III : TEMPESTADE.

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🏹: LEE E. MI-SUK.

12 de JANEIRO, 1453
CASTELO DOZZILIANO,
COREIA DO SUL.

Ouvi o céu estalar antes mesmo de ter visão. Abri os olhos com agonia, sem saber ao certo se aquele barulho tratava-se de um ataque ou de um trovão.

Os colegas escravizados se levantavam rápido, embora o sol sequer houvesse mostrado sua luz. Percebi que ainda era madrugada quando um relâmpago iluminou o cômodo, como garras de um monstro invadindo as entranhas de um animal.

Meu coração bateu rápido no momento em que percebi que havia acordado novamente, e para meu azar, acordei viva. Minhas costas doíam e meu estômago ardia de fome. Fazia dias que não comia, que sequer tive uma refeição descente. Esqueci a sensação de como é ter barriga cheia.

— Andem — um homem maltratado falou. — Levantem antes que eles cheguem e sejamos tratados como selvagens.

Alguns resmungaram, outros se espreguiçavam e outros encaravam o horizonte escuro. Eu, assim, pus força nas pernas feridas e cansadas e me ergui – embora ainda não estivesse pronta para levar chicotadas mais uma vez.

A chuva banhava este reino destruído à medida em que eu caminhava pelos corredores, os quais, antes, eram bem cuidados e cheios de luz, porém hoje está frio, rodeado por teias de aranha e pela escuridão.

Seguia em alguma direção indeterminada quando ouvi outro trovão soar e abalar as estruturas deste antigo palácio. Então, sem razão nenhuma aparente, olhei adiante e vi uma porta entreaberta, com luzes de tochas vindo de seu interior. Meu coração mandou-me entrar, mas também estava com medo. Para onde daria este caminho? O que havia adiante dali? Por que eu deveria seguir por aqui?

Questionava-me assim, porém, quando menos notei, já estava empurrando a porta e sentindo seu rangido invadir meus tímpanos. O portal dava acesso a uma escada suja e paredes de pedra com musgo, tendo apenas algumas tochas como luz. A escada descia e era coberta pelas sombras, parecendo a própria entrada para o mais profundo inferno.

Movida pela curiosidade – que talvez me mataria em poucos minutos –, coloquei o pé direito no primeiro degrau. Senti uma dor impagável, e imaginei que meu tornolezo estivesse torcido, mas conti o grito. Não queria ser descoberta e machucada a essa altura da situação.

Mesmo com dor no corpo e o pavor me tomando à medida em que eu descia aquela escada, continuei, até chegar em outra porta. Esta, por sua vez, era feita de um metal pesado e coberto de lodo, com inúmeras trancas e fechaduras.

Mas... por que estava aberta?

Usei o resto da força que tinha e empurrei o objeto com o corpo, me dando espaço para atravessá-lo. Assim adentrei ao lugar que essa porta grossa e vagarosa escondia, e um arrepio corroeu minha coluna.

Havia uma escada quebradiça no pé da porta, a qual dava acesso ao local. Suas paredes eram de pedra, rachadas e com musgo. A luz vinha da chama quase apagada nas tochas. Existiam cômodos como prisões, feitas por um ferro tão reforçado que poderia perfurar um tórax facilmente. O lugar era enorme e aparentava tomar todo o subsolo do castelo, tanto que possuía uma parte totalmente escura em sua estrutura, a qual me deu calafrios. Não havia ninguém ali, apenas uma sombra na prisão mais distante.

Após minha análise rápida e medrosa, perdi o equilíbrio das pernas quando percebi onde estava: era o calabouço.

— Mi-suk...

Ouvi meu nome soando em um grunhido baixo e cheio de dor, vindo das partes mais assustadoras e solitárias daquela prisão. Mesmo com medo, apertei os olhos, tentando ver qual alma amargurada me chamava, porém não obtive sucesso.

𝐓𝐡𝐞 𝐎𝐮𝐫 𝐏𝐫𝐨𝐦𝐢𝐬𝐞 II | 𝗛𝘄𝗮𝗻𝗴 𝗛𝘆𝘂𝗻𝗷𝗶𝗻.Onde histórias criam vida. Descubra agora