CAPÍTULO 13 - MUDANÇA DE RUMOS

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Precisei acordar Leozinho bem rápido, preciso estar no castelo antes do desjejum da princesa. Sacudi-lhe de um lado para o outro até ele abrir os olhos. Segui para o banheiro, troquei o vestido, coloquei um casaco longo e calcei minhas botas, fiz um rabo de cavalo e escovei os dentes. Assim que saí, Leozinho entrou. Arrumei o quarto e peguei minha bolsa.

- Preparei sanduíche para vocês - disse Cindy quando cheguei na cozinha.

- Comeremos no caminho - falei bebericando o leite quente com café - Aliás, bom dia!

Ela sorriu enquanto preparava a bebida de Leozinho que, afinal, demorava demais no banheiro.

- Ei, as regras do castelo são rigorosas! - gritei batendo na porta.

Quase que imediatamente ele saiu desesperado, avistou o copo de leite com café e bebeu.

- Está com frio? - perguntei ajeitando a gola do seu casaco.

Ele balançou a cabeça negando. Nos despedimos de Cindy e saímos.

Graças às minhas sombras o caminho estava quase todo vazio. Leozinho olhava distraído a neve que começava a cair.

- Estou com medo de não me aceitarem no castelo - ele disse.

- Não se preocupe, deixe isso comigo, apenas sorria e diga "oi" - respondi.

Ao chegarmos à estrada que dava ao portão do castelo ficamos impressionados com as árvores com os galhos congelados parecendo cristais. Passei meu braço pelas costas de Leozinho e seguimos em frente. Entramos no castelo sem nenhum guarda chato para atrapalhar, resumindo Frank. Porém, quando cheguei dei de cara com o rei.

- Majestade - exagerei na reverência. Leozinho me imitou e ficou congelado.

- Selena - ele começou e me olhou de cima - O que é isso? - ele se referiu a criança?

Isso? Como ele conseguia se orgulhar de tratar os outros dessa forma?

- Eu o encontrei perdido na vila, sem pai, nem mãe, com frio e fome, e me sinto responsável por ele de agora em diante, achei que não teria problema em trazê-lo para cá, eu cuidarei dele...

- Sem mais explicações, garota! Você não pode trazer quem você quiser para esse castelo, isso aqui não é um hotel.

Senti minhas pernas bambearem. Nunca estive tão cara a cara com o rei, nunca sequer imaginei como seria enfrentá-lo. Mas não posso decepcionar a confiança que Leozinho depositou em mim.

- O que posso fazer, vossa majestade? - retruquei com a maior educação possível. - Faça você construa mais casas para quem não tem como se esconder da chuva, nem o que comer. Aqui neste castelo, com tanta fartura, com tudo o que precisamos aos nossos pés, acabamos esquecendo como é lá fora, nas partes mais remotas do reino. Eu quero dividir o que tenho com essa criança, pois já fui como ela um dia. Fique tranquilo, majestade, prometo que não trarei o mundo inteiro para o castelo, não caberiam todos os que precisam.

O rei permaneceu imóvel. Se sentia raiva, não deixou transparecer. Isso é o que me dava mais medo. Seja forte. Algumas pessoas chegavam do dia de folga e olhavam curiosas tentando descobrir o que acontecia, pareciam um tanto... incrédulas. Sei que não devia desafiar a realeza assim, mas não consigo me controlar, não diante de uma situação tão injusta. Não vão me calar.

- Pai - ouvi a voz do príncipe que descia as escadas - Selena. Está tudo bem por aqui?

O rei enfim demonstrou que estava com os dentes cerrados ao resmungar:

- Controle essa feirante, antes que eu a expulse desse castelo com sua cria.

Ele nos deu as costas e se retirou.

- Te explico no caminho, aqui as paredes têm ouvidos - falei para Lucas.

Nós três subimos as escadas e caminhamos até meu quarto.

- O que aconteceu lá em baixo? - ele perguntou novamente.

- Uma batalha de argumentos, eu ganhei - respondi.

- Ela é fantástica! - exclamou Leozinho de repente.

Dei um sorriso.

- Quem é esse?

Diferente do que eu pensava, Lucas não teve a mesma reação que o seu pai, ele ficou surpreso, mas não irritado, parecia até que gostava de crianças.

- Encontrei-o sozinho na floresta enquanto caçava, este é Leozinho.

O príncipe se agachou e ficou cara a cara com o menino.

- Precisamos arrumar um lugar para você amigo.

- Ele vai ficar no meu quarto, estava mesmo meio solitária - falei.

Lucas olhou para mim e se levantou.

- Tudo bem, mandarei trazer um colchão para ele.

- Obrigado, majestade - Leozinho disse e o cutuquei - Quer dizer, alteza, por enquanto.

O príncipe riu e continuou e voltou ao seu percurso original.

- Vocês fazem um belo casal - ele disse quando o deixei no meu quarto.

- Você vai dizer isso para cada cara que encontro? - perguntei fazendo-lhe cócegas. Ele riu e disse-lhe que voltaria logo.

Fui para o quarto da princesa e no trajeto reparei que estavam decorando o castelo de um jeito diferente.

- Selena! Que bom que chegou! - exclamou ela assim que me viu entrar.

- Me desculpe pelo atraso, Annie, surgiram alguns imprevistos inevitáveis. O que está acontecendo? Teremos Carnaval aqui no castelo?

- Carnaval? O que é isso? - ela perguntou.

- Ah, temos esta data lá na vila, tem muita música com bumbos, pandeiros, dança, fantasias e muitas cores - expliquei.

- Não, não é isso. Meu pai decidiu adiantar o baile de inverno desse ano, ele acha que isso irá despreocupar o povo do ataque que sofremos.

Me sentei na cama com ela.

- Ele não acha... hm... arriscado?

- Eu também questionei sobre isso, mas ele garantiu que verificou todos os convidados e que reforçará a segurança, apenas nós do castelo e quem tiver o convite do rei participarão. Ele também acha que é uma ótima ideia para meu irmão conhecer melhor as candidatas, já que não está tendo sorte com isso. O Baile será daqui a uma semana. Dessa vez não poderei saber como você irá vestida, então não sei se poderei ajudar tanto.

- Um baile de máscaras? - perguntei e a princesa bateu palmas e se levantou rodopiando pelo quarto numa valsa solo - Ah, tá que irei.

- Claro que irá! Não me faça arrastá-la!

E Annie me arrastou para valsar com ela.

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