Sabrina já tinha dado algumas dezenas de voltas ao redor na parte de dentro do balcão da secretaria. Fuçado nas mesas, olhado a papelada, brincado com canetas e bagunçado as áreas de trabalho das atendentes para pregar uma peça nelas quando voltassem ao expediente. Encontrou um estilete e pensou sobre como ele teria sido mais útil para Miriam do que aquela faquinha minúscula que ela levou, mas agora já deveria estar longe dali.
O tédio estava a consumindo tinha um tempo quando decidiu perguntar para o Hélio mais uma vez:
- A gente já pode ir embora?
- Não - ele respondeu, ríspido. Ainda estava sentado na poltrona verde ao lado da janela e alisava com as pontas dos dedos a pistola prateada sobre sua coxa, enquanto mantinha o olhar compenetrado no arco de entrada da grande sala em que estava.
- Mas eu achei que a gente ia dar só mais cinco minutos pra ela chegar - Sabrina se lamentou subindo sobre o balcão para ficar sentada próxima ao namorado. Balançava as pernas longe do chão.
- Mudei de ideia - ele manteve a linha direta. - Acho que é melhor acabar com isso de uma vez por todas.
- Windera não vai chegar. Ela deve tá zoando a gente - a garota tentou desestimular a insistência do rapaz.
- Pode ser. Mas se ela vier, quero tirar um lero com ela do mesmo jeito.
- Como assim?
- Ela acha que pode fazer a gente de otário assim? Não, não. Ou ela tá zoando a gente, ou ela é o Anônimo. Chega de deixar fazerem a gente de idiota e ter medo de cartinhas. Se ela acha que pode me ameaçar e foder com meus esquemas, ah... ela vai se ver comigo.
- Não vai fazer nada sem ter certeza, tá bem? - Sabrina preferiu ressaltar. Tinha medo de irem de vítimas para culpados por causa do temperamento do namorado.
- Mas eu preciso agir antes, ter instinto. Não vou crescer muito se não for assim. Vou pra lugar nenhum - assumiu um peso na voz. Queria intimidar um inimigo imaginário.
- Chega - Sabrina interrompeu, descontente. - Não quero saber absolutamente nada desses seus esquemas.
- Então me deixa aqui. Se quiser, pode zarpar - resmungou para a garota. - Eu resolvo o rolê todo e, quando cê acordar amanhã, nem falamos mais sobre nada disso, de Anônimo, Windera ou o meu caralho de asas.
- Ir embora sozinha? Nem fodendo - fez uma pausa e ficou olhando para baixo, analisando as pernas balançarem no ar. - Se bem que ia ser maneiro ver a Windera ser colocada contra a parede. Não gosto daquela menina...
Hélio não respondeu e continuou atento à entrada. Sabrina encarou a pistola. Não queria acreditar que Hélio pudesse de fato atentar contra outra pessoa tão levianamente. Conhecia o jeito dele, sempre usava dessas coisas pra botar medo nos outros, parecer maior e mais intimidador. Torcia para que ele usasse a arma apenas para, no máximo, se proteger num caso muito extremo.
Mas, mesmo assim, a arma lhe causava arrepios.
O tédio deu lugar à preocupação. Olhou para a rua distante e deserta pela janela. A escuridão sempre lhe alimentava um pavor, um mistério. Somada ao silêncio da sala, fez com que seu corpo arrepiasse por inteiro. O único som que chegava ao seu ouvido era o tique-taque de um grande relógio de ponteiro pendurado acima da parede atrás do balcão da secretaria.
Foi assim que deu-se conta do real tempo que havia passado. Miriam tinha deixado-os a sós há mais de dez minutos e não retornou. E ainda haviam outros sumidos.
- Marcos e o Dário também não apareceram - Sabrina continuou a construir sua linha de raciocínio, desta vez em voz alta. Percebendo o devaneio da garota, Hélio não respondeu e continuou na sua atividade, compenetrado. - Será que a Miriam e o Felipe tão bem?
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Eu Sei Quando Você Mente
TerrorPrimeiro, uma carta sem remetente com um aviso: alguém sabe o seu segredo mais profundo. Dias depois, uma ligação anônima. Se não confessá-lo na linha, é assassinado. Não hesite. Eu sei quando você mente. É assim que um psicopata assombra oito joven...