Capítulo 5

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As entrevistas já estavam em andamento, e a voz de Caesar Flickerman ressoava pelo salão. Minhas mãos suavam, fazendo-me passá-las repetidamente pelo vestido, agora dez vezes mais desconfortável. Eu usava um vestido verde-esmeralda, semelhante ao anterior, com várias cordas presas ao tecido, cinco no total. Utilizava do cabelo solto, com algumas pequenas tranças espalhadas por ele. Em cima de minha cabeça, uma coroa manchada de vermelho. Tudo era um fardo, uma lembrança sombria que eu desejava eliminar.

Quando o tempo acaba e Beetee é dispensado, minha foto aparece no telão e então escuto algumas pessoas gritando.

— Agora ela, a garota do Distrito 4 que surpreendeu a todos. A máquina mortífera. Ou melhor dizendo, rainha das cordas. Uma salva de palmas para Ruby Collins. — Caesar anuncia e subo no palco, tentando mentalizar as palavras de Ron.

"Não entendo por que está tão nervosa, nada que você disser impedirá que os jogos continuem."

— Ruby Collins! — ele sorri e olha na minha direção, encantado.

— Caesar Flickerman.

— Ha! Eu me arrepiei todo. — ele ri chocado e olha para plateia que o acompanhava — Todos nós aqui sabemos que você é considerada uma ameaça para qualquer um dos tributos. Você matou 5 jovens utilizando uma corda. É o necessário para deixar qualquer um mijando nas calças. — ele ri e me esforço para soltar uma risada convincente.

5 jovens. Significam 5 rostos que me assombram toda vez que fecho os olhos. Mãos sujas de sangue que nunca conseguirei limpar. Quem tivesse se esforçado para entender, saberia que minha vitória foi pura sorte, mas a maioria gostava de acreditar na versão mais dramática. Que matei todos os cinco a sangue-frio, utilizando as armas que me eram dispostas.

Na arena, minhas habilidades eram limitadas: Velocidade, armadilhas e facas. Quando o tempo cessou, vi vários tributos correndo em direção a Cornucópia em busca de armas, mas optei por seguir as instruções de Ron. Corri o mais rápido que pude em direção à floresta. Mas não havia nada. Diante de vários tributos armados até os dentes, eu era uma presa fácil. Fiquei vagando pela floresta por algumas horas até dá de cara com uma corda descartada por algum tributo que não tinha conhecimento de sua importância e que claramente não sabia utilizá-la. Então quando escureceu, avistei um garoto dormindo com uma mochila nas costas. Eu precisava pegá-la. Então fiz o que qualquer pessoa que desejasse sobreviver, faria: sujei minhas mãos.

Eu não poderia montar uma armadilha, não faria sentido, não conseguiria matar alguém apenas prendendo-a. Então utilizei a corda como arma. Em um movimento rápido passei a corda pelo pescoço do garoto do Distrito 8 e a apertei o mais forte que pude. Eu via o garoto agonizar e procurar desesperadamente por alguma arma ao seu redor. Ele tentava gritar por ajuda e então eu me dei conta do óbvio, ninguém dorme durante os jogos tão tranquilamente, o rapaz estava acompanhado, e seu aliado não deveria estar muito longe. Depois de uns dois minutos o menino morre e então decido eliminar o outro oponente, faço uma armadilha rápida com o que tenho e espero a garota do Distrito 8 correr desesperadamente em direção ao menino caído. Sem olhar muito ao redor, ela cai na armadilha facilmente. Chorando, ela diz cheia de ódio. "Você que fez isso? Aquele era meu primo..." estremeço com suas palavras e, sem querer ouvir mais nada, cravo uma faca em seu coração. Duas mortes em uma noite. As três seguintes seguiram o mesmo padrão.

Ao sair da arena descobri que meu apelido tornara-se "rainha das cordas" e as pessoas adoravam assistir meus primeiros dois assassinatos. Era chocante alguém sair de caça para caçadora e ainda matar dois primos de modo tão violento.

