Capítulo 04

291 26 2
                                    

Alina

Acordo com o despertador tocando, minha cabeça está doendo pra caralho. Olho as horas com os olhos entreabertos e quase caio da cama. Puta merda já são 09hrs! Merda de ressaca! Procuro uma calça no guarda-roupa enquanto já vejo uma blusa de manga comprida, corro para o banheiro e me olho no espelho, feia pra caralho. Lavo meu rosto e escovo os dentes pensando no puxão de orelha que vou levar.

De repente paro e me dou conta de algo, estou trabalhando como infiltrada, não preciso bater ponto. Sinto-me patética por um momento ao me esquecer da missão, mas como é minha primeira, me dou esse bônus. Acabo de escovar os dentes mais tranqüila, depois tomo um banho bem demorado, digno de patroa.

Procuro algo para comer na geladeira enquanto seco meus cabelos com a toalha, mas está vazia, vou ter que fazer compras. Pego um cereal no armário e como sem leite mesmo. Assim que me preparo para sair, recebo uma mensagem no celular, é de um número desconhecido:

Oi!!

Aqui é o Lucca, muita ousadia sua me deixar sozinho ontem no bar, sabia que eu poderia ter sido sequestrado? Só te perdoo porque pagou a conta.

Sorrio, Lucca é mesmo uma figura rara. Salvo seu contato no celular e respondo brevemente sua mensagem me desculpando pelo imprevisto, depois o aviso que estou indo ao mercado, mas assim que estiver em casa novamente eu ligo pra ele.

Saio do prédio e percebo que o dia está frio, ainda bem que coloquei um casaco em cima da blusa fina de manga comprida. Coloco meus fones de ouvido e tento parecer o mais inofensiva possível enquanto ando pelas ruas. Do meu lado direito, vejo um homem estranho dentro de um carro me observando, me pergunto se é da agência ou algum bandido mal intencionado. Entro no mercado e pego um cesta, começo pelos produtos de higiene e vou até o açougue.

Sinto uma mão em meu ombro e congelo. Não posso fazer muita balburdia, afinal, sou apenas uma mera garçonete.

- Aí está você, sabe o trabalhão que tive pra te encontrar? Não é nada fácil localizar alguém só pelo primeiro nome.

Relaxo os músculos e me viro com um sorriso.

- Lucca? Você me assustou, o que está fazendo aqui?

- Não tenho muita paciência pra esperas, resolvi te ver logo pessoalmente.

Ele pega a cesta da minha mão e segura enquanto compro o restante dos itens que preciso. Lucca parece avaliar cada coisa mínima que faço e tudo que compro. Só pareceu um pouco encabulado quando fui a seção íntima comprar absorventes.

Assim que saímos do mercado, vejo o mesmo cara estranho que me observava abrir a porta do carro luxuoso.

- Vamos Alina, vou te levar em casa e depois vamos para o galpão. Precisamos conversar sobre a proposta de emprego.

Olho para o homem com cara de quem está querendo me comer viva *não no bom sentido*, fico meio receosa de entrar e Lucca acaba percebendo, ele sorri de uma forma divertida:

- Calma Alina, Roberto tem essa cara de demônio mas é uma boa pessoa, além do mais estarei contigo e você sabe que eu sou um amorzinho.

Ele pisca pra mim enquanto sorri e me empurra com carinho para entrar no carro. Respiro fundo, seja o que Deus quiser, Lucca com certeza é o mais perigoso aqui, braço direito do Don mafioso, já matou sorrindo muita gente. Ele fecha a porta e vai para o outro lado.

- Vamos logo Roberto, já estamos atrasados.

O tal do Roberto liga o carro e dirige em direção ao meu apartamento. Assim que chegamos, peço pra ele me esperar enquanto subo rapidinho para guardar as coisas. Entro no apartamento e coloco tudo em seus devidos lugares, odeio bagunça. Troco a calça clara por uma preta e coturnos, tiro a blusa de manga longa branca e coloco uma de alcinha vermelha com a jaqueta de courino. Arrumo meus cabelos em um coque bagunçado e desço novamente as escadas. Lucca está encostado no carro me esperando, ele está digitando alguma mensagem e parece absorto no aparelho. Várias mulheres passam por ele e cochicham entre si, deixando escapar risadinhas. Lucca deve chamar atenção aonde vá, além de ser bonito ele tem aquela aura de menino doce.

De repente ele para de digitar e me olha de cima a baixo.

- Essa roupa fica bem melhor em você do que aquela coisa que estava vestindo antes.

Acabo gargalhando alto enquanto entro novamente no carro.

- Não fale mal do meu jeans mom, amo aquela calça de paixão.

Depois de um tempo no carro, chegamos a um galpão que parece meio abandonado. Lucca abre a porta do carro pra mim e saio com ele. Assim que começamos a andar em direção ao galpão, percebo que ele não está tão abandonado assim, vejo vários carros parados ao lado, homens de terno preto estão por toda a parte, conversando entre si ou falando ao celular.

De repente Lucca me para e me vira pra si.

- Alina, o serviço que eu tenho a te oferecer é muito bom, paga espetacularmente bem, mas você precisa saber que se entrarmos naquele galpão você não poderá mais sair.

Engulo em seco.

- Sei que deve ser algo meio ilegal Lucca, mas sabe, estou cansada de tentar vencer na vida pelos meios honestos e certos. Olha só como estou agora, não quero viver assim para sempre.

Lucca assente com a cabeça e me solta, assim que chegamos a porta, um cara carrancudo chega mais perto e me revista, passa o detector de metal em mim e acha meu canivete escondido no coturno. Lucca gargalha enquanto entrego meu companheiro a contragosto pro cara.

- Cuida bem desse canivete, foi o último presente que meu pai me deu e sou muito apegada a ele.

O cara me olha sem demonstrar nenhuma reação ou emoção, Lucca me dá seu braço e entramos no local que é escuro e úmido e acima de tudo é barulhento. Assim que meus olhos se acostumam, vejo que parece uma espécie de academia, com direito a arena de luta e tiro ao alvo. Tem pelo menos uns 30 caras treinando aqui, a maioria sem camisa e suados. Por incrível que parece a cena me faz querer sorrir ao lembrar de minha amiga maluquinha, se ela estivesse aqui provavelmente iria querer paquerar a maioria.

Lucca me tira dos devaneios ao falar comigo.

- Alina, esse é o centro de treinamento. Você irá treinar e viver aqui por 15 dias. Nesse período iremos avaliá-la e decidir se é apta para o trabalho. Não se preocupe, você será paga por esses 15 dias, mas se quiser desistir esse é o momento.

É claro que não posso desistir, mas acabo fazendo um suspense enquanto olho em volta, afinal não posso parecer estar tão doida pelo serviço, ele pode desconfiar. Volto o olhar para Lucca e ele continua me analisando.

- Eu aceito Lucca, já estive em lugares piores com homens menos confiáveis.

Ele assente com a cabeça e me dá as costas.

- Sendo assim meu trabalho aqui está feito, volto daqui a 15 dias e aí conversamos mais. Espero que esteja viva até lá.

Ele sorri pra mim e se encaminha para a saída. Engulo em seco temerosa. Olho em volta e a atenção de todos do local está voltada pra mim, alguns homens sorriem friamente enquanto outros me analisam.

Só aí me dou conta, sou a única mulher nesse lugar.

Infiltrada na MáfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora