À noite, as estrelas brilhavam sobre Harborview, iluminando a festa ao ar livre, típica do interior. Mesas de madeira rústica, cheias de comidas regionais, cercavam uma fogueira central, enquanto flores silvestres decoravam o local. Risos de crianças ecoavam ao redor dos brinquedos infláveis, e os adultos conversavam animadamente. Era difícil acreditar que aquela cidade havia passado por tantas tragédias.Ao chegarmos, trouxemos mais comida para somar à fartura, feita de última hora. A decoração estava realmente bonita, como meu avô havia comentado, explicando que era tudo ideia do prefeito para distrair a população das recentes mortes. Embora eu apoiasse a ideia, não estava muito animada para estar ali.
Uma mulher foi a primeira a nos receber com um sorriso radiante, pegando a torta de maçã das mãos da minha mãe.
— Que bom que vocês vieram! Aproveitem a noite, crianças! — disse Sarah, já puxando minha mãe para uma conversa animada.
Meu avô olhou para mim e Ethan antes de se afastar.
— Fiquem por perto, mas se divirtam... E cuidado, principalmente você! — Seu olhar preocupado se fixou em mim.
Deixando o vovô para trás, comecei a andar com Ethan pela festa, que tinha dificuldade por conta das muletas. Vesti algo simples, minha roupa era composta por um vestido de algodão preto, leve e esvoaçante, que caía até o meio das minhas coxas, com uma fita azul marinha na cintura. Ele tinha um decote discreto, mas o suficiente para atrair alguns olhares. Usei sandálias baixas e meus cabelos soltos caíam em ondas, tocando meus ombros.
Enquanto andávamos, eu percebi alguns olhares de garotos em diferentes grupos que se dirigiam a mim, e a sensação era estranha, mas não desagradável.
Ethan, que estava ao meu lado, percebeu os olhares e franziu a testa. Ele já estava devorando um doce, mas a expressão em seu rosto indicava que não estava nada contente.
— Para quê contratam esses palhaços? Eles ficam muito melhor em filmes de terror do que para "animar" as crianças — comentou ele, tentando desviar a atenção da situação.
— Você gostava de palhaços, Ethan. Um dos seus aniversários até foi de circo — respondi, relembrando-o de um passado tão cômico.
Lembro que, nesse aniversário, ele foi segurado por um palhaço tão desastrado que acabou derrubando a cara dele em cima do bolo depois dos parabéns. Esse foi, talvez, um dos motivos pelos quais ele detestava palhaços. Com certeza, era um dia que ele ainda se lembrava.
— Era porque eu não sabia quem eles eram de verdade. Além disso, eu não sou mais criança — ele insistiu, cruzando os braços.
— Você só tem doze anos — retruquei.
— Mas eu vou fazer treze daqui a um mês! Então eu praticamente não sou mais — disse, com a maior seriedade.
Virei o rosto, rindo dele. Cada vez que ele dizia isso, parecia mais infantil, mas eu amava esse lado dele. Enquanto caminhávamos juntos, Ethan avistou um brinquedo de tiro ao alvo e enlouqueceu.
— Olha! Eu quero ir!
— Como você vai jogar assim? — perguntei, levantando uma sobrancelha.
— Eu me viro! Não conte para a mamãe.
— Ou o quê?
— Está esquecida daqueles caras que estavam no seu quarto...
— Tá! Tanto faz! Só não suma da minha vista! — respondi, irritada por me permitir ser chantageada por um garoto de doze anos.
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Código dos Mortais
Mystery / ThrillerQuando a família Hudson decide se mudar para Harborview, uma pequena cidade no interior, em busca de uma vida tranquila e distante do trauma que sofreram pela perda do pai. Eles só não imaginam os horrores que os aguardam. Logo após sua chegada, uma...