Miriam caminhava a passos largos e silenciosos sobre o caminho de pedras da entrada do bloco do ensino médio para o pátio ao lado de Rômulo. A garota colocou sua mão esquerda sobre o peito do rapaz, em sinal de que ele deveria parar o percurso assim como ela.
O professor não questionou, apenas ficou estático e em silêncio porque havia percebido que a atitude de Miriam vinha de um momento de alerta. Ela poderia ter notado algo à frente e parado para que eles continuassem despercebidos.
Para entender melhor, Rômulo olhou para a garota e verificou onde seus olhos castanhos apontavam no intuito de os acompanhar. Ela estava compenetrada feito uma estátua encarando a cantina, lá longe. Rômulo até amenizou a sua respiração, como se não pudesse fazer barulho nem pelo ar entrando e saindo das narinas. E esperou enquanto olhava para a mesma direção.
Depois de alguns segundos tensos de atenção, Miriam finalmente soltou a mão do peito do rapaz e sussurrou:
- Acho que vi alguém.
- Quem? - ele indagou arrepiando-se todo com a possibilidade de não estarem sozinhos no pátio.
A região central da escola era ampla e aberta. Tinha apenas quatro grandes e velhos abacateiros e bem espaçados. Entre eles, um coreto protegia algumas poucas mesas de estudos, marcando exatamente o meio do terreno da escola. Mais para cima, para onde Miriam estava atenta, a área da cantina se elevava após alguns degraus junto ao refeitório e os bebedouros.
Ao lado direito, no fim do caminho, ficava o prédio da secretaria. Até chegar nele, havia um longo trajeto contornado pelas salas do ensino fundamental, que ficavam nas duas extremidades. Elas davam direto para a área externa e um alpendre curto fazia a vez dos corredores.
- Não sei. Era uma sombra - Miriam sussurrou de volta, já retomando os passos aos poucos. Rômulo fez o mesmo. - Eu tô maluca. Vamos pelos cantos.
Se atravessassem o pátio direto para a secretaria, estariam banhados pela luz do luar e totalmente vulneráveis. Nem mesmo as copas dos abacateiros estavam dando conta de tapar todo o luar. Então Miriam indicou com o dedo para irem até abaixo do alpendre para que caminhassem pelas sombras mais pesadas. Caminharam devagar por algum tempo, colados nas paredes externas das salas de aula e algo os fez parar novamente.
Do nada, fez-se uma escuridão. Como se alguém tivesse apagado a luz do mundo. Miriam esticou o pescoço para fora do alpendre enquanto olhava para o céu. Percebeu que a lua cheia havia sumido e agora estava escondida sobre uma única e baixa nuvem que cobria todo o céu. Um vento forte e frio soprou sobre os dois. A atmosfera os deixou ainda mais assustados.
- Tamo quase, bora - Miriam disse novamente para que avançassem.
O caminho havia se afunilado e a área descoberta não era mais tão ampla como no centro do pátio. Eram duas partes com alpendre, uma de cada lado. Entre elas, uns cinco metros ao ar livre.
Miriam observou a parte aberta no exato momento que um clarão iluminou todo o corredor por meio segundo, seguido de um estrondo que fez os dois saltaram de leve os pés do chão com susto.
- Cê viu aquilo? Que porra! - Rômulo sussurrou e juntou ainda mais seu corpo ao de Miriam.
Mas ele não se referia ao trovão.
No exato momento que a branquidão banhou a escola, puderam ver, no alpendre do lado oposto, uma figura escura e esvoaçante correndo no mesmo sentido ao que eles rumavam, mas com mais velocidade, então logo desapareceu novamente. Mesmo a luz forte do relâmpago não lhes entregou detalhes sobre aquela figura. Seu rosto, braços, pernas, nada. Apenas uma mancha preta contornada pela luz e sua sombra projetada na parede e portas das salas entre as sombras dos pilares de madeira do alpendre.
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Eu Sei Quando Você Mente
TerrorPrimeiro, uma carta sem remetente com um aviso: alguém sabe o seu segredo mais profundo. Dias depois, uma ligação anônima. Se não confessá-lo na linha, é assassinado. Não hesite. Eu sei quando você mente. É assim que um psicopata assombra oito joven...