AIPM - Agência de Inteligência e Proteção Mundial

Capítulo 12

Rubi e o agente M0300 caminhavam em meio a uma conversa leve revelando seus gostos um para outro, ele havia lhe falado que a levaria para um lugar que quase ninguém daquela agência ia, pois a maioria estava ocupada demais para se lembrar de um dos lugares mais bonitos daquela organização. O local era conhecido como lugar secreto, que de secreto não tinha nada, já que todos os agentes o conheciam. Seu nome peculiar dava-se ao fato de que lá aconteciam coisas que jamais poderiam ser reveladas ou explicadas, senão por aqueles que vivenciavam.

O agente M0300 e sua irmã N0320 vinham de uma família que servia aquela agência há anos e ambos cresceram lá, eles conheciam grande parte daquele lugar como a palma da mão e também já tinham visitado muitas outras bases. Seus pais haviam se tornado agentes quando ainda eram crianças e desde então a agência tem sido o seu lar.

- Uau, que incrível! – Ela estava de fato admirada com a arquitetura diferente de tudo que já havia visto em qualquer outro lugar, era lindo e exuberante, ao mesmo tempo que remetia simplicidade e pureza.

A construção era um pequeno casebre quase todo em vidro, porém do lado de fora não era possível ver o que continha em seu interior. Seu exterior era circuncidado por um adorável caminho de pedras, e cercado por um lindo jardim com algumas árvores frutíferas. Umo pequeno e raso rio com águas reluzentes e cristalinas rodeava todo exterior, o som das águas batendo nas pequenas pedrinhas soavam como canção aos ouvidos de quem o escutava, trazendo uma harmonia até mesmo ao mais perturbado coração. Ao entrar dentro da pequena construção, o agente tocou em uma tela onde começou a passar um curta metragem sobre a história da agência, onde narrava como tudo começou em alguns vídeos de momentos do início da instituição. Ele narrava também a história sobre o grande livro, que Rubi ainda não havia lido, tal livro fora escrito por muitos agentes antes mesmo da formalização da agência como se encontrava atualmente, narrado pelo seu criador  pelo Agente A1.

- Como é o grande livro? – Rubi perguntou assim que acabou o vídeo. – Você já o leu?

- Você ainda não? – Ela meneou a cabeça em negação, envergonhada. – Eu confesso que não o leio com tanta frequência como deveria, porém ele me ajudou em vários instantes, principalmente em períodos de guerras contra o inimigo, quando sou atacado, é basicamente um manual de vida mesmo. Como devemos nos portar como agentes, os valores da agência, cartas de amor e etc.

- Acho que irei dar uma olhada depois, parece interessante. – Deu de ombros.

- Faça isso! Agora vem, quero te mostrar mais coisas. – Puxou ela enquanto segurava suas mãos.

O cômodo em que entraram era uma sala ampla totalmente branca, com nada além de uma mesinha e óculos de realidade virtual. M0300 colocou os óculos em Rubi e depois em si.

- O que é isso? – Ele apenas murmurou algo como "fique tranquila".

O agente então começou a mexer em um controle até que aparecesse um menu, totalmente estranho e confuso para Rubi.

- Escolha um continente.

- Ásia. – Falou o primeiro que veio à sua mente.

- Vou te levar para conhecer umas das nossas bases asiáticas. – Ele selecionou uma das várias existentes na tela e toda a sala branca tornou-se em um novo ambiente. - Esse pequeno quartinho no casebre nos possibilita acessar vários lugares.

Os corredores da tal base asiática eram semelhantes à base em que estavam, eles podiam ver como eram os refeitórios e alguns outros detalhes. Era incrível como mesmo tendo padrões fiéis ao da agência em que estavam, tinha sua própria personalidade de acordo com a comunidade local. Assemelhava-se a uma viagem transcultural, e eles conseguiam ver também como o local havia sido formado e basicamente como se mantinham.

- É bastante limitado, nós não podemos fazer muito, mas é possível conhecer as principais bases de cada continente. – A agente M0263 estava tão impressionada, sabia que a AIPM usava a melhor tecnologia conhecida aos homens, entretanto jamais imaginou o que tal ferramenta possibilitaria.

- O instrumento de realidade virtual para o fim que estamos usando agora, não é muito popular em meio aos agentes, muitos dos novatos nem mesmo sabem que isso aqui existe, e os mais velhos não ligam. – Tirou os óculos dela. – Vamos embora? Não sei você, mas estou com fome. – Ela apenas assentiu.

Com sua memória fotográfica, ela guardaria cada passo que a levasse até ali, infelizmente já estava escurecendo e não conseguiriam explorar tudo, tinha muito a ser conhecido naquele lugar, chamado o lugar secreto.

Ao chegarem ao refeitório para a sorte deles, ainda não haviam finalizado o horário do lanche da tarde, o que para eles foi uma baita alegria. Rubi nem mesmo sabia como ainda estava de pé, sem almoço e em seu estômago unicamente as porcarias que M0300 havia compartilhado com ela, após sair da reunião com o coordenador.

O silêncio agradável que estava na mesa dos novos amigos, foi interrompido pelo jovem agente 0156, agora agente M0306 que apesar de atuar na mesma área que Rubi, não o via desde a cerimônia de escolha.

- Ei, M0263. – Saudou o agente M0306. – Onde você vai atuar? – Ele sentou-se ao lado da agente, enquanto M0300 tentava parecer desinteressado na conversa remexendo o seu lanche, porém tão curioso quanto o rapaz.

Rubi sabia que não poderia ser completamente clara em sua resposta, o coordenador havia a deixado ciente de que ela não poderia falar com ninguém. Não que para ela fosse um grande sacrifício não falar de sua vida pessoal.

- Serei treinadora inicial, eu acho? – Falou ainda incerta.

O seu ex-treinador, que até então se mantinha calado, a encarou com incredulidade.

- Como assim, 0263? Eles quase nunca colocam uma novata para treinar ninguém. – M0300 nem mesmo fez questão alguma de disfarçar seu desgosto.

Ele só havia assumido a função de treinador há cerca de três meses atrás, após ter lutado arduamente para ocupar aquela posição, que por sinal achava até mesmo que era menos do que merecia, já que havia passado praticamente toda sua vida naquela agência.

- Bom, acho que não que deve ser nada demais. – Respondeu dando de ombros, ignorando o tom que estava começando a desagradá-la.

Oras não havia escolhido aquilo, eles mesmo quem escolheram para ela, Rubi nem tinha procurado a agência, eles foram atrás dela. Não podiam a culpar por algo que não tinha feito e nem mesmo pedido..

- Sério, pergunte aos que chegaram com você. A maioria foi designada a no máximo assistente de alguém. – Meneou sua cabeça em direção ao agente M0306.

M0300 não entendia, a garota nem mesmo havia passado por um treinamento ou algo do tipo, apenas tinha caído de paraquedas ali e já foi colocado no mesmo nível que ele, que investiu anos em conhecimento. Poderia parecer egoísmo, porém era uma injustiça em sua visão.

- M0306, qual a sua função?

- Serei assistente do M0300. – Falou sem graça.

O agente arregalou os olhos. Como assim, ele tinha um assistente e nem mesmo o consultaram antecipadamente? Ele nunca tinha tido um antes, e nem mesmo precisaria, era bom sozinho e dava conta de suas tarefas com excelência. Nunca tinha sequer cometido um único erro, trataria de resolver com o coordenador, ou quem sabe com o próprio A1.

- Eu não preciso de um assistente! – Resmungou mal-humorado.

- Não foi isso que o D0202 me disse. – Deu de ombros e sorriu ironicamente.

A face do agente assumiu variados tons de vermelho e era quase possível ver a fumaça saindo em cima de sua cabeça, como nos desenhos. E a partir daquele momento, decidiu que tornaria a vida do agente à sua frente bem mais difícil, até que ele não aguentasse mais e fosse correndo se arrepender de sua petulância.

- Te vejo mais tarde, 0263? – Despediu-se ignorando totalmente M0300, que nem mesmo se deu o trabalho de olhá-lo.

- Claro! – Se limitou a dizer e sorrir.

Rubi estava completamente inerte ao clima que se formou, estava ocupada demais divagando em seus pensamentos e se perguntando sobre o que a tornava tão diferente de estar naquela posição sem nem mesmo ser preparada previamente. A curiosidade e o medo disputavam espaço em seu interior, o que será que o Agente A1 queria com toda essa história?