IV : MEIO HWANG.

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MASMORRA DO CASTELO •
VERMÊNIA, EUROPA.

O silêncio pairava naquele lugar escuro e sujo, e o único som que se ouvia era o coração acelerado do príncipe maltrapilho.

Ouvir a voz rouca e amedrontadora de um desconhecido chamando-o de "irmão" fez suas entranhas se revirarem dentro de si. Ele teve vontade de vomitar, embora estivesse com o estômago completamente vazio.

Hyunjin encarou o homem a sua frente, o qual sorria macabro e vitorioso, tendo metade do seu rosto tomada pelas sombras. As forças restantes do herdeiro se esvaíram, sumindo como pó em uma ventania.

— É muito bom ver-te na lama — o mais velho disse, encarando a alma do aprisionado.

Ele engoliu em seco.

— Perguntei quem é você — retrucou, fazendo esforço para manter uma conversa lúdica.

Jun-seo riu baixo, negando com a cabeça. Seus olhos possuíam a escuridão incorporada, e ele parecia ter sede de vingança – apesar de Hyunjin não entender o porquê.

— Meu nome é Shin Jun-seo, alteza — o coreano respondeu ligeiro, debochando ao chamar o outro pelo seu estereótipo real.

O sorriso amarelo em seus lábios rachados assustava o mais novo. O Shin carregava um olhar ameaçador, observando a derrota do príncipe em sua pele machucada.

Se sentiu maior que ele, melhor que ele, mais digno que ele, mais humano que ele. Assim, com os pulmões cheios de força e o coração tomado pelo rancor, ele pronunciou:

— Ou devo dizer... Hwang Jun-seo?

Um trovão de repente abalou a estrutura da masmorra, anunciando uma tempestade que estava a caminho daquele reino. O corpo de Hyunjin se contorceu em um arrepio, e seu coração parou por alguns segundos.

A risada alta e provocativa de Jun-seo se juntou ao barulho do trovão, deixando tudo ainda mais confuso e assustador para o príncipe. Ele não se mexia, apenas ria. Aquele sorriso tão terrível, o qual tomou os pesadelos de Mi-suk por longos anos.

Hyunjin quis correr, fugir do campo de visão daquele homem misterioso e esquecer o absurdo que acabou de ouvir, porém as correntes em seus punhos o impediam. Correntes que o cortavam e faziam seu sangue escorrer gelado, marcando o chão de azul.

Seu coração estava a um passo de pular das costelas que o sustentava.

— É um prazer te ver onde sempre deveria estar, irmãozinho — o maior disse, rompendo aquele silêncio.

A chuva, então, começou a cair, forte e descontrolada. Suas gotas cheias estouravam em contato com o solo descuidado, banhando e molhando o reino europeu – o qual não possuía mais salvação. Relâmpagos clareavam e trovões rugiam, abalando Vermênia, abalando o coração medroso de Hyunjin.

— Por que me chama assim? — o príncipe perguntou, gaguejando e sentindo sua garganta queimar. — De onde me conheces? De qual reino você pertence?

— Você é bem curioso para um príncipe, não acha? — retrucou, aproximando-se lento das grades da cela. — Eu vi a sua podre família pisar em mim por toda a minha vida, não te devo resposta alguma.

— Suponho que seja dozziliano.

— Prefiro ser um cadáver invés de ter tal nacionalidade — bravejou.

— E eu prefiro voltar a minha nação antes de virar um cadáver — rebateu o príncipe. — O que você quer comigo, afinal? Não basta estar sofrendo, ainda tenho que te ouvir falar absurdos?

𝐓𝐡𝐞 𝐎𝐮𝐫 𝐏𝐫𝐨𝐦𝐢𝐬𝐞 II | 𝗛𝘄𝗮𝗻𝗴 𝗛𝘆𝘂𝗻𝗷𝗶𝗻.Onde histórias criam vida. Descubra agora