Capítulo 8 - A nova sala

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Passou-se não sei quantas horas ou talvez até dias sem a porta abrir outra vez, eu poderia contar quantas vezes pensei que seria esquecido aqui, a mulher não chegou a aparecer novamente com outra refeição e nenhum outro funcionário pisou naquela sala para remover a carcaça do coelho, ele estava inerte na frente da porta junto a gaiola, sem uma gota de sangue em seu corpo.

Começava a pensar que talvez tivesse sido abandonado aqui para morrer, isso se eu pudesse morrer por sede de sangue, mas com experiências passadas, não, é mais provável que eu vá perder minha cabeça e enlouquecer antes disso.

Eu ouço a porta se mover para o lado, como sempre faz, e acabei me decepcionando ao ver que não era a mulher das refeições. Na verdade era uma outra, não muito velha eu diria que tinha a idade da minha amiga que vivia no castelo, em torno de uns 26 ou talvez 27, seus cabelos negros presos em um rabo de cavalo e um olhar afiado, acompanhada de dois homens.

— Vamos mover ele daqui.

— O quê? ...- Olhei para eles.

Eu não entendia muito bem, me mover daqui? Para onde eu iria? As minhas dúvidas começaram a me deixar ligeiramente preocupado de que fim isso me traria.

— Não interajam com ele.- Alertou ela tirando alguma coisa do bolso.

— Não! Espera!.- Me levantei, mas assim que consegui me equilibrar após ter levantado bruscamente, senti aquilo que eu mais odiava ocorrer novamente, o choque.

A coleira disparou aquilo e me segurei para não gritar de dor enquanto me contorcia no chão, 1...2... Contei mentalmente esperando que parasse, esse parecia ter levado mais tempo do que o normal para finalizar, quando finalmente parou eu ergui o olhar ainda trêmulo por conta do choque sem conseguir me mover.

A mulher me encarava com a cartela cinza em suas mãos, talvez fosse um controle, mas tinha quase certeza que a coleira havia se ativado por conta daquilo, ela guarda no bolso de sua calça e faz um sinal para os dois homens que parecem compreendê-la, então se aproximam e prendem meus pulsos atrás das costas com aquelas mesmas ... Algemas? Aquelas mesmas que usei na igreja, já era o suficiente para saber que não conseguiria me soltar, as minhas condições atuais não me ajudariam nisso.

Assim que fui devidamente preso por eles, colocaram aquela mesma focinheira e por fim, cobriram meus olhos com uma venda, cada um dos homens se mantiveram em ambos os lados e seguravam firme meus braços.

— Isso dói!.- Avisei, meus músculos pareciam se torcer nos braços deles e isso machucava.

Mas falar com eles ali pareceu o mesmo que nada, eles não mexeram nenhum músculo até que um deles começou a andar, consegui identificar que era por causa da mulher na nossa frente que começava a caminhar. Eu também comecei a me mover tentando acompanhar os passos deles, estava meio atrapalhado sem poder ver o que estava na minha frente, mas eles não me deixavam cair.

Conforme avançávamos, conseguia imaginar que as escadas estavam chegando e meu corpo inconscientemente foi se movimentando com mais cautela.

— Anda logo! .- O homem da minha esquerda disse em um tom rígido me puxando para a frente sem cuidado algum.

Meu pé topa com tudo no degrau da escada que sabia que estava próximo, a dor aguda em meus dedos fez com que soltasse um grunhido, mas rapidamente passa e com cuidado e agora respirando pela boca piso com mais cuidado nos próximos degraus, sentia medo de pisar em falso enquanto eles não retardavam a velocidade de suas passadas.

Brutos!

Chegando do lado de fora eu apenas senti os raios de sol bater em minha pele descoberta, não queimava, e eles sabiam que não. Ouvi mais algumas pessoas na frente e então paramos.

— Onde vamos o deixar, pai?

— Está tudo preparado, é só deixá-lo lá.

— Certo, e depois?

— Você sabe o que fazer.

Alguns segundos de silêncio, esfreguei o pé no chão em busca de aliviar a coceira. E então voltamos a andar, não demorou para sentir debaixo dos pés uma superfície lisa, mais fria, talvez fosse madeira, não era nada parecido com o do castelo.

Seguimos mais alguns metros, descemos as escadas comigo faltando cair a cada puxada brusca daqueles homens para então eu ser largado de qualquer jeito numa sala vazia, quando eles retiraram a minha venda eu pude ver que a sala era bem escura, não tinha espaço para ar puro, o único rastro de luz ou era do lado de fora que vinha da porta ou a lâmpada amarelada do teto, logo de cara dava para ver como o lugar era abafado e desconfortável em comparação a sala anterior.

Eu não queria ficar ali.

A mulher estava apoiada numa mesa que me parecia uma mesa de ferramentas, se eu pudesse comparar ela com alguma coisa, seria a mesa de ferramentas dos Sakamakis que está disposta numa sala de tortura. Mas só de ver as pessoas envolvidas naquele lugar que me encarava ainda algemado e no chão, eu sabia dizer que eles não eram uma ameaça. Não naquele momento, então poderia ficar tranquilo.

A morena levantou o olhar para o teto, por alguns segundos, respirou fundo e soltou o ar se aproximando de mim, assim que estava próxima, soltou minhas algemas, eu fiquei ali mesmo, parado, pois se eu reagisse, puxariam aquelas armas, e por mais rápido que eu fosse, haveriam pessoas do lado de fora aguardando qualquer movimento suspeito do vampiro.

— Sua refeição deve chegar na hora do jantar.

Foi a única coisa que eu ouvi dela naquele dia antes de sair da sala junto aos seus companheiros.

A Noite do SacrifícioOnde histórias criam vida. Descubra agora