CAPÍTULO 31 - TORNADO DE VERDADES

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A rainha da Luz não iria me ajudar a curar Dy, então o peguei e levei até a ala hospitalar o mais rápido possível, eu não conseguiria deixa-lo lá sozinho, mesmo que isso arriscasse meus planos. Ao chegar Luna estava lá cuidando de todos os feridos que chegavam.

Ela imediatamente limpou uma mesa, pois faltavam macas, coloquei Dy em cima, o curativo improvisado estava encharcado, mas estava parando de sangrar.

– É surpreendente, o ferimento dele está cicatrizando mais rápido que o normal. Foi trabalho seu? Ou ele tem um ótimo sistema defensivo.

– Não – falei simplesmente – pode ter sido uma das fadas. – Talvez aquela que me encarou por tempo demais na coroação. – Preciso voltar lá para cima, cuide de Dy, por favor.

Luna segurou minha mão na sua antes que eu começasse a correr.

– Muito obrigada por ter ficado – ela falou com os olhos brilhando de lágrimas.

Apertei sua mão e corri.

Nos jardins vários soldados batalhavam contra os iluminados rebeldes. Da varanda senti o vento se aproximar e o céu se fechar. Meu pai. Minhas sombras me guiaram até ele, e o encontrei num lugar sozinho. Estava com suas vestes pretas que se agitavam com o vento.

– Pai! – chamei-o.

– Onde está? – ele perguntou e eu já sabia a que ele se referia.

– No segundo andar, uma porta no fim do corredor a esquerda.

Ele deu um aceno e eu o abracei antes de sair.

– Tome cuidado – falei.

Sai do castelo, nos jardins dos fundos vi Tória lutando junto de Levi e do rei. Havia muito mais rebeldes dessa vez do que da primeira. Que bom que meu pai estava só, pensei. Criei sombras que assumiram silhuetas humanas e soltei-as para cima daquele caos. Fiquei observando de longe, escondida atrás de um arbusto denso de flores. Eu não queria que elas matassem os rebeldes, apenas os iluminados de Anelin. Sorri ao ver a cara deles ao perceber duas sombras negras voando sobre eles.

– O poder sombrio! – falou Levi.

A rainha Tória olhou assustada.

– O que?! Como Verton sabe que o livro está aqui?

– Não tem como ele saber – garantiu o rei. – Ele deve estar tentando procurá-lo.

Engula-os, ordenei as sombras. Então as sombras cresceram e começaram a circundá-los e também aos soldados e outros iluminados que os protegiam, era como estar preso lutando contra o escuro.

– Selena! – ouvi alguém gritar e me virei as sombras se dissiparam. Annie veio até mim.

– Você está ferida? – ela perguntou preocupada com o sangue que descia da cabeça.

– Não – respondi. Ela suspirou de alívio.

– Aqui nesse arbusto não é um lugar seguro para se esconder. Venha vamos sair daqui, deixe que eles cuidem disso – Annie agarrou a minha mão, mas permaneci no lugar.

– Não irei – falei firmemente.

– Tem poderes sombrios aparecendo por aí e Lucas está preocupado, vamos por favor.

Cerrei os punhos.

– Se ele estivesse realmente preocupado não teria me deixado para morrer, vocês nos deixaram para fugir, por uma coroa, deixaram até Margot, você deixou Dy e agora ele está ferido! – falei. Annie cobriu a boca com as mãos – Eu não compactuo com o movimento rebeldes, mas tão pouco posso tolerar deixar as pessoas para trás.

Ela olhou para baixo com vergonha.

– Annie! – ela ouviu o grito de sua mãe – Saia daqui, volte ao esconderijo.

Então Annie me deu as costas.

Corri pela grama até a borda da floresta, subi em uma árvore alta e densa o suficiente para me esconder. Não estava mais vendo Levi... enviei minhas sombras de volta, eu precisava mantê-los ocupados e distraídos. Tória e o rei tentavam novamente lutar na escuridão, ela usava muito pouco seu poder da luz, o que era estranho. Os rebeldes tomaram proveito e começaram a atirar flechas na escuridão. Ouvi um grunhido do rei no mesmo instante que meu pai irrompeu pela porta atirado longe pela magia de Levi. Quase gritei, mas em vez disso lancei sombras nos arqueiros que não paravam.

