Capítulo 9 - A caçadora 'cruel'

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Um mês se passou desde que o Doug morreu, e eu mudei de sala, são novas coisas para se explorar, como a forma de sair, e são métodos diferentes. O horário das refeições não é mais a tarde, e sim a noite, todas as noites, sem exceção, a mulher que eu tinha derrubado na última tentativa de fuga, me levava coelhos, já a questionei se ela tinha criação de coelhos, não consigo imaginar que os caçadores pegam eles de fazendas, se não de um pet shop. O meu questionamento deixou ela meio surpresa por eu começar a falar com ela, acredito que eu tenha me tornado mais falante aqui do que antes dos caçadores, talvez tenha sido em parte o tédio, mas não é tão ruim conversar com eles.

Sei que os caçadores estão vendo isso como uma brecha ou tentativa de cooperação da minha parte, todo cuidado é pouco com vampiros afinal. Enfim!

Eu estou recebendo um pouco de água numa bacia e uma toalha para me limpar e não deixar um mal cheiro no que parece ser um porão, como não tem uma boa ventilação o cheiro ficaria muito forte com a falta de higiene, por mais que eu aceite me limpar apenas com isso, quero um banho digno, mas não permitiriam assim tão fácil, talvez eu possa negociar respostas por recompensas.

Neste caso, deveria tentar ir aos poucos, uma coisa ali, e outra aqui, um banho com chuveiro iria requerer que eu saísse daqui, e eles não confiam em mim, eu consegui ouvir em uma das conversas a mãe dela dizer que não me queria debaixo do mesmo teto, ela morre de medo dos "sanguessugas", não a julgo, eu também teria medo de outros vampiros se estivesse no cardápio deles. Então para conseguir algo assim deveria primeiro provar que sou completamente dócil ou que estou sob o poder deles, se brincar, talvez seja capaz de conseguir outras coisas além de um banho, com isso eu quero dizer a liberdade, por mais repetitivo que seja.

Ao longo da minha estadia aqui, descobri que a caçadora responsável por mim tem um irmão, aposto que são do tipo irmãos gêmeos que não se parecem em nada, se não, ele é o mais velho, considerando que vive numa família de caçadores ele deve ser um também, não que eu tenha o visto, parece que apenas alguns poucos têm acesso a este lugar, como sua irmã e a moça dos coelhos.

Olhei para o calendário grudado na parede em frente a mesa de ferramentas que tinha uma bacia com água e uma toalha jogada, não sei quantas vezes observei esse calendário, os dias nunca parecem passar. A responsável por continuar os estudos do Doug sempre vem aqui com algum questionamento ou tentando verificar o quão verídico é o que está nos documentos do pesquisador.

Eu conseguia lembrar nitidamente da nossa última conversa.

***

— Vocês realmente comem comida humana?

— Isso e dentre outras coisas.- Me encontrava sentado numa cadeira de madeira que está disponível lá enquanto ela revisava um documento, seus olhos hora percorriam o papel para em seguida focar em mim.

— Isso não faz sentido.- Rebateu.

— Faz sentido para mim.

— Vocês conseguem sobreviver sem sangue?

— Ahn... Talvez? Mas não recomendo testar.

A única coisa que eu sabia da minha própria espécie é a sede por sangue e a necessidade de saciar ela, talvez tenha existido um momento onde um vampiro fora aprisionado e privado dessa fonte vital, mas o que eu tenho em mente é simplesmente minhas experiências, se eu ficar com muita sede, perco a cabeça e a probabilidade de fazer uma chacina é maior.

Provavelmente se eu fosse privado, não muito depois, no meu primeiro gole após tanto tempo sem uma gota, eu estaria procurando mais, mais e mais, até que tivesse sobrado nada, quase como se nunca tivesse sentido algo tão bom como aquilo. Desse fato eu conheço, mas não por me recordar, desse cenário eu tenho em minha memória apenas alguns flashes e imagens, mas a história realmente foi contada somente pelo Noir.

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