𝐅𝐈𝐑𝐄 𝐎𝐍 𝐅𝐈𝐑𝐄 (𝐡𝐨𝐭𝐝)

006.

VISENYA VELARYON

Visenya frequentemente sonhava que era um dragão. A fome intensa apertava seu estômago enquanto ela voava acima das árvores. Asas poderosas que cortavam o ar frio com facilidade. Dessa vez ela atacou outro dragão, optando por usar os dentes em vez das chamas. Suas mandíbulas fortes fecharam-se ao redor da garganta do outro dragão. Sangue metálico deslizou pela língua e pela barriga. Com um rugido, ela soltou uma parede de fogo, cozinhando sua presa e queimando qualquer coisa perto dela. Carne queimada e cinzas encheram o ar.

Fogo e sangue.

Quando despertou, Visenya afastou os lençóis suados. Ela odiava que o gosto metálico ainda permanecesse em sua boca nesmo quando já estava acordada, era como se ela tivesse realmente atacado o animal.

Seus sonhos nem sempre eram assim. Às vezes ela voava, outras vezes ela estava no Fosso dos Dragões. Ela gostava disso. Gostava se sentir como um dragão.

Visenya rolou para fora da cama, seus pezinhos pousando na pedra fria. Ela encontrou seus chinelos e roupão e saiu silenciosamente de seu quarto. Depois dos sonhos de caça, ela gostava de ir a cozinha roubar alguma coisa para se livrar do gosto de sangue na língua. Ela estava se aproximando da cozinha quando uma cabeça prateada chamou sua atenção. Ela o reconheceu imediatamente. 

Aemond.

Eles não se falavam desde o incidente no pátio, que resultou em Sor Harwin e seu pai Lorde Lyonel Strong deixando a Fortaleza Vermelha e voltando para seu castelo em Harrenhal. A tensão de sua família com os Hightower crescera a níveis sufocantes e a Rainha Alicent havia proibido qualquer mínima interação entre seus filhos e os filhos da Princesa Rhaenyra. Helaena não participava mais nem mesmo das aulas de costura e bordados com Visenya.

— Você vai continuar se escondendo nas sombras ou vai sair? — Aemond perguntou.

— Eu não estou me escondendo. — Visenya retrucou defensivamente, saindo da escuridão e entrando na luz fraca das tochas.

— Parecia que estava sim. — Aemond respondeu, arqueando uma sobrancelha.

— Eu não me escondo. Sou o sangue do dragão. Os dragões não se escondem. — A resposta de Visenya pareceu agradar Aemond, pois ele sorriu. — Por que você está fora da cama? Sua mãe sabe?

— A sua mãe sabe? — Rebateu o garoto mais velho.

— Responda a minha pergunta. — Visenya exigiu e Aemond riu baixo.

— Você não pode me comandar, Princesa. — Ele levou a mão até a bochecha dela e apertou suavemente.

— Você é irritante. Sabe que não gosto disso. — Visenya reclamou, mas não recuou ao toque do tio. Aemond sorriu para ela. — Eu tive… um sonho ruim. — Ela se sentiu na necessidade de desabafar, Aemond era seu único verdadeiro amigo na corte.

— Minha irmã tem sonhos. Às vezes eles são ruins. — Aemond contou a ela.

— Por que você está acordado? — Ela perguntou novamente, esperando por uma resposta honesta.

— Eu não tenho dormido muito bem. — Aemond admitiu.

— A cozinheira faz doces deliciosos. — Contou Visenya, apontando para as portas da cozinha. — Eu vou roubá-los. Você quer um pouco?

Aemond pareceu surpreso por um momento, mas então sorriu e acenou com a cabeça. Visenya entrelaçou sua mão a dele e o puxou até a cozinha. Com bolos de limão e frutas cristalizadas, a amizade deles voltou a florescer apesar de estarem presos na política e nos segredos das gerações anteriores.