➳ 𝘤𝘩𝘢𝘱𝘵𝘦𝘳 𝘴𝘦𝘷𝘦𝘯𝘵𝘦𝘦𝘯

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Ao anoitecer, sem que ninguém notasse, o grupo esquivou-se dos dormitórios para colocar o plano em prática. Antes de partirem, Evie entregou uma muda de roupas para Florence e pediu para que as usasse enquanto estivessem na Ilha. Seu visual consistia em jaqueta e calças de couro, assim como um coturno preto. Apesar de nunca ter usado roupas de couro antes, Florence havia gostado de suas roupas.

Já dentro da limusine, seguiram em silêncio pela ponte mágica que fazia ligação entre Auradon e a Ilha dos Perdidos. A tensão era notável. Enquanto Evie parecia nervosa, Ben olhava para o nada, provavelmente perdido em seus próprios pensamentos. Carlos estava sentado ao lado de Florence, segurando sua mão. 

Ele mal havia acreditado quando soube que ela também iria, sua preocupação atingiu níveis que nem mesmo ele sabia que existiam. Mas Florence era teimosa e não deu o braço a torcer, mesmo com Jay tentando lhe advertir sobre os perigos daquele lugar.

— Lembra do que conversamos? — Carlos perguntou tanto para Florence como para Ben, que pareceu despertar de seu transe. — Não agradeçam, não sejam educados. Se esbarrarem em alguém não peçam desculpas. É assim que as coisas funcionam por lá.

Evie assentiu com a cabeça.

— Vamos fazer de tudo para não chamarmos atenção. — Completou.

Pouco tempo depois Jay estacionou o carro em um dos inúmeros becos que ali existiam. Florence sentiu a mudança de ambiente. Era tudo tão cinza e sem vida, chegando até mesmo a ser um pouco mórbido. Os prédios, as pichações nas paredes, a inusual umidade... Tudo isso lhe fez arrepiar ao primeiro ver. Mas não se importou, tinha coisas mais importantes para fazer.

Rapidamente, cobriram o carro com panos velhos. 

— É muito estranho estar de volta. — Evie comentou. Sua voz era fraca.

— Já vamos dar o fora. — Jay forçou um sorriso.

Ben aproximou-se uma espécie de cano enferrujado que parecia ser a passagem para algum outro lugar. Curiosa, Florence aproximou-se dele. O som de água batendo em algum lugar era nítido.

— O que tem aqui dentro? — Ele perguntou.

— Deixa quieto. — Jay respondeu, puxando-o pelo braço.

Carlos respirou fundo.

— Cabeça fria. — Ele disse. — Não queremos que nossos pais saibam que estamos aqui.

A Ilha era pior do que Florence havia ouvido falar. Havia lixo jogado em cada canto pelo qual passaram. Pessoas com olhares de desesperança, vivendo em condições miseráveis. A garota sentiu seu coração pesar somente de pensar que fora ali que Carlos passou a maior parte da vida; não só ele, como Evie e Jay também.

Ninguém merecia passar por aquilo, sendo um vilão ou não.

Enquanto andavam rumo ao desconhecido, Florence tentava manter a cabeça baixa e não fazer contato visual com ninguém. Uma atitude idiota porque, ao passarem por uma multidão, acabou se perdendo do resto de seus amigos. Um pânico crescente começou a surgir em seu peito. Seus olhos tentavam encontrar algum sinal deles, porém sem sucesso.

Para não ficar tão exposta, Florence decidiu adentrar o primeiro beco que encontrou. Seguindo por ele, acabou percebendo que o caminho lhe levava para lugar nenhum. Quando virou-se para o outro lado para voltar onde estava anteriormente, levou um grande susto ao notar que havia alguém ali. Uma velha com cabelos brancos e rosto fino, quase cadavérico.

— O que a garota está fazendo aqui? — Ela perguntou. Sua voz era tão doce que Florence arqueou as sobrancelhas, surpresa. — Sozinha?

— Nada, eu... — Florence limpou a garganta para soar mais confiante. — Quer saber, isso não é da sua conta.

Falar assim era tão estranho.

— Ah... A garota é corajosa. — A mais velha respondeu. Por que diabos ela era tão familiar? — Tudo bem, perguntei somente por curiosidade. — Seu olhar mudou como se tivesse percebido algo de errado. — Seu cabelo... 

— O que tem? — Florence perguntou na defensiva.

— É familiar... — A velha murmurou, aproximando-se perigosamente da garota.

— Não... Eu acho que não.

De repente, seu olhar mudou de novo. Agora era um misto de surpresa misturado com raiva, ódio e muito ressentimento. 

— Você! — Ela exclamou. — O que está fazendo aqui?! E como continua tão nova...?

Foi então que Florence enfim reconheceu-a de uma vez por todas. Não tinha modo de fingir-se de durona diante da maior inimiga de sua mãe, aquela que havia se aprisionado por dezoito anos em uma torre. Aquela que quase matou tanto ela como seu pai. Vendo que a garota não lhe respondeu, Mamãe Gothel ponderou outra coisa. 

— A não ser... Você é a filha dela?! — Exclamou. — O que diabos veio fazer aqui?!

— Eu...

— Sua mãe e seu pai... Arruinaram minha vida! — A cada palavra que proferia, seu ódio parecia aumentar cada vez mais. — E você... Você ainda tem coragem de vir até aqui...?! — Florence desviou o olhar um pouco mais para baixo. Sua respiração falhou quando viu-a segurando uma adaga. — Fui eu quem foi aprisionada por vinte e um anos nesse fim de mundo!

— A culpa não é deles! — Florence exclamou. — A culpa é sua!

— A culpa é minha?! — Gothel avançou, desferindo um golpe com sua adaga. Florence conseguiu proteger-se colocando os braços na frente do rosto porém, mesmo assim, foi ferida. Uma dor insuportável alastrou-se pelo seu braço direito. A cada passo que dava para trás, a mais velha lhe acompanhava, até estar sem saída alguma. — Vou terminar o que não consegui da última vez...

Florence apenas teve tempo para esperar por uma facada certeira. Entretanto, alguém chegou e conseguiu nocautear Gothel, que apesar de ter tentado lugar, acabou desmaiada no chão. A garota olhou assustada para a pessoa que havia chegado.

— O que ela disse é verdade? — O rapaz perguntou. — Você é filha da Rapunzel?

— E quem é você? — Florence perguntou num sussurro. A dor tirava toda a força que ainda lhe restava. A manga de seu casaco pouco a pouco ganhava uma coloração avermelhada até o instante que seu próprio sangue pingava no chão.

— Venha. — Ele disse, fazendo menção com a cabeça para que ela o seguisse.

— Não vou com você.

— E que outra opção você tem? A menos, claro, que queira sagrar até a morte.

Infelizmente ele estava certo.

— Posso... Ao menos saber seu nome? — Ela insistiu.

O rapaz virou-se e deu-lhe um sorriso convencido. Numa falsa reverência, tirou o chapéu. Galanteador, pegou sua mão e beijou-lhe. Florence franziu o cenho.

— Harry Hook. — Disse. — Ao seu dispor, princesa.

𝐈 𝐒𝐄𝐄 𝐓𝐇𝐄 𝐋𝐈𝐆𝐇𝐓 • carlos de vilOnde histórias criam vida. Descubra agora