Miram deu a primeira gargalhada depois de muitos dias. Dário logo notou e, também rindo, ficou admirando-a ao seu lado. Ela levou a mão à boca para tentar recuperar o ar, mas a vontade de continuar rindo era muita.
- Ah, qual é! - o garoto em frente dos dois retrucou. Era dele que estavam rindo, mas ele não parecia estar na mesma onda. Murchou os ombros em sinal de que já havia desistido de ser levado a sério. - Tá, podem rir, mesmo.
- Não dá, cara! - Dário reclamou tentando parar de dar risada. - Essa foi a coisa mais imbecil que já ouvi. Se superou.
O garoto parecia ser um pouco mais novo, com uns catorze anos. Apesar da idade, era alto e magricela. Usava uma blusa xadrez larga e tinha cabelos castanhos desgrenhados, olhos verdes caídos e um sorriso muito largo, mas charmoso. Era muito agitado. Estava de pé, ficava balançando levemente de um lado para o outro e articulava muito as mãos e braços enquanto falava.
- Tá, podem me zoar com isso - ele se eximiu, já aceitando a chacota que sua história tinha virado. - Mas eu juro que na hora eu não percebi!
Um carro de polícia passava pela rua mais ou menos a cada trinta minutos. Todo final de semana faziam isso, mas nos últimos dias voltaram a ficar mais frequente. No geral, sabiam que a maioria dos jovens da cidade ficariam por lá, então pelo menos um dos quatro carros da guarda municipal ficava dando voltas pelas quadras no centro e da praça. Cada vez que passavam, Miriam e Dário puxavam seus copos e garrafas de bebidas para suas costas para ficarem fora da visão dos policiais. A ronda era realmente pouco eficiente.
- Eu disse que você ia gostar do Rafael - Dário comentou para Miriam enquanto enxugava lágrimas de risadas dos olhos. Ela fez que sim com a cabeça, retomando um pouco o fôlego. Dário havia explicado que tinha alguns amigos antigos que moravam na sua rua desde crianças, mas que estavam estudando em outra escola naquele ano.
Rafael olhou para trás e se distraiu com uma garota baixa, gorda e de cabelos pintados de verde se aproximando com sacolas de mercado cheias. Correu até ela para ajudar. Antes dela, Miriam tinha visto garotas de cabelos coloridos só como fotos de perfil de fakes no Orkut.
Aquela era a maior praça da cidade, bem onde ficava a papelaria dos pais de Dário. Havia uma enorme igreja no centro, a matriz, uma fonte larga com chafariz do lado esquerdo e um coreto amplo do lado direito. Entre eles, caminhos com gramados, flores até que bem cuidadas e árvores altas e antigas.
Outros grupos de adolescentes se espalhavam por todo o local conversando e também escondendo suas bebidas quando o carro da polícia passava.
- Valeu por me fazer sair um pouco de casa - Miram disse para Dário enquanto Rafael não voltava.
- Sabia que tava precisando - confessou para ela. - E que massa que ajudou mesmo. Precisava te apresentar o Rafa e a Ana. Fazia um tempo que eu não saía com eles. Antes era quase sempre. Eu, Rafa, Ana e o Hélio.
Miriam sentiu certo pesar no último nome. Não sabia que eles já tinham sido amigos próximos. Mas, atualmente e nitidamente, não eram mais. Ia perguntar por que, mas Rafael e Ana chegaram perto demais.
Os quatro estavam na parte da frente do chafariz, sentados em sua borda e aproveitando os pequenos respingos de água que o vento trazia dos jatos de água diretamente para suas costas. Mesmo recém anoitecido, ainda fazia certo calor na cidade. Finalmente havia parado de chover. O último dia de chuva tinha sido no velório de Larissa.
Durante vários dos dias seguintes, Miriam ainda via cenas daquele dia bem claras em sua memória. Apenas alguns segundos de silêncio ou solidão já eram o suficiente para ativá-las. O choro da mãe de Larissa sobre seu caixão. Os gritos do pai durante a caminhada antes do sepultamento. A família abraçada e aos prantos pelos cantos.
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Eu Sei Quando Você Mente
TerrorPrimeiro, uma carta sem remetente com um aviso: alguém sabe o seu segredo mais profundo. Dias depois, uma ligação anônima. Se não confessá-lo na linha, é assassinado. Não hesite. Eu sei quando você mente. É assim que um psicopata assombra oito joven...