Infiltrada na Máfia

Capítulo 03

Alina

Sorrio para ele enquanto volto para o balcão, o cara é mais bonito pessoalmente do que nas fotos do arquivo. Sirvo mais algumas pessoas que pedem bebidas, ao mesmo tempo fico de olho em Lucca. Ele se senta em uma mesa próxima ao palco de Karaokê, canta junto e se diverte com a apresentação das pessoas. Se fosse outra realidade, poderíamos ser amigos.

Depois de algum tempo, vejo alguns homens conversando com ele, a postura de Lucca muda para uma mais rígida e defensiva. Algo está acontecendo. Pego duas garrafas de cerveja vazias e me aproximo um pouco tentando ouvir a conversa.

- Não tem medo da morte japa? Vi que estava olhando pra minha namorada seu imbecil de merda!

Lucca tenta argumentar que estava apenas elogiando o desempenho da garota no palco, mas o cara não quis escutar. Em um instante, ele estava segurando Lucca pela camiseta enquanto outro o socava, o empurram da cadeira e o jogam no chão. Lucca tenta proteger a cabeça enquanto se levanta, mas são muitos contra ele.

Aproximo-me furtivamente de um deles e quebro a garrafa de vidro em sua cabeça, ele desmaia na hora. Outro idiota tenta me segurar pelo cabelo, mas acabo me esquivando e acertando a outra garrafa em sua nuca. Eles param um momento de bater em Lucca enquanto me olham chocados.

- Sua vagabunda! Veio defender seu namoradinho?

Grita o cara que causou todo o alvoroço. Amarro o cabelo em um coque improvisado enquanto me preparo.

- Own, está com medinho de apanhar de uma mulher? Se quiser chamo a mamãe pra te pegar no colo.

Ele grita nervoso e vem em minha direção, tenta me agarrar pelos ombros, desvio e chuto sua bunda no processo. Ele se desequilibra e quase cai. As pessoas ao redor começam a rir e debochar dos caras. Lucca aproveita a algazarra para levantar e partir para cima dos outros dois caras que sobraram em pé.

Acabo me distraindo olhando pra ele e me esqueço do escroto no chão, quando o percebo está me prendendo em uma mata leão improvisado. Seguro seus braços e uso seu peso ao meu favor, derrubando-o ao chão. Monto em seu peito e começo a socar seu rosto sem pausa, paro somente quando percebo que ele desmaiou.

Lucca se aproxima sorrindo.

- Garota, você é das minhas! Vem, vou te pagar uma cerveja depois dessa ajuda.

- Melhor mesmo, que pelo jeito acabo de perder meu emprego.

Falo enquanto vejo o gerente correndo espantado em nossa direção.

Lucca me leva para outro bar no mesmo quarteirão, nos sentamos em uma mesa nos fundos para evitar retaliação dos homens espancados. Conversamos um pouco sobre o que aconteceu no bar, Lucca estava curioso para saber onde aprendi a me defender daquela forma, contei a ele a minha história de vida triste e falsa. Ele me contou que também não teve uma infância fácil, mas agora tudo estava melhor pra ele.

- Sabe Lucca, contanto que nunca mais eu passe fome, faço qualquer serviço, não tenho preguiça de trabalhar, a vida para uma mulher sozinha não é fácil.

Ele concorda comigo enquanto fica pensativo por um momento.

- Vejo que é uma pessoa boa Alina, meu chefe está precisando de seguranças em sua residência, vou ver o que posso fazer pra te ajudar. O trabalho é puxado, mas acredito que com algum treino você possa conseguir.

Sorrio enquanto seguro suas mãos, agradecendo pela chance de emprego.

Ficamos mais algum tempo conversando sobre nossas vidas, vejo que o celular de Lucca vibra, ele pede licença enquanto se levanta e vai para o banheiro atender. Enquanto isso, bebo o resto da minha cerveja e peço a conta. Pago e deixo um bilhete para Lucca dizendo que precisei ir embora resolver um assunto urgente, agradeço mais uma vez a oportunidade e deixo meu número de contato no papel.

A missão de hoje foi um sucesso, honestamente achei que demoraria mais tempo para conseguir sua confiança, mas Lucca é um pouco ingênuo ao que parece. Enquanto ando em direção ao meu novo apartamento, recebo uma ligação no celular descartável que Aleksander me deu.

- Alô?

- Status da missão Alina?

- Consegui pontos com Lucca graças aos caras que você pagou para procurar briga com ele.

- Bom trabalho Alina,você sabe que de agora em diante a missão irá ficar cada vez mais perigosa. Jogue o celular fora, quando precisar falar contigo entro em contato, irei desligar.

Assim que a ligação encerra, quebro o celular e o jogo em uma lata de lixo. Todo o cuidado é pouco. Corto caminho por algumas ruas até chegar em meu novo apartamento, por razões óbvias não posso continuar em meu antigo apê. O prédio é bem mais antigo e caótico, a vizinhança também não é muito boa, formada por viciados e bandidos. Subo as escadas encontrando desde camisinhas jogadas a outras coisas de origem duvidosa.

Minha porta é a última do corredor, uso a chave que me entregaram e entro. O ar cheira a mofo, procuro a tomada e ligo a luz. Merda, esse lugar é horrível. Um sofá velho divide a sala da cozinha, na sala tem uma televisão dos anos 90 e uma mesinha de centro, a cozinha tem uma mesa pequena, um fogão e geladeira velha, abro o armário e encontro só o básico do básico, a geladeira não está melhor. Me encaminho para o único quarto do apartamento e suspiro aliviada, pelo menos o quarto é mais limpinho e confortável.

A cama de solteiro é simples mas convidativa, tem uma escrivaninha no centro com alguns produtos femininos e um guarda-roupa do outro lado do quarto. Um espelho quadrado fica ao lado da escrivaninha. De maneira geral, o apartamento precisa de um toque mais feminino, trocar aquela tinta laranja amarelado da sala já fará uma grande diferença.

Deito na cama e repasso o dia de hoje, foi bem exaustivo e ao mesmo tempo gratificante. Tiro minhas roupas deitada mesmo, puxo o lençol e me cubro enquanto olho para o teto. Minha vida sem papai ao meu lado foi difícil, mas pela primeira vez desde que ele se foi, sinto que estou feliz em fazer parte de algo. Respiro fundo e me ajeito na cama, a noite está fria mas ao mesmo tempo acolhedora, nesse lugar tão perigoso e barulhento acabo adormecendo em um sono profundo.