Estava no terceiro copo quando Victor Bandeira entrou na cozinha com uma pizza em mãos e um refrigerante em outra, numa sacola azul. Eu estava sentado sobre a mesa, na quina próxima a geladeira, a qual eu sabia que tinha mais três litros de vinho. Não vi julgamento no olhar que ele direcionou a mim. Colocou a pizza e o refrigerante ao meu lado. Seu braço tocou minha coxa e nossos olhares se trombaram. Antes que ele tentasse me beijar de novo, ofereci meu copo pela metade, quase dando um banho de vinho.
Seus dedos tocaram completamente os meus, obviamente proposital, e só depois pegou o copo, bebendo o vinho de uma vez. Eu já estava ficando tonto. Meu estômago queimava porque não tinha jantado, e não iria sem energia, já era um perigo na cozinha de dia, imagina no meio de uma tempestade sem luz.
ㅡ É de fran bacon e calabresa. ㅡ Ele disse.
Continuei em silêncio para não cometer o erro de parecer um filho da mãe presunçoso. Victor não gostava de fran bacon , mas eu amava, era minha favorita desde sempre, a gente sempre pedia meio a meio e cada um comia sua metade da pizza.
ㅡ Tem Ypióca?
ㅡ Acabou.
Victor pegou dois pratos pequenos e rasos de vidro transparente. Me serviu primeiro, como o maldito cavalheiro educado que era e eu me senti um tremendo maldito por não ser... Minimamente educado com ele. Ao contrário disso, eu abri seu vinho sem permissão e estou sentado na mesa de jantar, mais grosseiro que isso só se eu peidar, e olha que eu realmente estou com vontade.
Comemos em silêncio e eu agradeci por isso, não saberia como fugir de suas perguntas ou acusações, apesar de me acusar apenas de uma coisa, uma que realmente fiz: fugi. Era estranho, mas não fugi dele, fugi de nós. Sequer que isso faça algum sentido.
Era a segunda garrafa e a pizza tinha acabado. O refrigerante nem mesmo foi aberto, para a minha sorte, porque significava mais espaço para vinho e mais tempo de contemplação da merda da minha vida. Obrigado, Deus.
ㅡ Você namora?
Victor me olhou de baixo, mesmo eu sentado na mesa e ele na cadeira a frente, nossa altura era quase a mesma, ele havia se tornado um brutamonte. Via desconfiança e descrença em seu olhar, como o de uma criança ao aprontar.
ㅡ N-não.
Um. Dois. Três... Vinte e oito. Vinte e nove. Trinta.
Silêncio. Constrangimento. Eu queria mais... talvez cutucar a ferida, porque meu eu bêbado conseguia ser mais filho da puta do que qualquer outra versão que possa existir de mim mesmo. E eu gostava disso, não vou ser um santo, eu sou mesmo a porra do vilão, que se foda.
ㅡ Pergunta.
ㅡ Você namora?
Esbocei um sorriso de lado.
ㅡ Sim.
Vi seus olhos murcharem. Sua cabeça tombou e levou consigo as migalhas de esperança de me reconquistar. Que patético. Só não era mais patético do que eu querer ser um escroto para livrar a barra dos sentimentos que sinto, mas que me assustam.
Coloquei o pé em seu ombro. Ele levantou a vista e eu sorri como um maldito que não liga para sentimentos alheios. Toquei seu queixo com o pé e inclinei as costas para trás.
ㅡ Beija.
Ele beijou três vezes, enquanto me olhava sem parar. Era notável a força de vontade de me ter, mesmo quando nem mesmo eu queria me ater a mim e ao que eu me tornei.
ㅡ O que você quer? Uma noite?
ㅡ Quero todas elas.
Engasguei com a sinceridade de uma criança no corpo de um homem que me fazia querer queimar. Eu estava beirando uma síncope e ele continuava a agir tão docemente. Eu não o merecia, e era essa a origem infindável da minha raiva autodirecionada.
ㅡ Eu te dou uma noite.
Recolhi meu pé, deslizando ele pelo seu peito e abdômen, colocando-o em suspensão um pouco antes de descer da mesa. Peguei sua mão e o puxei, ele continuava em silêncio e eu preferia assim, era mais fácil ser um puto quando não havia nada que me lembrasse do que eu já fui um dia ao lado dele. Ao lado do meu Tinho.
Entramos no quarto que era dele e da irmã, não tinha nada além de uma cama de casal e um guarda-roupa simples. A luz pálida do fogo da cozinha banhava o quarto, muito fraca, mas o suficiente para enxergar as feições de Victor.
ㅡ Tire a roupa.
ㅡ E-eu não quero transar com você.
Engoli a gargalhada que subiu quente pela garganta.
ㅡ Não? ㅡ Levei a mão ao seu pau duro dentro das calças de Victor. Me aproximei, ele tombou, apoiando o queixo no meu ombro, arfando de tesão enquanto eu o apalpava. ㅡ Seu pau diz o contrário.
Sua mão sobrepôs a minha e num ato desregulado de autocontrole a tirou dali. Seu rosto deixou meu ombro, mas seu corpo se juntou ainda mais ao meu, ambos balançando pelo álcool que circulava por nossos corpos.
ㅡ Quero que durma comigo. ㅡ Ele soprou na noite chuvosa. Afastei apenas meu rosto para que pudesse ver o dele, e ele viu a leve confusão no meu próprio e sorriu. ㅡ Apenas dormir, como fazíamos.
Engoli em seco. Estava pronto para protestar e correr para minha casa solitária e terrivelmente escura.
ㅡ Você me prometeu uma noite.
A contragosto não busquei por um argumento forte para que o que ele me pediu não acontecesse de fato. Apenas... Me entreguei.
ㅡ Está bem.
Um sorriso vitorioso brotou nos lábios dele. Quis beijá-lo, mas me sentia irritado demais para isso. Onde já se viu? Se aproveitar da minha boa vontade de tentar me lembrar de algo que eu quero esquecer... Porque no fundo, eu sinto tanto saudade que tenho medo do que pode acontecer.
ㅡ E-então como vai ser? ㅡ Perguntei, deslizando as mãos pelas laterais de sua cintura e olhando para baixo, temendo contemplar os olhos doces de alguém que um dia pensei amar. Engoli em seco. Ele tocou meu queixo e puxou-o para cima, não tive outra escapatória senão encará-lo. ㅡ Eu.. só...
Victor sorriu e pousou o dedo sobre meus lábios, deslizou por minha carne macia e se deliciou com a visão, lábios entre abertos e olhos dissimulados. Arfei contra seu toque íntimo.
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Desastre Natalino | COMPLETO
Short StoryBreno Andrelino volta para sua cidade natal em dezembro, para que pudesse descansar um pouco e a fim de rever seus pais nas festas de fim de ano. O que Breno não contava, era que Victor Bandeira, seu primeiro e em muito tempo, único amor também esta...