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Mantenho meus olhos fixos na cena em minha frente, pensando em qual seria a reação dele ao saber que tem uma filha.

Ele ficaria alegre ou odiaria a notícia?

Ele seria capaz de ama-la mesmo nunca tendo realmente me amado?

E Jiwoo, o que acharia de, depois de cinco anos, finalmente ter um segundo pai?

Ela entenderia meus motivos para tê-lo escondido dela por tanto tempo ou me odiaria por isso?

Apenas pensar nessa possibilidade acaba comigo.

Eu jamais seria capaz de suportar o ódio de minha própria filha, pessoa que eu mais amo nesse mundo.

Desperto de meus devaneios ao ouvir a voz suave de Jiwoo chamar por mim.

─ olha papai, eu fiz um boneco de neve! ─ ela exclama sorrindo de orelha a orelha, batendo palminhas.

─ correção, nós fizemos um boneco de neve estrelinha ─ Sunghoon intervém, arrancando uma gargalhada da pequena. Por algum motivo, ouvi-lo chamando Jiwoo de estrelinha me deixou nervoso, ao mesmo tempo que aqueceu meu coração. Ele ainda lembra que eu costumava ser a sua lua?

─ é o boneco mais lindo que eu já vi ─ elogio ─ mas acho que está na hora da senhorita entrar. Está esfriando bastante.

─ tudo bem, eu estava mesmo com vontade de brincar com a casinha de bonecas que o tio Sunoo me deu ─ ela sorri se aproximando ─ não apronte nada enquanto eu não estiver por perto ─ ela brinca me fazendo rir.

─ eu prometo ─ junto nossos mindinhos com a intenção de selar a promessa e ela sorri satisfeita, adentrando o chalé em seguida.

─ ela é a criança mais esperta que eu já vi ─ Sunghoon comenta vindo até mim em passos hesitantes ─ ela claramente puxou a você.

─ não posso discordar ─ sorrio fraco ─ eu me orgulho muito dela ─ pontuo ─ obrigado por ajuda-la ─ agradeço com sinceridade.

─ foi um prazer ─ ele sorri ─ ela é maravilhosa ─ suas palavras são doces e carinhosas e me pergunto se soariam da mesma forma se ele soubesse a verdade. Logo, um silêncio constrangedor se instala entre nós.

A sensação de estar tão perto e ao mesmo tempo tão longe de uma pessoa é, de longe, uma das piores.

As coisas costumavam ser naturais e fáceis entre Sunghoon e eu, mas agora... Tudo parece perdido.

─ acho que nós precisamos conversar ─ ele quebra a tensão que havia entre nós e eu apenas assinto, seguindo-o para dentro da casa ─ sei que nada do que eu disser vai tornar as coisas mais fáceis ou menos dolorosas, mas mesmo assim, você merece uma explicação ─ ele inicia, sentando-se no sofá de sarja cinza, de frente para mim.

─ sim, eu mereço uma explicação ─ concordo, cruzando meus braços ─ eu sei que seu pai recebeu uma oferta de emprego maravilhosa em Londres. Sei também que ser aceito em Oxford é algo extraordinário, mas nada disso justifica você ter ido sem me avisar. Sem se despedir ─ desabafo em um suspiro ─ você nem se quer me ligou!

─ foi necessário, Jake. ─ sua voz soa culpada, me deixando confuso ─ esses não foram os únicos motivos que me levaram a ir embora. Acredite, Jake, tudo o que eu queria era ficar com você, mas eu não pude.

─ queria ficar comigo mas nunca foi capaz de dizer em voz alta. Se essa realmente fosse a sua vontade, teria lutado por isso ─ interrompo, sentindo meus nervos a flor da pele.

─ eu sei que errei muito com você. Me desculpe por não ter dito que te amava quando eu sabia que sim. E me desculpe por ter desistido de nós quando você não desistiu ─ ele me olha nos olhos e mesmo que eu não queira, sinto que posso confiar em suas palavras, por isso, o deixo prosseguir ─ você me fez sentir como nenhuma outra pessoa nunca conseguiu. Você me permitiu enxergar o mundo de uma maneira diferente. Você me fez reaprender a amar e isso me assustou. Eu não me despedi de você porque sabia que se te visse uma última vez, eu não conseguiria ir embora.

