ㅡ Não existia um futuro para nós dois juntos. Eu percebi mais cedo e talvez por isso… Não sei, mas só talvez você pudesse parar de me odiar por um instante e olhar por outro ângulo…
ㅡ Esse é problema! ㅡ Cortou Victor, a voz embargada, olhos brilhantes e lábios trêmulos, ele nunca foi bom em esconder o que sentia de mim. ㅡ Em nenhum momento, durante esses nove anos eu cheguei perto de te odiar. Em contrapartida, sempre me perguntei onde eu tinha errado. Eu sou mais velho três anos, mas ainda sim era o mais ingênuo da relação.
Droga, isso me pegou de uma forma muito profunda. Eu nunca podia imaginar que Victor era o elo fraco da relação, talvez por idealizar ele como um adulto, quando na verdade era só um garoto assustado que não tinha nenhuma perspectiva sobre a vida e os fatos, diferente de mim, que sempre soube como o mundo podia ser cruel, desde muito novo.
Quando parti sem dizer nada, pensei que estava fazendo um favor a dois adolescentes burros que não podiam ter uma relação duradoura ou estável. Eu tinha quinze e ele acabara de completar dezoito anos, era uma relação fadada ao fracasso. Meu tio tinha planos de se mudar para São Paulo… Uma coisa levou a outra. Era incrível como 5 palavras podiam resumir um mar de sentimentos e sensações. Ainda consigo lembrar de cada uma delas, e entendo porquê minha versão mais imprudente conseguiu ser mais prudente do que eu nesse exato momento.
ㅡ Não foi nada que você fez ou disse..
ㅡ Queria ter ouvido isso a nove anos atrás.
O silêncio reinou na cozinha. Eu quis fugir para não ter que enfrentar os sentimentos que rodeiam os dois. Eu só queria sumir, como andava fazendo sempre que tentava um novo vínculo romântico. Eu era o que saia na calada da noite sem despedidas ou explicações, nunca o mesmo cara, nunca com promessas ou informações sobre minha vida, nada de contato que não fosse apenas sexo casual. Vendo agora de uma outra perspectiva, talvez consiga assimilar que o que aconteceu a nove anos ainda me prive de muita coisa até então.
ㅡ Eu vou pra casa.
ㅡ Vai fugir de novo?
Travei a respiração assim que alcancei a soleira da cozinha e o corredor. Fiquei estático, completamente imóvel, teria parado de pensar, se possível, mas a mente a mil não me deixaria outra opção se a de enfrentar as merdas do meu passado.
Suspirei pesadamente, esvaziando os pulmões até que não restasse nada, e depois respirei. Continuei de costas para Victor.
ㅡ Nada que eu diga vai curar suas cicatrizes.
ㅡ Um pedido de desculpas resolveria a raiva que sinto, o resto já trato duas vezes na semana com minha psicóloga.
Eu quis rir. Dentre nós dois eu era o mais provável a recorrer a intervenção psicológica, mas pelo visto Victor Bandeira tinha mudado muita coisa em nove anos, enquanto eu continuo o mesmo gatinho assustado. Era terrivelmente assustador.
ㅡ Como disse: vou pra casa.
Cheguei a dar dois passos antes de sentir a mão de Victor segurando em meu braço. Parei no mesmo segundo e me virei para ver a raiva dançando nos olhos dele. Tive um gostinho da ansiedade da adolescência e me senti um gato encurralado, de uma forma estranhamente familiar.
ㅡ Você continua um filho da mãe de nariz em pé, sabia?
Não fui firme e acabei rindo.
ㅡ Meu Deus, eu só queria correr do escuro, mas sinceramente… Acho que nada que possa se esconder nele seja pior do que todo esse climão.
Victor se aproximou. Ele estava estupidamente alto, talvez 1,90 enquanto eu com meus míseros 1,65 ficava a ver navios, tentando quase um torcicolo para poder ver seu rosto incrivelmente bonito, uma vez que mal chegava ao seu peito.
ㅡ Você é incapaz de usar a boca para pedir desculpas… ㅡ Os olhos se tornaram incrivelmente escuros. O tom de voz sucinto e arrastado, Victor Bandeira tinha se tornado um sedutor lascivo extremamente treinado. Seus dedos passeavam pelo meu braço. Senti sua respiração na minha orelha. ㅡ Porque não usa a boca para outra coisa, então?
Os pelos da nuca estavam em pé e meu pau estava a beira de dar indício de vida. Droga, tudo tinha saído do contrato em um espaço muito curto de tempo.
Olhei para seus olhos e me perdi ali. Segurei em sua cintura, colando nossas pélvis, ele se jogou um pouco para trás para poder ver meu rosto, ou então seria a minha cara enterrada em seu peito. As mãos de Victor estavam soltas, ele tinha medo de me segurar e eu… Quebrar, ou então era só receio de que eu tomasse conhecimento de como ele tinha armado aquilo tudo desde o segundo que me viu. Eu podia ser esquecido, mas não ao ponto de esquecer como Victor podia ser estrategista no quesito conquista.
ㅡ O que você quer que eu faça com a minha boca, Tinho?
O vi arfar e eu gostei disso. Gostei de causar sensações além da contínua raiva em seu peito. Gostei de saber que ao meu simples toque, seu pau fica manhoso, assim como o resto do seu corpo, quase implorando para que eu o toque por completo.
ㅡ Me beija, por favor.
Seus lábios tremiam, não era frio, mas sim tesão. Ele começou a se inclinar, já que eu não podia fazer mais nada, me encontrava nas pontas dos pés. Eu queria lembrar do seu gosto e queria que visse como eu tinha saído de um beijo babado para o misto de sensação que eu podia transmitir ao chupar a sua língua. Eu tinha experiência para dar e vender e estava mais do que disposto a mostrar tudo a Victor Bandeira.
Alguém bateu na porta como um louco. Agressivamente e não parava por nada. Eu me afastei, estava livre do encanto de Victor e ele se afastou porque provavelmente se lembrou de que me odiava, ainda que dissesse o contrário minutos antes. Ficamos nos encarando por alguns segundos, antes de quase ao mesmo tempo nos lembrarmos de que ele esperava pela pizza.
ㅡ Espera aí!
Sequer fiz menção a mover um músculo. Enquanto Victor ia pegar a pizza, eu voltei para a cozinha. Não resisti e olhei tudo em volta, vendo que apenas o forno era uma novidade ali, lembrava de tudo e estava tudo ali. Era incrível como Joana conseguia manter o mesmo liquidificador por tanto tempo.
Observei o litro de vinho Campestre sobre a mesa, gotículas de água escorrendo e eu não resisti. Peguei um copo de cristal na prateleira de cima do armário branco, logo acima da pia de mármore preto e o enchi. Não tinha a mínima chance de eu encarar o passado sem uma dosagem de álcool no corpo. Era meu veredito final.
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Desastre Natalino | COMPLETO
Truyện NgắnBreno Andrelino volta para sua cidade natal em dezembro, para que pudesse descansar um pouco e a fim de rever seus pais nas festas de fim de ano. O que Breno não contava, era que Victor Bandeira, seu primeiro e em muito tempo, único amor também esta...