficou sentado na cama conversando.

- Nicole, você quer conversar sobre o que aconteceu? - Ele me olha com preocupação.

- Não. - Então eu me lembro. - na verdade quero.

Ele me olha curioso.

- Porque você ligou 7 vezes para Iran antes dele morrer? - pergunto de forma direta

Ele me olha como se eu estivesse pressionando ele.

- Como você sabe disso...? - pergunta ele aparentemente assustado

- Eu descobri. - respondo

- como? - pergunta ele

- Isso realmente importa Lipe? - Falo logo em seguida

Ele me observa, um tanto intrigado. Tentei analisar se havia medo nos olhos dele. Ele não estava com medo, mas também não estavas sentindo seguro.

- Eu senti que algo não estava certo. - Responde ele girando o fidget spinner, uma das poucas coisas que acalma ele em uma situação de stress.

- Porque? - Pergunto pressionando ele

- Eu não sei. - Diz ele em reposta a minha pergunta

- Como você não sabe Felipe? - Pressiono eu ainda mais

- Eu não sei tá bom, Nicole!- ele levanta o olhar, ele parecia tão assustado quanto eu. - Eu estou dizendo que eu não sei é porque eu não sei. Eu sei que você quer solucionar esse caso Nicole.

Eu olho para ele abismada e me sentindo culpada. Eu conheço Felipe muito bem, eu sei que ele tem mini explosões difíceis de conter, mas com o tempo eu aprendi a lidar com elas.
E principalmente por causa dessas mini explosões eu não poderia tirar ele da lista, Eu sabia como ele era com raiva. Ah, eu sabia muito bem...
Se realmente tiver sido Felipe, ele poderia me matar ali. Mas afinal por que ele faria isso? Se ele de fato me ama como uma irmã, ele com certeza não me mataria.
Minha mente dizia que ele era um suspeito.
Mas o meu coração dizia que ele era meu irmão.
Eu olho para ele, ele tinha se acalmado um pouco. Eu peço desculpa para ele, ele apenas me olha e assente.
Ele então de repente me puxa para um abraço. Onde eu choro. Choro como nunca tinha chorado antes. Ele me abraça com força, Lipe me entende de uma forma incrível.
Assim que eu paro de chorar eu me afasto do abraço, enquanto eu enxugo as minhas lágrimas, digo que está na hora de dormir e desço para minha (não tão) aconchegante cama temporária.

...

A mãe de Felipe tinha feito sanduíche para nós dois, eu não estava nem afim de comer, mas eu comi porque ela havia feito com tanto carinho que era impossível simplesmente olhar nos olhos dela e dizer que eu não iria comer.
Assim que eu comi o meu sanduíche eu me preparei para ir novamente para a escola.

- Você não quer faltar hoje? - Pergunta Felipe com um olhar preocupado.

Cacete, meu irmão me entende tão bem.

- Eu quero, mas é falta de educação ficar na sua casa se você não irá estar. - respondo

- Se você for ficar aqui em casa, eu fico também. - Afirma ele

Eu olho para ele com uma determinada animação. Eu não queria pisar na escola.
Eu respondo que eu vou faltar.
Nós dois faltamos na escola.
A mãe de Felipe mandou ele escolher um filme para eu e ele assistir. A gente escolheu um filme qualquer que a Netflix recomendou e ficamos assistindo.
Eu realmente não faço ideia de como minha visão sobre ele era tão diferente antes.
Eu sempre achei ele uma pessoa muito legal para se quer querer falar comigo, mas aí, de repente: BOOM! Irmãos de consideração.
Até hoje eu lembro da primeira pequena explosão de sentimentos de Felipe na minha presença. Não era diretamente comigo, mas eu estava envolvida também. Aconteceu algumas coisas que deixou ele bem irritado aquele dia, e então de repente ele começou a acelerar muito, MUITO. Eu não estava sozinha, estávamos voltando para casa em um pequeno grupo de pessoas. Eu lembro de ter sido a única que foi atrás dele. Felipe é meio alto, e eu sou meio baixa, então para ficar na mesma velocidade que ele estava foi um pouco difícil. Eu não falei nada, só pedi desculpa e pedi para ele esperar. Ele não me esperou, mas ele andou levemente mais devagar. Quando chegamos na esquina aonde a gente se separava, ele não me olhou apenas foi para o caminho dele. Eu esperei os outros chegarem aonde estava. Mas só sobrava uma pessoa os outros tinham ido para casa.

Aquela pessoa era Iran.

Foi comigo e Iran que ele tinha se irritado. Mais um motivo para Felipe ser suspeito? Não sei.
Eu  e Iran fomos brincando e rindo muito no caminho. Até que Iran olha para trás. E vê que Felipe estava vindo em nossa direção.
A gente fingiu que não viu, afinal é se ele ainda estivesse irritado? E se tivesse vindo para esse lado apenas resolver alguma coisa? A gente ia passar uma grande vergonha, então esperamos para vê se ele vinha falar com a gente.
Ele veio.
Ele pediu desculpa para mim e para ele. E foi nesse dia que aconteceu o nosso primeiro abraço com um significado por trás.
Não sei como eu comecei a falar com ele pra ser bem sincera. Lembro porque a gente ficou próximos. Mas eu não lembro porque a gente realmente começou a tão somente conversar.
Quando me dou conta o filme já estava quase no final.

- Lipe.

Ele me olha com atenção.

- Você lembra porque a gente começou a se falar? - pergunto

- Não. - ele volta a olha para a televisão

As vezes ele era meio seco mesmo, e nem é por ignorância, ele só é assim mesmo.

- Nicole, desculpa não ter te contado aquilo. Eu não sei como lidar com isso. - fala ele sem tirar o olho da televisão

Eu respondi que estava tudo bem. Mas isso era uma grande mentira.
Eu não queria ir para o núcleo, mas afinal eu ainda tenho Bernardo e o Sas para cuidar. E espero ter eles para sempre.

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