CAPÍTULO 12 - A ESCOLHIDA PELO POVO

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Leozinho e eu seguimos de volta para a casa de Cindy e Johnny pelo caminho fui mostrando a ele a nossa vila.

- Você conhece alguma coisa aqui? - perguntei.

- Não muito - respondeu ele cabisbaixo.

- Como você vive?

- Às vezes as pessoas me dão coisas, me escondo da chuva quando encontro um lugar.

Continuei encarando e observando sempre seu olhar triste.

- E quando isso não acontece? Você dorme no chão? Fica na chuva? Passa fome??

Ele permaneceu quieto. Essa é a realidade do povo de Anelin. Tenho que me lembrar que eu já passei por isso, mas com ele é diferente, Leozinho é só uma criança. Cerrei o punho enquanto continuávamos caminhando. Cheguei em casa e abri o portão. Acho que Cindy já chegou da feira.

- Olá! Preciso apresentar alguém para vocês! - falei animada.

Johnny estava sentado à mesa de madeira e Cindy perante o fogão. Ambos me encaravam.

- Este aqui é o Leozinho. Novo integrante da família.

Parei repentinamente, repassando o que acabei de dizer, se referindo a nós quatro como uma família. Nunca tinha usado essa palavra com esse sentido antes. Leozinho me esperou continuar, mas como me calei ele deu um aceno tímido para Cindy e Johnny O olhar deles era uma mistura de surpresa e pena.

- Por que Dylan não veio com vocês? - perguntou Johnny me repelindo de meus pensamentos.

- Problemas com o pai, mas já conversamos. Bom, acho que você precisa de um banho Leo.

Ele se animou com a ideia.

- Vou comprar alguma roupa - falei e sai rapidamente. Tive a impressão de que Cindy e Johnny ainda me encaravam mesmo com a porta fechada.

Estou esquecendo meu objetivo, mas para consegui-lo preciso compreender o que está acontecendo naquele castelo de malucos. Andei até uma loja barata de roupas, as pessoas que trabalhavam lá olharam para mim sem desviar.

- Olá! - cumprimentei - Gostaria de ver roupas para crianças de oito anos.

As atendentes foram rápidas e trouxeram várias opções.

- Você é aquela moça que apareceu no telão ontem, não é? - uma perguntou com os olhares animados e curiosos. Eu estava de cabeça baixa olhando as peças e levantei o olhar e a encarei.

- Ah, sim, era eu.

- Seu nome é Selena, não é? - disse a outra - Ficamos tão felizes quando você apareceu.

- Como?

- O jeito como você defendeu nosso reino, a princesa e até o príncipe! Demonstrou que nossa vila também tem pessoas fortes - a de olhos arregalados respondeu.

- Ah... - então compreendi tantos olharem além do habitual, e que a maioria desses olhares expressavam orgulho, uma sensação diferente de quando cheguei aqui como órfã sem teto.

- Desde que você foi para o castelo e começou a conquistar a realeza, todos da vila se sentem muito confiantes. Você não tem poderes, não é princesa e mesmo assim insistiu em lutar contra um monte de iluminados rebeldes.

Ah, obrigada por humilhar uma princesa das Sombras, pensei. Mas eu estava sem palavras para o que ela estava dizendo. Parecia que eu tinha uma legião de fãs. Sorri de volta para as atendentes.

- Muito obrigada, que bom que posso ajudar vocês mesmo estando longe.

Continuei vendo as roupas. Depois decidi levar uma bermuda, uma camisa e sandálias.

- Você não precisa pagar - disse uma das atendentes quando estendi as moedas.

- Não, faço questão, sei como é importante para vocês - falei me recordando da primeira vez que me encontrei com Annie.

As atendentes embrulharam as roupas ainda conversando comigo.

- Não gostamos de nenhuma das candidatas a rainha. Queríamos alguém que representasse não somente a parte rica do reino, porque nós também fazemos parte de Anelin. Não queremos uma pessoa totalmente plebeia, sabemos ser impossível, mas alguém que se lembre de nós, você consegue entender?

- C-claro que entendo. Não sei se alguma delas se importa com o que acontece aqui, mas não é algo legal de dizer, elas são tão bonitas quanto uma rainha deve ser...

- Só beleza não importa, aposto que nunca tentaram conversar com o príncipe sobre política de verdade - a outra disse me entregando a sacola - Você já tentou?

Senti minhas bochechas esquentarem um pouco.

- Já... uma vez, mas acho que não deu certo - respondi.

- Não desista. Estamos torcendo para que você consiga algo e felizes pela sua conquista - ela deu um sorriso meigo e tentei retribuir.

- Obrigada - falei - Farei o possível.

Em seguida, ao sair da loja, percebi que todos me olhavam com esperança, tanta esperança que chegava a pesar meus ombros. Essas pessoas estavam depositando sua esperança em mim. Foi difícil sair da loja e caminhar com as ruas cheias de pessoas esperançosas. Quando finalmente cheguei em casa, suspirei de alívio e entrei.

- Ei, me desculpe a demora, tinha bastante gente na loja. Onde está Leozinho?

- No seu quarto - respondeu Cindy desligando o fogão - Selena, acha que é uma boa deixá-lo aqui? - ela me perguntou e parei para escutá-la - Não temos condições de cuidar de uma criança, mesmo você me mandando dinheiro, eu e seu pa... eu e Johnny trabalhamos o dia inteiro e não gosto da ideia de levá-lo para trabalhar conosco...

- Está tudo bem, eu já pensei nisso - falei suavemente pegando-a de surpresa - Eu vou levá-lo comigo para o castelo, vai dar tudo certo.

Ela se aproximou e colocou a mão em meu rosto.

- Você é uma menina tão boa, minha pequena.

Observei como Cindy me olhava com tanto afeto, seus olhos brilhavam tanto que achei que fosse chorar. Meu pai nunca me olhou assim. Peguei sua mão e depositei um beijo no dorso. Ela deu um pequeno sorriso e segui para o quarto. Leozinho estava enrolado na toalha, ajudei-a enxugar o cabelo e a vesti-lo. Ele ficou super feliz com as roupas.

- Quando formos para o castelo, você terá roupas muito melhores.

De súbito ele se jogou em meus braços, abracei-o forte acariciando seus cabelos castanhos.

***

Nesta noite, dormi no sofá, deixei Leozinho dormindo no meu quarto, trouxe minha bolsa comigo, logo a abri e peguei um espelho, chamei pelo meu pai e sua imagem logo apareceu.

- Olá pai, como está?

Sua expressão facial não demonstrava estar bem. Ele estava com raiva, muita raiva.

- Impaciente. Onde está o livro? Está esquecendo da sua missão?

- Não, óbvio que não. Mas tem acontecido muita coisa...

- Isso só facilitará tudo. Aproveite que estão distraídos.

- Eu sei, mas se eu fugir das minhas responsabilidades no castelo me mandarão embora! Nessa batalha conquistei mais a confiança deles, sinto que estou perto pai. É bem provável que o próprio reino de Anelin se destrua.

- Eles não deixarão isso desse jeito. Escute, Selena, essa guerra ainda durará muito e nós seremos o ataque surpresa, enquanto eles brigam entre si, renasceremos nosso exército. Seja forte! - Ele finalizou e desapareceu.

Deixei o espelho cair na bolsa e a fechei. E meu pai novamente não me deu espaço para tirar minhas dúvidas.

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