AIPM - Agência de Inteligência e Proteção Mundial

Capítulo 11

Rubi terminava de limpar a piscina com o agente M0300 ao seu lado e, por incrível que parecesse, estava gostando de tê-lo como companhia. Os dois haviam limpado três piscinas e os dois tatames, a jovem tinha apenas vinte minutos para terminar de limpar outras duas, ou não chegaria a tempo para a reunião de apresentação com o coordenador.

A agente estava concentrada demais em terminar seu trabalho de forma rápida que nem mesmo percebeu o colega ao seu lado, apenas quando ele a empurrou em direção a piscina. Rubi, então começou a afundar e parecia não conseguir chegar à superfície. Subia e descia enquanto o ar parecia querer faltar em seus pulmões. M0300 por outro lado, sentiu o desespero tomar conta de si e nem mesmo se importou com mais nada, apenas pulou para salvá-la.

"O que foi que eu fiz? " Pensava ele.

Ao chegar perto notou que Rubi não estava se afogando de verdade, a garota estava apenas fingindo. Ele havia ficado com a consciência pesada à toa, o desespero havia passado e agora restara apenas o desejo de afogá-la de verdade.

- M0263, não acredito que você estava fingindo, fiquei preocupado de verdade.

- Você bem que mereceu! – Falou em meio a uma crise de riso escandalosa. – Agora, acreditar que eu me afogaria assim tão fácil é me subestimar demais, garoto.

- Nunca ouvi você sorrir desse jeito.

O sorriso de Rubi se desfez e seu rosto corou, enquanto um clima embaraçoso se formava no ambiente. M0300 não pôde controlar, as palavras simplesmente escapuliram de sua boca sem permissão, sua reação foi apenas coçar seus cabelos em um silêncio constrangedor.

- Ah não, faltam apenas cinco minutos! – Constatou ao olhar o grande relógio do galpão. – E ainda falta uma para limpar, vou ter que limpar as piscinas pelo resto da semana. – Falou já do lado de fora da piscina com a peneira em mãos.

- Pode ir lá, eu termino de limpar essa aqui. – Pegou a peneira de suas mãos.

Rubi deu apenas um abraço desajeitado no agente e saiu correndo para pegar uma toalha no vestiário, não sem antes gritar um obrigado ao rapaz, que apenas sorriu em resposta. Toda encharcada e sem tempo para trocar de roupa, apenas jogou uma toalha qualquer em seus ombros e correu o mais rápido que pôde até o segundo pavimento do galpão, o atraso de manhã já havia sido o bastante, queria se manter livre de confusões.

- Foi por pouco, M0263. – Ela olhou para o relógio e respirou aliviada ao perceber que tinha chegado no horário certo. – Vejo que teve problemas com a piscina. – Seu rosto enrubesceu.

A sala do coordenador era ampla e lhe dava uma visão privilegiada de todo o galpão através das grandes janelas de vidro temperado atrás de sua poltrona macia e extremamente confortável. Seu escritório era sofisticado e minimalista, com móveis de madeira em tons escuros e um computador de última geração em sua mesa, além de prateleiras com livros e algumas fotos de sua família que Rubi não prestara muita atenção em quem eram.

- Você viu tudo não foi? – Ele meneou a cabeça positivamente com um sorriso irônico.

Ela optou por apenas ficar em silêncio e deu-lhe um sorriso amarelo como resposta, tinha medo de piorar a situação se abrisse a boca.

- Sente-se, se puder colocar a toalha para não molhar a poltrona, ficarei grato. – Apontou para a maravilhosa cadeira de couro que a agente estava e assim ela o fez. – Você sabe o motivo de estar aqui, agente?

- Conhecerei minha área de atuação, eu acho. – Deu de ombros.

- Também. – Entrelaçou os dedos abaixo do queixo enquanto se inclinava para frente, olhando nos olhos da jovem. – M0263, antes de qualquer coisa, deixe-me explicar. A função que irá assumir daqui para frente, não quer dizer que a ocupará durante todo tempo que estiver vinculada conosco. Você sabia que temos agentes que não vivem em bases? – Rubi apenas balançou a cabeça em negação. – Temos agentes infiltrados em todas as esferas da sociedade, ocupando cargos nos hospitais, no governo, nas lojas e tudo mais quanto possa imaginar. Apesar de ser o coordenador, não sei onde você estará no futuro, apenas o A1 sabe.

A conversa com Rubi possivelmente demoraria mais do que com os outros novos agentes, ser a última não tinha sido mero acaso, ela precisaria saber tudo que o Agente A1 orientado para Derek, conhecido como coordenador D0202. Desde o momento em que chegou à agência a tanto tempo atrás presenciara vários agentes abandonarem a organização, não era uma vida fácil, todavia segundo o líder, Rubi não seria um deles. Eles nunca mascaravam quem eram, ou as dificuldades que enfrentariam pela frente, as incertezas e a confiança total que precisariam ter com a certeza que o líder sempre faria a melhor escolha pelo bem de todos os agentes.

- A função assumida por nós pode durar meses, anos ou toda a vida, no entanto nunca teremos garantia de permanecer nela. Sempre fazemos com todo nosso coração e isso faz com que aqueles que doam sua vida para essa missão sejam recompensados constantemente e também em um futuro que não conhecemos, mas sabemos que existe. – Explicou.

Rubi se cada vez mais instigada toda vez que descobria como tudo funcionava, para ela não era uma conversa tediosa ou sem importância, algo queimava em seu coração dizendo que ela havia finalmente encontrado seu lugar. Apesar do medo gritar querendo amedrontá-la sobre tais incertezas, tornava-se semelhante a um sussurro quando seus olhos e ouvidos focavam no propósito de estar ali.

- Nós temos uma casa próxima a base onde moram crianças que foram abandonados por suas famílias ou que perderam seus pais precocemente. – Os olhos dela encheram-se de lágrimas, pensava como a vida poderia ter sido melhor se ela tivesse tido o mesmo privilégio daquelas crianças, talvez teria sofrido menos. – Você, minha querida, será a professora de artes marciais deles, e também de alguns filhos dos agentes desta base. Sei que pode parecer menos do que você imaginou, mas para algo maior é preciso treinamento, ninguém começa de cima e....

- Eu não pediria nada melhor do que isso, é incrível! Jamais imaginei estar em uma causa tão nobre. – Cortou o homem completamente emocionada.

- Você é mesmo aquilo que o A1 nos disse. – Disse sorrindo. – Ah, e por favor ainda não conte para ninguém ainda, o nosso abrigo é secreto até mesmo para alguns agentes, se perguntarem diga apenas que será treinadora inicial e que eu irei treiná-la para isso. A1 zela muito por nossas crianças, elas são o futuro de tudo e atingi-las agora é perigoso. Diante de qualquer dificuldade ou necessidade, saiba que pode bater aqui. – Apontou para a porta, levantou e a abraçou.

É, ela sabia que sim. D202, com seu abraço paternal e humor questionável, era uma das pessoas para quem que ela correria caso precisasse, ele resplandecia amor paternal e irmandade. ele parecia jovem demais para ser seu pai, então decidira que o consideraria um irmão mais velho.

Ao chegar ao primeiro pavimento do galpão, ela surpreendeu ao notar que seu ex-treinador, M0300 ainda estava lá, aparentemente esperando por ela novamente com uma sacola cheia de comidas.

- Achei que já tinha ido.

-Fui e trouxe isso, não deu tempo de almoçar. – Apontou para a sacola. – Vamos dar uma volta? – Perguntou de forma tímida, coçando a cabeça.

Rubi achou fofo que pela primeira vez viu o egocêntrico M0300 com vergonha, não faria mal aceitar.

- Vou apenas ir ao dormitório tomar um banho e trocar de roupa, ok?

- Tudo bem. Eu aproveitei que estava lá em cima e tomei no vestiário mesmo. Vou te esperar no refeitório então.

No momento em que os agentes M0263 e M0300 saíram, Derek pegou todos os relatórios e as chaves do galpão e marchou em direção ao escritório de A1, os dois teriam muito o que conversar.