— Mas o que todos queremos saber, Ruby. É se essa garota maluca que todos amamos continua viva, ou ela demonstrará piedade nesses jogos?

— Piedade? — rio irônica — Eu acho que ninguém teve piedade de mim quando decidiram me jogar naquele inferno novamente. Então, não, não terei piedade.

Caesar ri, satisfeito.

— Acho que teremos mais uma dose de histeria nesses jogos, pessoal. — ele fala, arrancando risos da plateia. — Bom, Ruby, não poderia deixar de mencionar uma história que está circulando por aí. Dizem que você poderia ter um interesse romântico em um dos vitoriosos presentes. — olho para Caesar com uma expressão de total confusão, e ele prossegue — Minhas fontes afirmam que não é somente um vitorioso, mas alguém do seu próprio distrito.

Que. Merda. Está. Acontecendo. Entrevistadores não deveriam fazer esse tipo de pergunta, certo? Não para mim, talvez para Katniss e Peeta, mas não para mim.

— Não sei a que você está se referindo, Caesar. — dou uma risada extremamente forçada, gerando gargalhadas da plateia.

Ao olhar em direção à escada, vejo Finnick apoiado em um pilar, rindo da minha situação. Maldito. E enfim entendo, Finnick teria mostrado para alguém a carta ridícula que eu teria escrito quando tinha apenas 12 anos.

— Não fique envergonhada, metade de nós já teve uma queda por Finnick Odair. — a plateia ri e então ele continua — O que quero saber é se uma outra dupla de amantes desafortunados está prestes a ser formada.

Um misto de raiva, confusão e nervosismo me invade. Devo dizer a verdade ou mentir? Torço para que o tempo da minha entrevista acabe mas não tenho essa sorte, o tempo parece se arrastar mais do que nunca.

— Bom... — sorrio um pouco — Finnick e eu nos conhecemos a muito tempo. — faço uma pausa para organizar minhas ideias — Mas, qualquer pessoa que possa nos ver juntos, dirá que somos apenas grandes amigos.

— Mas o que você diria? Porque pelos vídeos que encontramos de vocês, não parece só amizade, eu diria que Finnick caiu direitinho na sua armadilha. — ele brinca.

As pessoas me olham esperançosas, aguardando curiosamente pela minha resposta. Quando olho para Ron no meio da plateia ele me dá um sorrisinho que não faço ideia de seu significado.

— Eu diria que não cabe apenas a mim determinar isso.

Caesar ri.

— Admiro sua resistência, Ruby. — o barulho que determina o fim da minha entrevista, finalmente soa. — Acho que nossa rainha das cordas merece mais aplausos. — ele fala e então a plateia o obedece, assobiando e gritando meu nome ao sair do palco.

Lanço um olhar mortal para Finnick que apenas sorri em resposta. Caesar faz uma série de perguntas para o garoto e enfim retorna ao assunto.

— Bem, Caesar, como ela mencionou, nos conhecemos há muito tempo. Quando retornei da arena, ela expressou grande alegria, e eu correspondi ao sentimento quando ela voltou para casa como vitoriosa. Eu e Ruby sempre nos entendemos desde a infância. Não diria que somos amantes desafortunados, mas estou certo de que, se não fosse pelos Jogos, eu e Ruby poderíamos ter um futuro promissor. — a plateia suspira, triste por suas palavras.

Faço um esforço para não vomitar. Era notável a facilidade com que Finnick proferia mentiras, como se carecessem de qualquer peso. Talvez, para ele, fossem realmente insignificantes. Finnick não era o tipo de cara que se preocupava com os sentimentos alheios, no entanto, experimentei uma ira profunda. Essa raiva não se limitava apenas à imagem distorcida que ele criou de mim, mas também à maneira como zombou do meu gesto. Assim, cada fibra de meu ser nutria um ódio profundo por Finnick Odair.

Mad woman | Finnick OdairOnde histórias criam vida. Descubra agora