Se o Tate me odiava antes com certeza ele me odeia agora que a sala toda tem os olhares voltados para nós após eu chamá-lo de "pinto pequeno".

A nossa sorte é que a sala parou de olhar pra gente instantaneamente. Eles voltaram a ser escandalosos e irritantes. Provavelmente estavam falando do que acabou de acontecer mas isso não importa.

Tate se vira para mim novamente, dessa vez está muito perto. Perto o suficiente para que eu possa sentir o ar quente que sai de sua boca bater no meu rosto.

-Talvez eu mostre pra sua mãe que meu pinto não é tão pequeno.

Eu levanto da cadeira e fico de frente para ele, estou fervendo em puro ódio. Ele tocou no meu ponto fraco.

-Nunca cite a minha mãe seu bosta!

Ele se levanta também, ficamos extremamente próximos e apesar de sua altura que é bem maior que a minha o que me causa um frio na barriga, eu permaneço mantendo o olhar fixo nos olhos dele.

Ele se prepara para retrucar mas logo o professor aparece ao nosso lado.

-Vocês já se conhecem?

Eu e Tate o respondemos ao mesmo tempo. A diferença é que eu disse "não" e ele "sim".

O pobre do professor, perdido na situação faz outra pergunta:

-Está tudo bem por aqui?

Eu e Tate respondemos novamente em um único som. "Sim", nós dissemos.

O professor percebe que não está tudo bem mas prefere evitar a exaustão mental que isso geraria a ele.

-Bem, sentem-se os dois. Vamos começar a aula.

Eu e Tate lançamos um breve olhar mortal um ao outro e nos sentamos enquanto uma mulher coloca uma bandeja com um sapo morto e utensílios para disseca-lo na nossa frente.

A sala toda parece muito animada em abrir um sapo. Psicopatas.

Tate puxa a bandeja um pouco mais para o lado dele. Não vou protestar contra isso. Se ele tá tão ansioso pra fazer isso, que faça.

Pensando bem talvez ele só me ache fraca para fazer isso. Eu posso deixar esse pequeno detalhe bobo de lado? Sim, eu posso. Agora, eu fazer isso? Não, sou muito orgulhosa pra isso.

Eu volto a bandeja para o centro. Ele olha para mim com um olhar frio.

-Garota tola...

Ele fala baixo, quase num sussurro. Eu pretendo ignora-lo então olho para a bandeja e não posso conter o pensamento:

-Como eu queria enfiar essa faca na sua garganta...

Ele dá um sorriso que parece ter um certo sarcasmo. Espera... Eu disse isso em voz alta!? Ou eu só pensei mesmo? Bom ele não falou nada então acredito que eu só tenha pensado mesmo.

-Primeiramente...

Droga ele me escutou e está retrucando. Ele pega o bisturi da bandeja.

-...isso é um bisturi e não uma faca.

Ótimo... Eu realmente disse em voz alta. Tem como esse dia piorar?

Tate vira o bisturi na mão apontando o cabo dele para mim e ficando com a lâmina virado para si mesmo. Ele volta a falar:

-E segundo, se quiser me matar vá em frente, não é como se eu não desejasse.

Nossa... Além de babaca é suicida. Não vou mentir, eu me identifiquei bastante.

Ele e eu ficamos em silêncio então voltamos a prestar atenção na aula.

Eu estou voltando para casa com os fones nos ouvidos. Eu e Tate não nos falamos pelo resto da aula e eu passei o recreio sozinha como a boa anti-social que sou.

Eu estou escutando "enter Sandman (Metallica)". Posso ver Tate mais a minha frente, ele parece andar um pouco mais rápido, talvez por suas pernas serem mais longas ou então só não quer ficar perto de mim.

Eu e ele atravessamos a rua e eu pego minha mochila para procurar a chave quando para na frente de casa. Eu deveria deixar ela num lugar mais acessível. Eu procuro a chave dentro da mochila até que escuto um grito de uma garota.

Olho para a esquerda e vejo uma garota correndo na direção de Tate. Ele sorri e abraça ela. Posso escutar uma mulher gritar "Adelaide" de dentro da casa.

Tate abraça essa garota com muito carinho. Eu dou um sorriso meio bobo. Talvez ele não seja tão ruim.

Ele começa a caminhar para dentro da casa com a garota. A mesma mulher que vi brigando com ele ontem sai da casa e puxa a garota para dentro com agressividade. Para quê!? A garota não fez nada de errado.

Tate caminha até a porta da própria casa e olha em volta. Antes que ele olhasse em minha direção eu voltei a procurar pela chave na mochila e a encontrei. Assim que olho de volta para a casa percebo que os três já não estão mais lá.

Eu entro em casa e tranco a porta. Vejo minha mãe desempacotando as coisas. Já dá pra ver uma grande diferença na casa. Tipo, uma GRANDE diferença!

-Oi mãe.

Ela olha para mim, ela está ofegante. Quando minha mãe pega para fazer algo ela não para.

-Oi filha.

Ela diz com a voz fraca e senta no sofá e continua a falar:

-Como foi na escola?

Eu sento no sofá ao lado dela.

-Normal.

"Normal", é literalmente isso que eu falo toda vez que ela me faz essa pergunta.

-Fez algum amigo?

Eu não me contenho e dou uma risada curta. Já não sou de fazer amigos mas dessa vez acaba que eu consegui um inimigo.

-O que? Por que está rindo? Não arranjou encrenca né?

Eu levanto sem olhar para ela.

-Não mãe, relaxa.

Eu vou para o meu quarto. Fecho a porta jogando a minha mochila num canto aleatório.

Eu coloco uma música alta na caixa de som, "who wants to live forever (Queen)". Que nem eu sempre digo, para mim é só preciso de quatro coisas para sobreviver, alimento, água, oxigênio e música.

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