Capítulo 8 | Flores do jardim de Titia

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É o primeiro final de semana em meses, que eu não tenho nada para fazer. Não faz muito tempo desde que eu me formei, então lembro-me bem de como gastava meus dias de descanso queimando meus olhos na frente do notebook. Trabalhando no que deveriam ser os últimos detalhes do meu trabalho de conclusão da faculdade de história da arte. Fico aliviada por ter sido aprovada, mas agora que passou, sinto a ansiedade de não conseguir emprego por aqui.

Encaro meu rosto inchado na frente do espelho da pia, as noitadas pós adolescência sempre deixam nossas faces melancólicas pela manhã. Jogo um pouco de água gelada na para amenizar as olheiras, pego minha escova de dentes enquanto escuto o chiado da chaleira no fogão vindo da cozinha. Não estou com dor de cabeça, mas o barulho me incomoda a ponto de me deixar zonza. Ao descer para tomar café vejo titia preparando ovos na manteiga, ela está tão entretida escutando música que não nota minha presença.

Abro os armários e pego duas xícaras, ao fechar acabo batendo sem querer a portinha de vidro e titia vira a cabeça para mim.

— Já de pé, Val? Bom dia meu amor.— Diz titia rapidamente, voltando sua atenção para a frigideira novamente.

— Bom dia tia, o que temos de bom para o café?— Coloco as xícaras na mesa e observo as comidas dispostas nela procurando algo para juntar com os ovos.

— Acabei aqui com os ovos, temos pão de forma, queijo e café preto. Ah, o leite acabou ontem, então é só isso mesmo. — Ela se senta na mesa de frente para mim.

— Tudo bem tia, segunda eu compro mais. — Coloco um pouco de café na minha xícara e acabo deixando algumas gotas caírem sobre a toalha de mesa branca. Não é a primeira mancha dela, graças a mim é claro, nossa mesinha redonda também tem sua madeira manchada por debaixo desse tecido branco, das minhas peraltices com tinta à óleo no terceiro semestre da faculdade.— Juro que se eu for contratada eu compro uma mesa nova, e uma garrafa de café nova que não pingue café por todo lado!

— Eu não tenho dúvidas que você vai ser contratada, — titia sorri para mim expressando confiança — mas não troque a mesa, sua mãe que me deu ela depois que se casou com seu pai. Era a mesa de solteira dela, da época que ela morou sozinha.

— É uma guerreira sem dúvidas — fito com o olhar um dos pés da mesinha, que tem um calço de papelão para não ficar instável.

— E aí, como foi lá ontem a noite? Bebeu demais? — diz ela tomando um gole do seu café me encarando com curiosidade.

— Ah...Nem me fale. Quer dizer, foi ótimo, lá é um ambiente bem confortável. Um dia desses te levo lá para tomarmos vinho. — faço uma pausa para morder um pedaço de pão com ovo.

— Conta, o que aconteceu lá, hein? Você tá com uma cara de poucas amizades, cruzes!

— Não saía faz um tempo, precisava ir com calma na bebida, mas acabei não me segurando. Mas, foi muito divertido sem dúvidas, sempre quando eu saio com a Sophie ela me mata de rir. — Tomo um gole de café da xícara de porcelana.

— Só saiu você e a Sophie? Não encontrou nenhum conhecido por lá? — titia sorri maliciosamente.

Encaro ela por um momento, eu respiro fundo antes de responder. — Até que sim... mas ele é concorrente, não posso ficar interagindo com alguém que pode pegar minha vaga de emprego — brinco.

Titia sorri e balança a cabeça em concordância — Você está certíssima. Confraternizar com o inimigo? 'Nah'. Mesmo se ele for um gostosão, você tem que focar. — Debocha, sorrindo com o canto da boca.

— Isso mesm--Peraí o que você disse?— Encaro sua face brincalhona, titia é bem mais madura que eu, mas solta uns comentários às vezes, como se tivesse minha idade. Deve ser a convivência.

Um Estranho conhecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora