Capítulo 8

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Havia chegado o dia em que os agentes assumiriam o cargo pelo qual foram vocacionados, mesmo que por normas seriam treinados em todas as áreas, seriam aperfeiçoados para o propósito que cumpririam naquele temporada. Os recém recrutados também seriam direcionados para bases que poderia ser aquela ou não, até o presente momento apenas A1 tinha a informação.

A cerimônia iniciaria às 18 horas, os agentes encontravam-se em êxtase, mesmo diante das longas horas restantes que ainda faltavam para que a mesma ocorresse. Assemelhava-se a uma cerimonia formatura, por isso os agentes separavam seus melhores trajes de gala. Não existia regra quanto ao código de vestimenta, os estilos variavam desde o mais clássico a um padrão completamente novo, tudo conforme as mais variadas personalidades.

Por não se preocupar tanto em como estaria no dia da cerimônia, decidiu que aproveitaria melhor seu tempo se alimentando, a comida sempre elevava seu humor a níveis altíssimos. Se tivesse que continuar a presenciar tantos surtos histéricos em toda a ala feminina, poderia ficar louca de uma vez por todas. Ao chegar no refeitório, deu de cara com o ambiente praticamente vazio e internamente deu pulinhos de alegria.

Rubi, como a boa caçadora de locais inusitados e pouco frequentados decidiu ir em mais uma aventura pela agência, devidamente alimentada, colocou mais algumas frutas em uma sacolinha para evitar imprevistos e marchou em direção a saída. No pouco tempo que estava ali, tinha notado que a maior parte dos agentes não tinha curiosidade ou interesse em explorar o ambiente da agência, eles se ocupavam tanto em servir a agência e os seus interesses que simplesmente esqueciam de contemplar o privilégio que era estar ali.

Uma das características de Rubi que seus colegas pontuavam constantemente, tratava-se da capacidade da agente entrar e sair de lugares sem nem mesmo ser notada. Sua discrição era algo completamente incomum na maioria das pessoas daquela organização. Para muitos era algo sem importância, porém isso não havia passado despercebido aos olhos do líder da agência, A1.

Rubi era uma mulher especial, mesmo que para a maioria era apenas mais um par de olhos castanhos apagados devido ao sofrimento. À medida que os relatórios iam chegando, A1 confirmava que mais uma vez havia feito a escolha certa, Rubi não sabia, no entanto havia sido escolhida muito antes que o bilhete escorregasse por debaixo de sua porta. A agente 0145 tinha o coração puro, porém todo brilho e esperança de vida haviam sido apagados de seu interior e agora o que prevalecia era uma névoa que sugava todas as suas forças.

O inimigo também tinha notado a agente e A1 sabia disto, diante disto cuidaria para que no momento a jovem fosse fortalecida em sua identidade como agente. Ele trataria de protegê-la contra os ataques e ciladas, pois se fosse atacada agora não seria possível afirmar se resistiria ou mesmo conseguiria manter seu coração da mesma forma.

Os outros  recém-chegados também eram alvos, e isto não era nenhuma novidade, pois não haviam se tornado verdadeiros guerreiros e tudo era muito novo para cada um deles, porém por hora estavam seguros e o líder também se asseguraria disso. Rubi, por outro lado era um caso um pouco mais complicado e o fato deles serem brutalmente atacados pouco depois da nova turma confirmava essa hipótese.

A1 sabia que assim como ele o inimigo também estava acompanhando a vida da jovem, e o desgraçado vinha tramando estratégias para a destruir de vez. Por isso, ele teve de ser mais rápido e recrutá-la antes do que gostaria. Havia também colocado uma das suas agentes de confiança para a acompanhar e protegê-la, N0320. Sabia que ele estava rondando Rubi sem que a mesma percebesse.

Não muito distante dali, Rubi se deliciava com um pacote de salgadinhos que tinha encontrado pelo chão. Possivelmente alguém havia perdido, a embalagem se encontrava lacrada, nesse caso achado não é roubado, pensou. Tinha saudade de ir ao mercado e encher o carrinho com porcarias. O pequeno mercado não muito distante da agência ainda não podia ser explorado pelos novos agentes, senão com autorização direta do A1, e acompanhados por outros agentes experientes. Os recém chegados eram mais vulneráveis e não saberiam como se virar muito bem caso fossem pegos, tinham também a opção de pedir a outros agentes, ou encomendar no refeitório, mas para Rubi e isso estava fora de cogitação, não incomodaria ninguém com algo tão banal.

Imersa em seu mundo particular, quase não sentiu seu smartphone vibrar. Era um aparelho altamente tecnológico e que só podia ser rastreado pelo setor de tecnologia da base diante da autorização de A1, nele continham todas informações e suportes para a comunicação de agentes e a execução de suas funções.

- Amiga, onde você está? – A voz da agente N0320 berrou do outro lado da linha. – Faltam apenas três horas para a cerimônia de iniciação e posso deduzir que você nem mesmo almoçou ainda.

Rubi sorriu, a agente N0320 fazia questão de chamá-la de amiga e estava sempre preocupada com seu bem-estar, parecia até mesmo uma mãe e vivia controlando  se ela já havia almoçado, se estava bem e até mesmo se Rubi tinha escovado os dentes. 

- Você tem toda razão, ainda não almocei e nem mesmo separei a roupa que vou para a cerimônia.

Do outro lado da linha ela podia escutar a agente 0150 gritar um: Eu não acredito nisso, 0145!

- Venha para o refeitório agora. Eu e a 0150 estamos te esperando e para sua sorte eu tenho o traje ideal para você, já sabia que faria isso. – E desligou sem nem mesmo dar-lhe chance para questionamentos.

- Eu vou porque eu quero e não porque elas estão mandando. - Afirmou para si mesma e logo depois deu uma crise de riso enquanto marchava rumo ao refeitório.

Na cantina, as duas esperavam soltando fogos pelos olhos e Rubi achava graça de toda cena, o que deixou as agentes ainda mais nervosas.

- Nós não deveríamos nem mesmo deixar você comer – Revirou os olhos. – Coma depressa antes que eu mude de ideia, nós temos muito trabalho a fazer.

Rubi se sentia uma boneca sem ter opção de optar sobre o que queria vestir ou como deveria se maquiar. A agente 0150 já se encontrava pronta ao seu lado e parecia uma princesa, de tão linda. Seus olhos pretos haviam sido destacados por uma maquiagem exuberante e seus cabelos vermelhos foram presos em um trança lateral linda contrastando com seu vestido preto cheio de brilhos.

- Pronto, nada de olhar no espelho até estar com o vestido. – Entregou um vestido envolto em uma capa para ela. – Anda logo.

Rubi se olhou no espelho e viu o quanto estava linda, nem se lembrara da última vez que se sentiu assim. Seus olhos castanhos continham uma maquiagem discreta, seus cabelos negros e ondulados caiam como cascata sobre seus ombros e o longo vestido rose ressaltava sua beleza com elegância e simplicidade.

Na sala de interação os agentes M0300, 0157 e 0160 esperavam pelas jovens.

- Definitivamente, você não se cansa de me surpreender, 0145.

O agente M0300 não se importou com os olhares questionadores, nem mesmo se intimidou diante da careta que Rubi lhe lançou. A moça por outro lado apenas abaixou sua cabeça sem ter ideia de onde esconder a vermelhidão de suas bochechas.

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