Cheiro Doce

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— Tédio.

Jihyo respirou fundo novamente, tentando focar em qualquer coisa que não fossem as incontáveis reclamações de Nayeon. Observou o ambiente à sua volta; estavam em uma das mesas no jardim da mansão dos Kim, mais precisamente, na festa de comemoração de trinta anos de casados do Senhor e da Senhora Kim. O local era bonito e extenso, com um grande teto de madeira acima de suas cabeças, proporcionando uma atmosfera mais elegante. A iluminação era quase mínima ao redor, focada unicamente no centro de cada mesa.

Questionava-se quanto tempo faltava para o casal subir ao palco e compartilhar com os convidados suas declarações desinteressantes; internamente, pedia aos céus que não demorasse, assim poderia ir embora logo. Seus pais ordenaram que ficasse até o brinde, mas não disseram nada sobre depois.

A realidade penosa cercava a mesa das ômegas, deixando-as sem escapatória senão pensar em suas condições duramente. A maior certeza que possuíam disso era o garçom da festa que, por coincidência, toda vez que pediam mais uma garrafa de vinho, era o mesmo que entregava uma lacrada e recolhia a já sem líquido, vazia. Ele não era bom em esconder suas expressões; depois de levar a terceira e buscar outra, a expressão de espanto ficou notável em seu rosto. Mas que culpa tinham? O rumo de suas vidas mudaria drasticamente depois desta noite, e não havia nada que pudessem fazer para evitar.

— Se sairmos enquanto ninguém estiver vendo, podemos pular o muro dos fundos do jardim. — Com voz arrastada e fala mais lenta do que o normal, Dahyun sugeriu, debruçando-se pela mesa, para que somente as amigas a ouvissem. Jihyo teve a certeza de que não estava tão sóbria quando se viu cogitando a ideia estúpida da outra ômega; em uma ocasião habitual delas, a Park mais nova teria repreendido pela falta de comportamento à mesa, mas apenas achou a ação engraçada.

— É tentador. — Nayeon fingiu estar pensativa, encostando o dedo indicador no queixo. — Vamos!

Antes que a ômega pudesse se levantar, ela sentiu a mão quente de Jihyo repousar na sua.

— Vamos esperar a declaração. Nossos pais ainda estão no salão, nossa ausência repentina certamente será notada.

Felizmente, não demorou muito para o casal em celebração subir ao palco e iniciar um discurso sobre como o casamento entre um alfa e um ômega era algo importante, principalmente para a reprodução. Jihyo não aguentava mais ouvir que, por causa de sua posição e da família que nasceu, precisava casar e conseguir herdeiros urgentemente. Não era à toa que seus pais estavam planejando casá-la com um estranho somente para aumentar a influência de ambas famílias e buscar herdeiros.

O mundo já estava bastante evoluído para ainda existirem pensamentos tão descrentes; entretanto, infelizmente para ela, uma ômega e única herdeira de todas as filiais Park, aquela situação a mantinha enjaulada. Não era menos do que ninguém por ser uma ômega, não achava certo os casamentos arranjados por puro interesse, odiava o fato de estar sendo entregue como uma bandeja para outra pessoa. E o pior de tudo, apenas por influência e reprodução.

— Agradeço a presença de todos. Uma boa noite e vamos celebrar! — O senhor Kim anunciou sorridente, erguendo sua taça de champanhe para cima e deixando um beijo em sua esposa. De repente, o som da música circulou por todo o extenso local, alguns convidados se levantaram com seus acompanhantes seguindo em direção à pista de dança.

— Me acompanhem. — Sem deixar tempo para alegações, Dahyun aproveitou o momento em que as luzes foram direcionadas unicamente para a pista de dança e se abaixou, engatinhando para fora daquela parte do jardim.

Nayeon riu e fez o mesmo.

Jihyo se sentiu indecisa, deveria segui-las ou não? Desde a infância e adolescência Dahyun e Nayeon sempre foram mais desenvoltas; durante a adolescência eram elas que a arrastavam para as festas às escondidas de seus pais. Com a ômega, as coisas eram diferentes, como única herdeira e filha única, tudo pesava mais para ela. Escola, etiqueta, bom comportamento, como ser uma boa omega...

𝗔𝘀 𝗠𝗮𝗹𝗱𝗶𝘁𝗮𝘀 𝗛𝗶𝗿𝗮𝗶𝘀 - MOHYO (ABO)Onde histórias criam vida. Descubra agora