Capítulo 6 - Uma carona com Oliver Jones

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Oliver voltou a andar com o carro assim que eu entrei no mesmo, assumindo o lugar no banco do passageiro bem ao seu lado, mas ele não dedicou mais do que um olhar rápido pelo canto do olho na minha direção.

Nunca tinha estado no carro de Gareth, até onde eu me lembrava, o que me fez eu me sentir estranha em estar ali com alguém que não fosse ele, ainda mais depois de fugir da festa de aniversário do mesmo. Foi automático me questionar se Oliver tinha pedido permissão para dirigir aquele carro. Eu também não me lembrava de já ter estado sozinha na presença do garoto que agora me levava para casa, apesar de saber que era uma situação que já nos ocorreu anteriormente.

Eu e ele, deixando a casa de Gareth após uma festa, indo para casa.

Tenho certeza que, se eu pudesse, eu teria tido um déjà-vu.

O silêncio entre nós era pesado, e eu não tinha coragem de dar o primeiro passo para mudar isso. Oliver seguiu quieto pelo setor residencial até que estivéssemos no centro. Paramos no semáforo de frente a igreja. Eu estava virada para o lado exato da praça, que nunca me pareceu tão diferente quanto naquele momento. Nunca estive na cidade de noite. A iluminação dos postes tornavam fácil enxergar tudo com muita distinção, porém, a aparência meio fria que tudo por ali assumia, ainda mais com a chuva, era no mínimo desconcertante.

Não havia uma pessoa sequer nas ruas.

Eu me virei para olhar o perfil de Oliver. Seus olhos, tão pretos quanto as penas de um corvo, permaneciam fixos na rua diante de nós e ele mal piscava. Para mim ficou claro que com o mesmo esforço que eu me dedicava em fugir de Gareth, na maior parte do tempo, Oliver se esforçava para fugir de mim também, mas agora ele estava encurralado. Não há muita coisa que se possa fazer para evitar alguém quando se está dentro do mesmo carro que ela.

Jamais parei para conversar com ele antes. Acabamos uma única vez ficando no mesmo grupo em um trabalho, na época que eu ainda estava tentando retomar a minha vida de onde ela parou, mas ele me tratou com tanta antipatia e ignorância que eu decidi que era melhor não insistir mais naquilo. Nunca soube se já fomos amigos um dia... talvez termos acabado no mesmo carro naquela noite tenha sido apenas um episódio isolado.

Oliver tirou uma das mãos do volante e ligou o aquecedor no mínimo, antes de voltar sua mão para a posição inicial com um movimento altamente robótico. Os nós dos seus dedos estavam brancos devido a força que ele aplicava enquanto agarrado a direção do carro. Seus ombros estavam tensos, o maxilar travado e a postura tão reta que ele parecia estar com torcicolo. Era gritante o quanto ele parecia desconfortável por estar ali comigo.

Eu respirei fundo, rezando para que a minha voz não entregasse o quão intimidada eu me sentia com a sua misteriosa e inesperada predisposição de me deixar em casa. O medo da alucinação, no entanto, ainda não tinha abandonado meu corpo totalmente, o que só tornou minha voz mais falha e patética do que parecia ser possível.

— Então, o que você precisa me contar?

Suas narinas se dilataram um pouco quando ele inalou profundamente, como quem tenta conter um ataque de fúria, mas não teve reação nenhuma além dessa. Apesar de ter dado a entender que tinha algo muito importante para me falar, Oliver parecia muito determinado em não abrir a boca durante todo o percurso até a minha casa.

Quando o semáforo abriu ele olhou em todas direções antes de voltar a acelerar e, por um segundo, eu pude jurar que ele parou para encarar a estátua no centro da praça. Sua expressão antes de indiferença se converteu em algo que poderia quase parecer com receio, como se ele esperasse que algo viesse dali.

Pouco antes da praça sumir do meu campo de visão, eu arrisquei olhar para trás e procurar pelo que ele parecia ter visto, mas apenas encontrei o de sempre. A sensação de poder que aquelas figuras de bronze exerciam sobre mim.

Oriane Deflammer - O Retorno Do PesadeloOnde histórias criam vida. Descubra agora