Capítulo 9 | Os estagiários, a cantina e o sofá vermelho

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Pela manhã do dia seguinte, me apronto para ir ao mercadinho que fica perto de casa. Enquanto estava passando as compras no caixa, recebo uma mensagem de Sophie. Ela me pergunta que horas ela deve passar lá em casa. Assim que soube que fui aceita para o estágio, ela se comprometeu a me dar uma carona no meu primeiro dia. Fiquei aliviada com a proposta, porque provavelmente iria chegar no museu toda suada, não pelo calor, mas sim por estar nervosa. Chegando em casa, titia me recebe mostrando uma camisa branca pendurada em um cabide. É uma camisa bem vintage, muito bem preservada e com os botões recém trocados.

— Tome, Val. Eu usei essa camisa no meu primeiro dia no escritório de arquitetura, vai te dar sorte pro seu primeiro dia! — Ela tira a camisa do cabide e a segura próximo a mim, analisando o caimento.

— Valeu, tia, vou usar sim, pode deixar. — Toco o tecido e ele ainda está quente, provavelmente ela passou a camisa enquanto eu estava fora.

Depois do café da manhã, as horas passaram voando; não conseguia parar quieta em um só lugar. Dedos batendo sobre a mesa, perna inquieta, suspiros e o pulso acelerado. Assim que comecei a me arrumar, decidi combinar a camisa de titia com uma calça de alfaiataria preta, bem larga e de cintura alta. Sem sapato de salto! Queria me sentir ao menos fisicamente confortável, já que a minha inquietude interna não parava. Me olho mais uma vez no espelho, percebo que meus cachos estão amassados. Decidi então prender meu cabelo em uma trança lateral. Assim que termino de calçar meu mocassim, ouço a buzina do carro da Sophie, me apresso em sair logo de casa.

— E aí, ansiosa estagiária? — Diz Sophie inclinando a cabeça para fora da janela. Eu não digo nada, apenas dou um sorriso em resposta. Durante o percurso, Sophie me aconselhou a sempre ser agradável e comunicativa com os demais estagiários. Na mente dela, qualquer um ali poderia acabar sendo promovido, e que se eu fosse gentil com a pessoa certa, certamente iriam me ajudar também. Apesar de ser uma gentileza disfarçada de conveniência, errada ela não está. Acabei por passar praticamente a viagem toda sem falar muito; em algum momento Sophie deve ter percebido, porque quando chegamos ela saiu do carro para me dar um abraço e desejar boa sorte.

Ao subir as escadarias do grande museu, não evito olhar para os lados procurando por um certo rosto. Vou até a recepção procurar saber onde fica a sala dos recursos humanos, espero ser atendida pois há alguém na minha frente. Fico olhando para a entrada enquanto a moça da recepção fala com um rapaz de camisa cinza.

— Obrigada amiga! Ah, e mais uma coisa, você sabe onde fica a sala do RH? — Diz o rapaz com uma certa intimidade com a recepcionista. Ele deve ser um dos finalistas para a vaga também.

— Fica lá no segundo bloco, depois das exposições tem a área da gerência. — Parece que eu nem vou precisar perguntar, me viro em direção ao fim das exposições enquanto eles dois ainda conversam. Apesar de ser uma segunda-feira, o museu está cheio de pessoas. Consigo ver turmas de alunos de colégios diferentes, e até mesmo grupos de turismo guiado. Esse museu é mesmo um lugar maravilhoso; sempre vinha para cá quando tinha tempo na época da faculdade. A sessão de ciências naturais é a minha preferida, apesar de não ser exatamente da minha área. Os quadros e monumentos artísticos também são lindos, mas não há artes nacionais ou feitos por artistas locais. A maioria foi trazida de fora até mesmo do continente, o que me deixa um pouco triste. Uma vez quando contei isso em uma roda de conversa, meus colegas de sala me acharam arrogante, imagino que eles devem ter pensado que eu estava desdenhando dos artistas de renome. Mas na realidade, é que eu só queria ver algo diferente mesmo, nada além disso.

Seguindo pela área da gerência, acho uma sala com o nome da mulher que me ligou ontem, "Melissa Gomez, Gerente Sênior de Recursos Humanos". Bato na porta antes de entrar, ouço uma voz falando para eu entrar.

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⏰ Última atualização: Jan 28 ⏰

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