─ eu nunca quis que você fosse ─ murmuro, sentindo meus olhos marejarem.

─ eu também não queria ir, Jakey, mas foi melhor assim ─ nego freneticamente, me recusando a concordar com suas palavras ─ eu te amava Jake. Na verdade, nunca deixei de amar ─ suas palavras me deixam em choque. Olho para ele buscando algum resquício de mentira e suspiro ao não encontrar nada.

─ se me amava, por que me deixou tão facilmente? ─ tento ignorar sua última fala, não conseguindo acreditar que realmente havia escutado aquilo.

─ te deixar foi a coisa mais difícil que eu já fiz, mas foi também a mais segura no momento ─ ao notar minha expressão confusa, ele se apressa em continuar ─ naquela época, minha mãe reapareceu e junto com ela, trouxe vários problemas. Ela estava com um cara perigoso. Era um relacionamento abusivo, por isso ela queria terminar, mas quando ele soube disso não reagiu bem ─ ele suspira fechando seus olhos, demonstrando que aquele não era um assunto fácil ─ ele disse que, se um dia ela o deixasse, estaria matando a todos que ela um dia amou. Ele iria matar não só a ela como também a mim, meu pai e meu irmão ─ conta, deixando uma lágrima solitária escapar. Mesmo ainda magoado com ele, eu queria abraça-lo. Queria consola-lo, mas não éramos mais próximos a esse ponto. Longe disso, na verdade ─ ela não foi uma boa mãe nem uma boa esposa, mas não era uma assassina, então ela nos procurou e nos avisou sobre as ameaças dele. O mais seguro no momento era ir embora ─ assinto em compreensão.

Pela primeira vez, eu pensava no assunto e enxergava mais do que um quadro em branco.

─ eu não fazia ideia ─ minha voz sai entrecortada e meus pensamentos se viam confusos. Ele não me deixou porque quis, mas porque precisou.

Mesmo assim, ele poderia ter me ligado se quisesse. Poderia ter me feito entender antes, porque, agora... É tarde demais.

─ nossos amigos também não sabiam. Eu achei melhor manter isso em segredo, pelo menos até as coisas melhorarem.

─ e melhoraram?

─ bem, a um ano ele acabou morrendo em um confronto com a polícia. Pelo menos foi o que eu fiquei sabendo ─ ele dá de ombros ─ durante todos esses anos, não teve um único dia em que eu não pensasse em você. Não teve um dia em que eu não pensei em te ligar para dizer que senti sua falta. Mesmo com toda essa confusão, eu deixei você ir embora e jamais vou me perdoar por isso ─ murmura, me fazendo soluçar ─ sem você, todo o dia chove, e eu sou o único culpado. Eu fui embora quando você veio para ficar. Agora tudo é cinza.

─ você teve seus motivos para ir, mesmo assim, nada te impedia de me ligar. De manter contato ─ recordo, magoado.

─ me desculpe. Eu sei que não é suficiente, mas é verdade. Eu tive medo, Jake. Medo desse sentimento que era tão novo para mim. Medo de não ser o homem que você sempre mereceu e, por isso, te magoei. Eu pensei que poderia ir embora sem você. Pensei que seria o melhor, mas não foi.

─ queria que tivesse dito tudo isso cinco anos atrás ─ seco uma lágrima que escorria livremente por minha bochecha e me levanto do sofá, pronto para seguir até o quarto, mas paro ao ouvi-lo me chamar.

─ Jake ─ olho para ele por cima do ombro ─ eu te amo ─ ressalta o que havia falado anteriormente fazendo meu coração acelerar ─ sempre amei e me arrependo de não ter te falado isso antes. Não quero que vá embora.

─ eu não vou a lugar nenhum ─ afirmo, vendo o mesmo soltar o ar que prendia em seus pulmões ─ mas isso não significa que está tudo bem entre nós ─ é tudo o que eu digo antes de deixar a sala. 

after the storm | jakehoonOnde histórias criam vida. Descubra agora