Sabrina levantou o tampão da porta do balcão da secretaria e entrou na área dos funcionários. Sentou em uma das cadeiras de atendimento, fingiu teclar algo no computador desligado, olhou para Hélio e disse com uma voz grossa, imitando alguém:
- Senhor Alvarez, vamos aceitar sua rematrícula na Escola Municipal apenas se parar de comer sua namorada atrás da cantina.
- Prefiro desistir dos estudos - ele debochou com malícia, de pé e do lado oposto do balcão.
Miriam tinha acabado de aparecer na grande porta da secretaria e pegou toda a cena. Fitou os dois com certo julgamento, mas pareceram não se incomodar. A garota vinha de um hall de entrada da área administrativa da escola, que tinha uma alta porta de vidro que dividia a área interna de um pequeno gramado com jardim e, metros depois, um portão de grades sublimes para a rua.
- Cadê os outros? - a recém chegada perguntou um pouco esbaforida. Limpou o suor da testa e esperou por alguma resposta.
- Não sei. Só tem a gente aqui, por enquanto - Sabrina explicou ainda atrás do balcão. Ao lado dela, uma porta trancada levava para outras salas administrativas da escola.
- Tão zoando com a nossa cara - Hélio comentou desgostoso e tentando botar medo nas duas garotas -, ou é uma armadilha. E a gente tá aqui de bandeja.
- Sabem se eles vem? - Miriam perguntou aproximando-se mais.
- Sei lá - Hélio respondeu meio carrancudo. Relaxou o corpo e jogou-se numa das duas poltronas verdes perto da janela de vidro. - Só topamos vir pra ser a maluca da Windera tem algo de verdade pra falar.
- E ela tem só mais dez minutos - Sabrina completou. - Se não aparecer, a gente vai vazar daqui.
- Tá bem - Miriam se deu por vencida. Na verdade, não tinha muito o que fazer. - Vamos esperar, né.
Miriam pensou em Dário e planejou mandar uma mensagem para ele em breve. Ela ia caminhando até a direção de Hélio para sentar-se na outra poltrona, mas parou no meio do caminho quando sentiu o celular vibrar no bolso. Pegou-o com ansiedade e logo botou a luz na cara para enxergar quem ligava.
- É o Felipe - ela disse em voz alta e logo atendeu. Sabrina deu de ombros. - Alô, onde você tá?
- Cara, eu to preso - ele respondeu de imediato e Miriam buscou por algum sentido no que ele havia falado. De imediato, notou apenas suas expressões. Tinha urgência em sua voz. E também medo e aflição. - Vem me tirar daqui! Eu acho que tem alguém lá fora... Têm alguém me ligando sem parar. Falando umas coisas nada a ver e...
- Felipe, calma - Miriam pediu para ele. Mas também estava pedindo para si mesma. Seu corpo estava todo arrepiado - Me fala onde você tá!
- Tem alguém aqui... - ele lamuriou entre as primeiras lágrimas e começou a sussurrar cada vez mais baixo. - Tô ouvindo passos lá de fora... Tá me rondando.
- Felipe, me fala onde - Miriam insistiu ainda mais angustiada.
- Eu tô preso na sala do 3ºA. Vem me ajudar, por favor...
- Eu tô indo. Se esconde, por favor. Eu tô indo! E fica quieto! - Aprontou-se para sair da secretaria e olhou assustada para Sabrina e Hélio.
- O que rolou? - Sabrina perguntou já percebendo a aflição da garota e tomando a situação como mais séria do que imaginava.
- O Felipe tá preso numa sala. Precisamos ir lá ajudar ele, vamos!
- Ei, ei - Hélio interveio levantando-se da poltrona. Ergueu a mão para Miriam e fez que não com seu dedo indicador na direção dela. - Não vamos pra lugar nenhum.
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Eu Sei Quando Você Mente
HorrorPrimeiro, uma carta sem remetente com um aviso: alguém sabe o seu segredo mais profundo. Dias depois, uma ligação anônima. Se não confessá-lo na linha, é assassinado. Não hesite. Eu sei quando você mente. É assim que um psicopata assombra oito joven...