🔸 Desafio ao Quadrado 🔸

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  Eu não sabia como aquilo podia piorar.

Assim que cheguei em casa, entrei pela porta da frente. Com a perna latejando, escalar até a janela do meu quarto era impossível. Cada movimento fazia a dor pulsar ainda mais forte, mas mesmo assim, eu não contei nada para minha mãe ou para o vovô. Eles já estavam preocupados demais, e a última coisa que eu precisava era de mais um interrogatório — e das centenas de perguntas que viriam junto.

Dava para imaginar a reação de cada um deles. Se eu falasse sobre a queda ou o skate quebrado, minha mãe ficaria paranoica, tentando controlar cada segundo que eu passasse fora de casa, enquanto o vovô... Bom, ele provavelmente ficaria decepcionado, questionando se eu realmente sabia me cuidar. Eu não queria ver esse olhar de novo. Não suportaria.

Higienizei e enfaixei minha coxa, onde o corte havia sangrado bastante, mas não o suficiente para precisar de pontos. Além disso, um arranhão no antebraço e outro profundo no ombro, que se estendia até as costas, eram marcas visíveis da perseguição.

Quando entrei no banho, o ardor tomou conta; a dor fez minha alma parecer sair do corpo, cada gota de água como se fosse uma chama.

  No dia seguinte, eu voltaria ao colégio depois de uma semana afastada, então precisava ao menos aparentar estar bem.

  Admito, estava tensa. Mamãe nos levou de carro até a escola, e eu, sem o skate, sentia falta de uma válvula de escape. Enquanto dirigia, ela não parava de lançar olhares preocupados, murmurando que eu deveria ficar fora de confusões, e me fez jurar isso pelo menos três vezes no trajeto curto até lá. Além disso, eu estava com uma calça mais confortável e uma blusa de manga, para esconder o machucado.

Quando paramos, dei um suspiro profundo antes de sair. Meu irmão também desceu ao meu lado, finalmente sem as muletas — um alívio, já que ele era capaz de andar sem risco de tropeçar a cada dois passos.

Logo na entrada, senti os olhares atravessados dos estudantes. O Ethan se incomodou, tentando escapar do meu lado.

— Precisa mesmo vir comigo? Eu posso ir sozinho! — Ele tirou minha mão do ombro dele, visivelmente irritado.

— Mamãe me fez prometer que cuidaria de você também, lembra? — falei, frustrada.

Eu sabia que ele detestava a ideia de ter uma babá, principalmente eu, a quem metade do colégio parecia odiar. E o Ethan... ele se importava demais com sua imagem para andar comigo, especialmente com o que isso significava para seus status sociais. No entanto, quando nos aproximamos da sala dele, ele insistiu em entrar sozinho, e eu, mesmo contrariada, deixei-o ir. Observei-o de longe, enquanto ele reencontrava seus amigos.

Suspirei, tentando me preparar para a minha própria entrada.

Andei direto até a sala, evitando os corredores lotados e as fofocas, e finalmente cheguei ao meu destino. Manon já estava sentada no mesmo lugar de sempre. Quando me aproximei para sentar ao lado dela, uma perna apareceu na minha frente, barrando o meu caminho. Era a Jéssica, claro. Ela me analisou de cima a baixo, aproveitando cada detalhe da minha aparência destruída.

— Já tem gente aqui. Por que não vai sentar lá atrás com o esquisito? — ela debochou, e o grupinho dela riu em sincronia.

Olhei para o "esquisito", que era Red. Ele estava sentado ao fundo, rabiscando a carteira com um palito, como sempre. Manon, indignada, tirou a perna de Jéssica do banco.

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