Uma luz ofuscante machucou meus ossos fracos e quebradiços no momento em que abri os olhos.
Experimentei uma brisa fria beijar meu rosto como um convite, embora não sentisse nenhum centímetro do meu corpo. Olhei minhas mãos, e ambas pareciam nuvens distantes, as quais estavam a segundos de se apagarem completamente.
Meus ossos batiam um contra o outro como um sino no topo de uma igreja, causando-me uma dor forte, no entanto agridoce. Não sentia nada, afinal. Nem dor, nem alívio. Nada.
Estava como um cadáver rígido, gelado e sem esperanças, o qual entregou-se a morte sem sequer tosquenejar. Ouvi meu coração escorrendo pelos ossos, derramando em meus calcanhares.
Estava morto? Estava vivo? Eu não o sabia.
Meus olhos estavam pesados, embora leves. Minha garganta estava fechada, apesar de expressar um cântico glorioso, como um líquido açucarado descendo por minha língua. Os pés sujos pareciam flutuar, tal qual um esqueleto frágil, e não havia chão para pisar.
Apesar disso, não caía, pois estava sendo sustentado por uma força que não era minha. Ouvia o vento cantar suave e longínquo, chamando o meu nome solenemente. Fui atraído por tal voz, caminhando em direção à um rio cristalino calmamente, o qual possuía pedras preciosas descansando em sua margem, como dentes afiados e coloridos.
A água se movia pacificamente, dançando com a luz das pedras como se ouvissem canções de um baile. Eu ainda podia sentir o chamado quando cheguei a beira do rio. Olhei para ele, para suas águas, e ele olhou para mim de volta.
Entretanto, não pude ver meu reflexo em seu corpo transparente. Afinal, eu era um fantasma? Um espírito? Eu não o sabia.
Então ergui os olhos adiante, e vi uma árvore alta, a qual não tinha fim. Seu topo ultrapassava as nuvens, embora as raízes não estivessem dormindo pelas entranhas da terra. Seus cabelos eram verdes e dourados, e seu caule era tingido por um marrom cintilante.
Meus dedos magros logo tocaram seu tronco. Não via meus ossos, mas pude sentir a textura da árvore. Não era uma madeira bruta e antiga como previa, mas era macia e leve como uma pluma, mordiscando minha carne.
Encostei a testa em seu corpo, ouvindo sua pulsação, como se carregasse um coração forte e cheio de amor. Abracei suas extremidades, e fechei os olhos, respirando com dificuldade.
Na verdade, acho que eu não conseguia respirar.
De repente, senti minhas pernas enfraquecerem e minha mente ficar distante. Tudo pareceu derreter como manteiga, e o chamado ficava cada vez mais perto, mais alto, mais estridente, abalando meus ouvidos e consumindo meus tímpanos. Pus as mãos sob as orelhas, apesar de não ter a capacidade de senti-las.
Caí de joelhos perante a árvore, afundando a cabeça entre os joelhos sangrentos. Foi a primeira vez que senti alguma coisa. Senti a dor corroer cada centímetro dos meus ossos fracos, apertando meus músculos, sangrando minha pele, engolindo minha alma, matando meu coração.
Um zumbido gritou em meus ouvidos, e mesmo de olhos trancados, pude sentir uma luz aproximar-se, prestes a me engolir como uma refeição apetitosa.
A voz chamava-me, ela não cessava.
"Felix"
"Felix"
"Felix"Não conseguia falar, não conseguia responder, não conseguia respirar.
"Felix"
"Felix"
"Felix"A luz, finalmente, tomou meu corpo para si, segurando todo o meu ser em um abraço quente. Senti todo o meu sangue ferver, como se houvesse acabado de ser vítima de uma queimadura. Parecia que eu estava sendo queimado vivo.
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𝐓𝐡𝐞 𝐎𝐮𝐫 𝐏𝐫𝐨𝐦𝐢𝐬𝐞 II | 𝗛𝘄𝗮𝗻𝗴 𝗛𝘆𝘂𝗻𝗷𝗶𝗻.
FanfictionReino tomado. Povo Dozziliano em perigo. Guerras e mais guerras. Tudo isso foi o suficiente para o verdadeiro herdeiro se reerguer e lutar pela justiça. Nesta nova parte de 'The Our Promise', tudo será possível. "Vim recuperar o que é meu: o trono."...