I : MAR DE SANGUE.

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: ALERTA DE GATILHO
tentativa de estupro.

31 de JULHO, 1452 •
( 50 dias após a tomada europeia )

O azul do mar beijava deliciosamente a proa do barco vermêniano. O toque suave das ondas soava tão gracioso quanto os abraços calorosos de Yongbok em uma noite chuvosa e fria.

Seu ruído confortante era o único barulho que inundava a audição de um príncipe sequestrado, o qual deixava seu corpo ferido e sujo descansar no canto mais escuro das entranhas daquele navio. Sua respiração era dolorida, a cada inspiração queimavam-se seus pulmões com o ar sufocado e coberto por mofo.

A boca seca, os lábios rachados, os olhos cansados, os braços machucados, as pernas fracas, o cabelo embaraçado. Sequer parecia um príncipe herdeiro, sequer parecia aquele Hyunjin tão exuberantemente lindo o qual Mi-suk tanto amava.

Foi então que ele finalmente entendeu a razão daquele sonho que teve em seu oitavo aniversário: não era mais um príncipe que tanto costumava ser, era um prisioneiro.

A quietude das ondas do Pacífico foi-se rompida pelo irritante barulho da madeira em contato com passos elegantes e lentos. Hyunjin sequer se deu o esforço de levantar a cabeça para olhar, afinal, seu coração traumatizado já sabia de quem era aquele caminhar cheio de soberba e arrogância.

Os fios loiros penteados harmonicamente invadiram a escuridão, e um sorriso ladino tomou o rosto bronzeado da ocidental. Linyah MacGyver, tenebrosamente cruel.

— Ora, ora, ora — cantou. — Bom dia, vossa alteza. Devo me curvar?

— O que você quer? — as primeiras palavras daquela manhã saíram dos lábios do coreano, tão afiadas quanto os espinhos no coração murcho de MacGyver.

Ele estava coberto de desgosto, por isso preferiu encarar a escuridão ao invés dos olhos esverdeados da outra. Qualquer coisa era mais agradável do que tais olhos maldosos.

— Vim ver como estava — debochou, finalmente conseguindo assim um rápido olhar ladino do mais alto. Uma risada baixa tomou sua boca. — Não, não sou tão desocupada a esse ponto.

O Hwang, sem um mínimo de ânimo e paciência, apoiou o queixo nas próprias pernas, virando-se para a parede e dando as costas como resposta para a outra.

— Você já foi mais educado.

— E o que tenho eu com isso? — falou em tom de desdém. — Além de me tratar como um animal impuro, ainda quer que eu seja bondoso?

Linyah riu.

— Perde a coroa, mas não perde o senso de humor.

Ele a encarou fervoroso, pensando seriamente em formas de matá-la e ainda sair inteiro depois. Mas Linyah era pior que o próprio diabo.

— Indo direto ao assunto, alteza — disse, apoiando os braços nas grades de ferro e assim vendo melhor a expressão de desprezo do estrangeiro. — Venho avisar-te que em breve verá a luz do sol.

— Vai me matar, então? — rebateu com rapidez. — Porque a única forma de sair daqui é morrendo.

Ela abriu um sorriso cínico.

— Ainda bem que é ciente disso, Hwang, mas pra sua sorte eu estou de bom humor ultimamente.

O homem levantou uma sobrancelha, duvidando.

Estamos chegando em casa, querido. Amanhã estaremos em Vermênia.

O olhos arregalaram, o corpo enfraqueceu, a garganta fechou e o coração do jovem Hyunjin apertou quando notou o quão longe estava das pessoas que amava. Não havia mais como voltar, assim como não havia mais forma de viver em paz.

𝐓𝐡𝐞 𝐎𝐮𝐫 𝐏𝐫𝐨𝐦𝐢𝐬𝐞 II | 𝗛𝘄𝗮𝗻𝗴 𝗛𝘆𝘂𝗻𝗷𝗶𝗻.Onde histórias criam vida. Descubra agora