Capítulo 06 - Pecado em Renda Branca.

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Era dia 21 de dezembro e eu ainda não tinha comprado sequer uma roupinha para o natal. Seria meu primeiro natal em casa, mas longe dos meus pais, e o fato de que, mesmo comendo o pão que o djabo amassou nos primeiros anos em São Paulo, meus pais sempre estiveram presente, ainda que por facetime.

Eu estava na cidade a seis dias e a cinco sozinho em casa, não havia falado com nenhuma das minhas amizades antigas, nenhuma durou tanto... Não posso me fazer de santo, até porque não me empenhei minimamente para manter contato. Ainda tem o primo Rodrigo, ele constantemente reagia aos meus story e sempre, sem exceção nenhuma me pedia para contar como era a vida na cidade grande, era até engraçado. Hoje em dia ele vive mundo afora com o namorado. Não dou dois meses para rolar um pedido de noivado! Eu, mãe e tia Solange apostamos trezentos paus nisso.

O bom de morar em bairro pequeno é que absolutamente tudo fica no seu quintal. Qualquer corra que você quiser, deu três passos você encontra. Não era exagero nenhum, mal sai da minha rua já estava em frente a lojinha de bebida do Seu Francisco, o melhor lugar para comprar álcool sem identidade, do outro lado da rua o "Massa Mania" lanchonete local, desde 1500, isso se não tiver sido onde Jesus Cristo transformou pedra em pão, a melhor maionese temperada da cidade. Logo ao lado a minha antiga escola do ensino fundamental e...

ㅡ Breno??? ㅡ A voz feminina me fez parar rapidamente. Fiquei estático perto do meio fio, me virei lentamente, com a feição duradoura de quem roubou sua vovó doente. ㅡ Peste, e num é que é tu mesmo, viado!

Analisei a garota baixa, mesma altura que a minha, óculos de armação marrom e lentes grossas, atrás lindos olhos pretos e cheios de indecência ㅡ imagino, no fundamental já era preocupante ㅡ, e um cropped de mangas bufantes e um decote dos deuses. Todos os detalhes de um corpo gordo. Era como olhar para uma pintura do passado, exceto que essa se mexia e tinha língua afiada a bessa. Aprendi a aceitar meu corpo midsize com ela.

ㅡ Oi, Tatiana.

ㅡ CA.RA.LHO! ㅡ Ela correu de fora do "Massa Mania" e veio com tudo para cima de mim. Senti toda sua saudade sobre meu pescoço e coluna. Porra. ㅡ Quanto tempo, cara.

Encolhi os ombros quando ela se afastou para me analisar metodicamente.

ㅡ Só uma década, quase...

ㅡ Meu Deus! Tem tanta fofoca pra colocar em dia, menino. ㅡ Ela se animou. Animou até demais. ㅡ Só um teaser do que eu tenho... A Isa, filha do Cláudio, acabou de engatar em um trisal com o pai do ex dela e um professor do Rosa Maria.

ㅡ MEN.TI.RA! ㅡ Fiquei... Embasbacado? Não! Abirobado. ㅡ E num era a mãe dela evangélica? Lembro até que ela proibiu Isa de sentar com a gente no nono ano quando o José Luiz me arrastou para fora do armário.

ㅡ Meu filho... Bó embora, que a gente tem muito o que botar em dia e voltar pra casa chei dos pau.

Meu braço foi agarrado com a velocidade de um Tiú correndo do fogo ou dos cachorros, e eu fiquei mansinho, até porque não sabia para onde estava sendo arrastado, mas por algum motivo que desconheço, era a mesma direção que eu estava indo: a lojinha de roupa da Vera.

Três horas vestindo roupas e tirando roupas e bebendo vinho Campestre com São Brás e Quinta do Morgado como se fossem água mineral... Eu estava tão bêbado que mal podia me lembrar dos treze namorados que Tatiana teve nos dois últimos anos. Não me sentia bem e já tinha vomitado no banheiro de Vera, só para poder beber ainda mais. Dado momento eu achei que seria uma boa ideia experimentar uma lingerie branca de renda que estava no manequim da entrada. Vesti com pressa e não me pergunte como, porque sempre será uma dúvida para mim, mas de alguma forma eu vesti o emaranhado de renda alva com o auxílio de Tatiana, que caiu de cara no chão antes de conseguir amarrar o corset.

ㅡ Agora uma fotinha pra mandar pro Victor!

Eu pisquei o olho e o flash veio. Não me importei muito, estava bastante coberto. A calcinha era funda o bastante para caber meu pau e o saco, e graças a Deus eu estava com a depilação a laser em dias.

Seis minutos. O tempo de eu beber mais dois copinhos de vinho e me deliciar com o quão gostoso eu estava me sentindo vestindo aquela roupa. Eu queria andar assim pra qualquer lugar. Fala sério eu estava tão... Tão... Tão...

ㅡ Diabeisso, home? ㅡ Perguntou Victor Bandeira, meu amorzinho de homem. Meu pecado favorito. Eu estava pegando fogo. ㅡ E isso é roupa de tu tá vestindo, Breno? Eu vou ligar pra tua mãe, bicho!

Revirei os olhos e encarei meu reflexo no espelho do chão ao teto. Minha visão estava muito debilitada e os soluços por conta do vinho não me dava muito equilíbrio. Tatiana estava sentada de qualquer jeito na cadeira de plástico branco, com o último litro de vinho, bebendo direto do gargalo. Sorria como a própria versão cearense do Coringa.

ㅡ O que, Tinho... ㅡ Olhei para ele através do reflexo, a visão do meu corpo ficou disforme, e ele... Mordeu o beiço de baixo e coçou a nuca aperreado. ㅡ ...você não gostou? ㅡ tinha um quê de inocência e decadência que eu não sabia dosar, mas que estava lá, com toda certeza.

ㅡ Não faz assim, home... ㅡ Tinho choramingou. ㅡ Cê sabe que eu gosto demais... De você, caraí. Não me coloca nessa posição.

Caminhei até ele, na minha mente eu estava andando igual a Valentina Sampaio, mas a julgar pela cara preocupada e as mãos solícitas que me agarraram antes mesmo de eu chegar completamente perto dele, julgo que Victor me via como os bebim do centro que vivem bebendo Gostosinha.

Desastre Natalino | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora