Eu sempre achei muito esquisito minha mãe e as minhas tias comemorarem o que elas chamam de "véspera, da véspera do natal" ou seja, sempre fazíamos um jantar no dia 23 e a meia noite, onde começava a bebedeira e comilança que se estendia até o dia 25, a meia noite. Eu amava a tradição, mas confesso que perdeu o brilho quando comecei a interar para a ceia, da ceia da ceia do natal.
Estava para dar onze e pouco da noite e os maridos das minhas tias já estavam reclamando da regra besta de só começar a beber depois do jantar, a geladeira tava cheia de cerveja e carne para o churrasco.
Começou a chover muito. O churrasco que seria embaixo dos pé de laranja acabou sendo transferido para a casa, o que só deixou minha mãe ainda mais irritada, ela odiava ter a casa cheia, tanto que lutou até o último segundo para levar a ceia-da-ceia-da-ceia para qualquer outra casa, mas seguindo os anos, dessa vez ela não tinha como escapar.
A porta da frente estava fechada, igual a janelinha, que normalmente está aberta, mas que por conta do mói de chuva também estava fechada. Alguém avexado bateu com violência contra o metal vermelho. Eu estava mais perto da porta, e aparentemente era o único que tinha qualquer ânimo para levantar a bunda e ir olhar quem era. Abri um pouco a porta, só um pouco graças a Deus.
ㅡ A gente pode... ㅡ Um suspiro pesado fugiu de sua boca. ㅡ conversar?
Meu coração acelerou repentinamente. Ali estava Breno Andrelino, lábios vermelhos demais, bochechas mais brilhantes e as sobrancelhas cheias caídas. Estava balançando nos próprios pés, como se lutasse internamente para se manter minimamente estável em seu próprio eixo. Eu mereço... Mais uma vez, Breno estava cheio dos pau.
ㅡ Você bebeu? ㅡ Cruzei os braços. Transitei entre a preocupação e a raiva em segundos. Comecei a balançar o peso do corpo de uma perna para a outra.
ㅡ Não! ㅡ falou alto. Mentiroso. Me tornei irredutível, igual a minha cara de desconfiado. ㅡ Tá bom, um pouquinho assim ㅡ mostrou os dedos em pinça. ㅡ agora me escuta eu...
Realmente estava curioso para saber sua motivação para se molhar por inteiro, mas mãe era mais curiosa, ao menos o suficiente para deslizar da cozinha até a porta da sala sem que eu a notasse.
ㅡ Quem tá aí? ㅡ Perguntou mãe, se aproximando de mim por trás , seu queixo pairou sobre meu ombro. ㅡ Breno, querido, o que tá fazendo na chuva? Vai ficar gripado.
ㅡ Eu...
ㅡ Ele já tá indo, mãe. ㅡ Falei rispidamente. Tentei fechar rapidamente a porta, mas algo impediu. ㅡ ...mas o que?
ㅡ Não, eu não tô. ㅡ Ele pôs o pé na porta. ㅡ Precisa me ouvir, por favor.
ㅡ E você precisa ir! ㅡ sussurrei com raiva.
ㅡ Victor! Que jeito feio de falar com o Breno. ㅡ levei um beliscão de mãe. ㅡ Vem, querido, entra.
ㅡ Saltei para o lado com a dor que deslizava pelo meu bíceps, e nesse momento minha mãe tentou arrastar Breno pelo braço, eu intervi, segurando no outro.
ㅡ Ele não vai entrar, mãe.
ㅡ Victor Júnior Bandeira, ou o Breno entra nessa caralha ou você sai e conversa com ele na chuva, e ai rei da cocada preta, o que vai escolher?
Suspirei e afastei. Brigar com mãe só tornearia meu natal uma maldita coisa sem paz. Seria impossível me meter na decisão que ela já tinha tomado. Todos da sala, em sua maioria meus primos mais próximos, nos encarava com muita atenção e curiosidade, droga eu vou ser motivo de fofoca até o natal do próximo ano.
ㅡ Vou levar o pessoal pra cozinha, então... Se acertem logo, pelo amor de Deus.
Esperei ela sair junto dos convidados. Mãe era muito perspicaz quando queria ser, dou graças a meu padrinho Padre Cícero por esse ser um dos momentos. Não sei como iria reagir a meu nome e o de Breno chegando aos ramos mais distantes da minha árvore genealógica.
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Desastre Natalino | COMPLETO
ContoBreno Andrelino volta para sua cidade natal em dezembro, para que pudesse descansar um pouco e a fim de rever seus pais nas festas de fim de ano. O que Breno não contava, era que Victor Bandeira, seu primeiro e em muito tempo, único amor também esta...