Meu pai se levantou. Ele não aparentava estar com o livro. Será que Levi tinha chegado a tempo de impedi-lo?

– Onde está Diana? – perguntou Levi sério.

Observei a cena. Era isso que ele queria saber? Onde estava minha mãe já morta? Meu pai gargalhou.

– Diana já morreu há tempos – ele respondeu com muita tranquilidade.

Todos pareceram surpresos, até Tória.

– Você a matou? – Levi perguntou e lançou em meu pai algo verde, forte e cintilante, magia pura, mas o mesmo desviou. Não me preocupei, estava ocupada demais com o que Levi havia falado. Meu pai não havia respondido, mas tão pouco negado. Isso era uma piada de Levi. Ele nunca gostou de minha mãe, foram os iluminados que a mataram.

– Diana conviveu demais com Hemera – meu pai começou – Vivia com ideias na cabeça. Vocês eram melhores amigos – Levi deu um olhar sério por cima dos óculos – Até eu chegar, até ela – e apontou para Tória – despertar o pior ódio que alguém pode ter.

Arregalei os olhos. Os que lutavam ao redor pararam a luta. Percebi Josie observando tudo com os braços cruzados e Camila como uma ninja nos telhados.

– Você é maluco. Todos sabemos que vocês sombrios sempre quiseram nosso poder não ache que eu compactuei com isso, matar minha irmã foi a melhor forma de vocês me atingirem – gritou Tória, ela então reuniu luz na palma da mão e lançou em meu pai, ele caiu, a luz parecia queimá-lo como a um vampiro.

Levi observava com os braços imóveis ao lado do corpo. Abatido, chorava. O rei então pegou sua espada, mas meu pai se levantou e lançou sombras densas sobre eles como um líquido negro, a rainha os protegeu com um escudo branco. Respirei fundo e resolvi ajudar meu pai, pois agora todos pensariam que era ele quem fazia tudo. Aproveitei as nuvens densas e manipulei-as de forma que um funil se formasse e logo atingisse o chão, movi-o em direção ao casal real.

Sem tempo para se agarrar em algo o tornado levou todos que estavam no caminho, raios se formaram e se juntaram ao redemoinho de vento, terra, folhas e pessoas. Os nós de meus dedos ficaram brancos, e as veias saltavam com o tanto de poder que eu usava. Eu irei mata-los, irei acabar com isso, todos morreram estraçalhados.

Foi então que várias lanças de gelo atravessaram o corpo de meu pai. Do homem que olhava maravilhado o trabalho que ele sabia ser da filha. Despina estava perto do lago e havia congelado a água e lançado as lanças. Lucas estava mais distante e abraçava Annie que chorava. A futura princesa da luz havia tomado a dianteira e salvado a família do seu futuro esposo.

Meus olhos se voltaram para o meu pai. O sangue manchava o gelo. Senti minhas sombras se agitarem. Os olhos de meu pai perderam a cor e ele caiu no chão. Senti o tempo parar. Senti meus olhos se molharem. Não! Não! Ele vai se levantar. Vou esperar que se levante. Mas ele não se levantou. As sombras saíram do corpo dele e o embalaram protegendo o corpo. Perdi a concentração no tornado, as pessoas caíram no chão como manga madura. Concentrei minhas sombras junto com as de meu pai para que ajudassem a teletransportar o corpo para a Cova.

Meu pai estava morto. O corpo desapareceu. Os rebeldes iluminados se retiraram. Dragões voaram pelo céu. Os soldados do rei comemoraram. Um raio brotou no céu, um trovão ressoou. Tória e o rei estavam caídos na grama e muito feridos, junto com dezenas de soldados e iluminados. Levi havia se retirado. A chuva caiu densa e meu pai estava morto, meu pai estava morto, meu pai estava morto e o escorria de meus olhos se misturava a chuva. Então me permiti chorar.

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