V : A FUGA.

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[ 18 de JANEIRO, 1453 ]
CASTELO DOZZILIANO,
COREIA do SUL.

🏹: LEE E. MI-SUK.

Senti o mundo despedaçar-se em trilhões de pedaços quando cheguei ao calabouço mais uma vez, vendo meu irmão de pé, apoiando sua força em uma parede, lutando para permanecer firme.

O lugar estava escuro e gélido, da mesma maneira como desde o dia em que foi criado, destinado a aprisionar sonhos e vidas cheias de vigor. A única luz que ali se encontrava ali era a chama de uma tocha longínqua, a qual iluminava metade do rosto de Yongbok, deixando-o tão deprimido e solitário quanto costumava ser.

Aproximei-me dele, ouvindo sua respiração áspera e fadigada.

— Espero que saiba como sair daqui — falei baixo, temendo ser ouvida. — Não possuímos a chave, como pretende libertar-se?

Felix me encarou com os olhos cobertos pela escuridão, porém com um sorriso vitorioso. Ele realmente sabia como executar seu plano tão perigoso, entretanto, certeiro.

— Eu venho observando cada milímetro desse lugar desde que fui posto aqui, minha irmã — respondeu, grave e rouco. — Não te colocaria em risco se não estivesse completamente seguro do que planejo.

Suspirei com medo, mas também cansada. As cicatrizes recentes ardiam em minhas costas e pernas, implorando para serem fechadas, cuidadas, curadas. Cicatrizes que ferem meu corpo, mas também perfuram meu coração, o qual tão distante está de seu dono, do homem que possui suas chaves na palma das mãos.

Este pequeno pedaço pulsante de carne e sangue que tanto dói e grita, suplicando por socorro, suplicando pelo amor que tanto o mantinha aconchegado e seguro. Tal amor que, talvez, jamais o alcançará novamente.

— Onde quer chegar, Felix? — questionei-o.

Eu sei onde escondem as chaves.

O ar estacionou em meus pulmões, e respirar tornou-se um peso. Senti a ansiedade consumindo meu corpo magro e faminto, fazendo minhas entranhas tremerem.

Pedi aos céus para que meu irmão estivesse certo, para que nossos pescoços não terminassem pendurados em cordas velhas e desgastadas.

— Yongbok...

— Confie em mim, Mi-suk — aproximou-se das grades de ferro, segurando-as firmemente, quase caindo sob os próprios joelhos. — Nós seremos livres em breve, mesmo se precisarmos morrer para isso.

Respirei fundo, e o oxigênio entrou e saiu queimando, ardendo como fogo em minhas narinas. A voz profunda de Felix soou, acariciando meu coração como uma coberta quente.

— Preciso que sejas corajosa agora, Lee — pediu. — Não se assuste com o que vai ver, isso é completamente necessário neste momento.

Ouvia ele atentamente, pronta para obedecer ao seu comando. Seria capaz de tudo para libertar-me desse inferno.

— Pegue a tocha, e caminhe até o lugar mais escuro deste calabouço — mandou o loiro maltrapilho. — Vejo os europeus caminhando em direção a escuridão depois de me trancafiarem aqui após suas... visitas.

Com o coração doído, fiz como me ordenara, tomando uma tocha mais próxima nas mãos. Senti seu calor tocar meu rosto, arrepiando meu corpo. Olhei para meu irmão, o qual me encarava esperançoso.

— Faça isso — disse convicto.

Respirei fundo, e sentindo os tornozelos tremerem, segui. Fui com pavor até onde a escuridão dançava, afastando-a com a luz quente da chama. Ver o que havia ali fez meu estômago vazio se revirar em agonia.

𝐓𝐡𝐞 𝐎𝐮𝐫 𝐏𝐫𝐨𝐦𝐢𝐬𝐞 II | 𝗛𝘄𝗮𝗻𝗴 𝗛𝘆𝘂𝗻𝗷𝗶𝗻.Onde histórias criam vida. Descubra agora