AIPM - Agência de Inteligência e Proteção Mundial

Capítulo 14

Após uma manhã intensa de treinamento para assumir sua próxima função, Rubi resolveu aproveitar as próximas horas de descanso com uma total procrastinação em sua cama. Os treinos começavam cada vez mais cedo e terminavam cada vez mais tarde. Além de treinamento físicos, treinamentos psicológicos de aperfeiçoamento faziam parte de sua rotina, que a preparariam para o cargo que assumiria. Por si mesma resolveu que merecia dormir um pouco, antes que o coordenador mudasse de ideia e a convocasse para outra atividade que pudesse achar necessário.

Apesar de todo cansaço, dormir não parecia mais tão fácil como acreditava que seria, virava-se de um lado para o outro, todavia nada parecia surtir efeito. Seu corpo parecia relaxado, mas sua mente tornava-se mais pesada e nem mesmo fechar os olhos impedia o turbilhão de pensamentos que a dominava, pensava em tudo e em nada ao mesmo tempo. Até mesmo pensou que pudesse ser alguma de suas crises, que não tinha a semanas, porém não era uma sensação ruim em si, apenas bastante incômoda.

Vencida pelo cansaço, Rubi bufou e abriu os olhos. Ao virar-se para o lado seus olhos fitaram o grande livro, que nem mesmo tinha se preocupado em ler até aquele momento, o livro parecia reluzir diante de si e ela lembrou-se então das palavras do Agente A1.

"Esse livro será para vocês um manual sobre tudo que devem saber para uma vida cheia de paz. Ele te ajudará a encontrar um sentido em sua existência."

Paz e sentido! Era tudo que ela não tinha, mas que desejava de todo seu coração. Porém não entendia como tal livro poderia ajudar em alguma coisa, já que ele realmente não parecia ter nada demais, e isso foi o que se passava em sua mente desde que chegara, mas naquele dia foi diferente.

A jovem tomou o livro que tinha um estilo medieval em suas mãos e passou a sentir todo seu corpo formigar internamente, assemelhava-se a toques suaves em sua alma, sem que pudesse controlar seus olhos encheram-se de lágrimas ao ler:

"Tu és o meu servo, eu te escolhi e não te rejeitei, não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o seu SENHOR; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel. Eis que envergonhados e confundidos serão todos os que estão indignados contra ti; serão reduzidos a nada, e os que contendem contigo perecerão."

Era como se Rubi estivesse recebesse um abraço em sua alma, cercado de amor e carinho. Sorriu internamente como aquilo parecia ridículo a visão, se perguntava como um livro tinha tanto poder em suas emoções. A verdade é que não se lembrava da última vez que havia se sentido intensamente acolhida desde a morte de seus pais. Apenas ela sabia de sua própria jornada dolorosa desde o acidente até o dia em que finalmente completou a maior idade e pode seguir seu próprio caminho longe de todos aqueles que a fizeram mal, mesmo distantes, suas cicatrizes a mantinha ligada aos traumas do passado, mas aquelas palavras que ela leu, acendeu algo dentro de si, uma partícula de esperança que apesar de pequena, estava ali.

Ela sorriu.

Para a agente, a sensação desconhecida lhe permitiu perceber que não era mais uma alma vivente esperando o dia de sua partida em direção ao mundo dos mortos. Desde que chegara aquela agência, tinham-lhe apresentado um motivo suficientes para lutar e continuar tentando, a pequena chama de esperança crescia dia após dia em seu coração.

Em sua mente acionou-se um alarme, ficar em seu dormitório não era mais uma possibilidade, e como um detector de metais que aponta o caminho em direção ao metal precioso, assim sua mente a direcionava a um local que ela ainda não sabia, mas talvez tivesse alguma ideia.

Chegando ao seu destino o corpo vacilou e aquela coragem que havia adquirido, pareceu se esvair de seu corpo. Com a mão levantada se decidia entre a dúvida de bater ou não na porta do escritório, afinal de contas o que ela falaria? Certamente ele deveria estar ocupado ou com coisas mais importantes, do que uma novata que nem mesmo sabia o motivo para estar ali tomando seu precioso tempo.

"O que de pior pode acontecer? " Pensou

Com os olhos fechados preparou-se para bater, porém seu smartphone vibrou no bolso de sua calça, indicando que estava recebendo uma chamada.

- 0263, está em treinamento? – A voz saudosa do agente M0300 soou através do aparelho.

- Não, ganhei o restante do dia de folga. – Respondeu, afastando-se da porta. – Então? – Perguntou após o silêncio do outro lado da linha.

- Ah claro, é porque alguns colegas do nosso setor estão aqui reunidos, e como você se afastou um pouquinho esses dias devido aos treinos, talvez quisesse interagir com a gente e quem sabe relaxar um pouco. – Suspirou. – E depois poderíamos dar uma volta antes da reunião com o A1 começar.

De fato, desde que seus treinos se iniciaram, salvo nos momentos de reunião e refeições, ela não se encontrava com ninguém além do coordenador e suas colegas de dormitório. Estava sempre cansada e exausta de todas as atividades, que nem mesmo percebera os dias passarem. Rubi até mesmo sentia falta as vezes, estar ali havia a deixado mal-acostumada em relação às companhias, sempre tinha pessoas por perto, não se lembrava mais como era viver em total solidão.

Olhou para a porta pensando se daria continuidade ou não ao que iria fazer. Porém sentia uma voz suave entrando em seus ouvidos que a incentivava a prosseguir com o plano inicial.

- Acho que seria bem legal, porém tenho algumas coisas a serem resolvidas. Entro em contato com você assim que acabar aqui, tudo bem?

- Aguardo você então. – Despediram-se.

Rubi marchou até a porta e bateu antes que mudasse de ideia e voltasse correndo para o dormitório.

- Entre. – Disse a voz por trás da porta. – Filha, eu estava esperando você.

Naquele momento ela soube que estava fazendo a escolha certa, e que esse encontro mudaria todo o percurso de sua vida como agente.