Ayla vê sua vida solitária ser abruptamente sacudida por um evento incomum. E com esse evento um soldado mascarado de dois metros um tanto enigmático, surge em sua vida.
Conflitos pessoais e o despertar de sentimentos que ela tentava reprimir, Ayla...
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- Ela está ferida?
Escuto uma voz abafada e grossa, com sotaque que não consigo identificar.. Quando abro os olhos, estava rodeada por luzes brancas e um zumbido familiar de um ambiente hospitalar. Minha cabeça latejava com o som dos aparelhos ao meu redor. Levei alguns instantes para me lembrar do que tinha acontecido.
As imagens dos momentos no banco inundaram minha mente, e um arrepio percorreu meu corpo. Abracei meu corpo, e com meu movimento uma mulher com roupas azuis que estava conversando com um homem alto com roupa militar, aproximou-se quando percebeu que eu estava consciente.
Ela murmurou algumas palavras para o soldado que estava conversando antes:
- Ela está bem, só está em estado de choque!. disse ela.
Minha voz saiu fraca quando tentei perguntar sobre o que aconteceu. A enfermeira hesitou por um momento.
- Houve um incidente grave no banco. Houve tiroteio. Você foi encontrada desmaiada no chão - explicou com cuidado, tentando manter um tom tranquilo.
Lembrei-me dos olhos vazios do jovem, da sensação do sangue em meus pés, da confusão e do caos.
Só quero minha casa, quero ver meu gatinho e abraçar minha vira lata. Tento sair da maca, mas quando estou prestes a me levantar e sair desse lugar mais rápido possível, o grande homem dá dois passos largos ao meu lado.
- Senhora, está tudo bem? - pergunta o avatar.
Essa voz me lembra do meu personagem preferido do jogo de FPS que passo a maior parte dos meus dias e noites jogando com meu amigo. Ele é um dos motivos por que não consigo tirar meus olhos da tela do computador. Acho que fiquei um pouco obcecada por ele.
As vezes me sinto culpada por isso, estou por muito tempo sem ver um ser humano, principalmente do sexo masculino. E o Koni, o personagem do jogo é bem estereótipo de soldado gostosão, isso ativa muitas coisas no meu corpo.
Parando pra reparar, esse soldado é parecido demais com o Koni. A altura, a voz e até o pano que tampa seu rosto é idêntico ao dele. Estou vendo coisas. Começou a sorrir estranhamente. Deve ser sintoma pós traumático. Estou vendo o Koni porque me conforta. Essa coisa de trauma é séria.
- Não, estou bem! - respondo com um sorriso sem graça. Consigo sair da maca e tento me afastar do avatar que está na minha frente.
Sinto meus pés no chão gelado, ainda com resquícios do sangue daquele garoto. Sinto o olhar do soldado sobre mim e me viro.
- Então, preciso ir - digo mais uma vez com um sorriso sem graça, e tento correr ainda mais longe daquele poste de dois metros.
Preciso sair desse lugar. Olho pros lados e só vejo caos e sangue. Pessoas chorando, gritando, barulhos de sirenes e macas saindo e chegando.
Minhas mãos começam a suar frio, meu coração está começando a virar uma máquina de lavar roupa. Preciso ir para minha casa, antes que tenho um ataque aqui.
Tento sair pela porta principal do hospital mas é impossível de passar pelos repórteres com suas câmeras maiores que eles e pelas pessoas feridas que iam chegando e parentes em prantos.
Enquanto eu lutava para afastar a sensação de pânico crescente, senti meu corpo começar a tremer descontroladamente.
A agitação ao meu redor só intensificava minha ansiedade. Parecia que o mundo estava se fechando ao meu redor, e eu estava prestes a desmoronar.
Minha visão está turva. Meus olhos começam a arder e deixam líquidos salgados saltarem por eles. Me ajoelhou em meio aquele caos,tampo meus ouvidos e fecho meus olhos, para assim ter uma esperança que tudo aquilo pare.
Sinto uma respiração quente perto do meu rosto. Isso me dá mais um motivo para não querer abrir meus olhos.
- Capitão preciso pegar testemunho de outros civis, os coxinhas estão pedindo - Escuto uma voz masculina mais fina falar ao fundo.
