Capítulo 1

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Cordas me prendiam e puxavam meu corpo com brutalidade. Braços e pernas esticados e presos no vazio. Nada além de escuridão e dor. E então, vozes. Acusações que soavam como uma sinfonia de tormento:"Sádica", "Psicopata", "Perversa" e "Cruel". Mas uma voz se destacava, Julianne. "Você se tornou o que eu mais temia que se tornasse, você se tornou seu pai" ela sussurrava incessantemente. Enfim, como esperado, uma última corda aperta meu pescoço. E na mesma velocidade que ingresso nesse pesadelo, desperto desesperadamente, colocando minhas mãos, agora livres, ao redor de meu pescoço, puxando a corda invisível.

— O que aconteceu?— pergunta meu meio-irmão ao abrir a porta de meu quarto.

— Eu tive um pesadelo de novo, me desculpa se o acordei.— digo ofegante.

Ele senta na minha cama e envolve seus braços ao redor de meu corpo e só então percebo estar suando e tremendo.

— Não se desculpe por isso.

— Eu só não queria que você não se preocupasse tanto comigo enquanto tem um casamento pra planejar.

— Eu nunca vou deixar de me preocupar com você.— diz Nicholas. — Aliás, temos que arranjar um psicólogo, você anda tendo muitos pesadelos ultimamente. Acho que a Capital não se importa, já que a culpa de você precisar de um psicólogo é deles.

— Como se a Capital se importasse com o meu psicológico, eles querem é ferrar com ele e você sabe disso.

— É, eu sei disso. — ele mexe em meu cabelo todo molhado de suor em busca de me confortar— Mas estou certo de que a Capital se preocupa com a imagem que você apresentará diante das câmeras. Que tal tomar um banho, ein?— Ele empurra minha cabeça e solta uma risada quando reviro meus olhos.

Tomo um banho evitando fechar os olhos e então decido dá uma caminhada pela Vila dos Vitoriosos, ponderando a possibilidade de passar o restante da noite na floresta. A escuridão me envolve, e estremeço ao notar sua semelhança com a escuridão ameaçadora do meu pesadelo.

— A rainha das cordas viu um espírito? — uma voz conhecida fala em tom de brincadeira.

— Finnick.— enfim, a reconheço. — Parece que acabo de esbarrar com um.

Ele ri e então retruca.

— Só espero que não esteja com nenhuma corda aí, seria uma pena enforcar um espírito tão bonito como esse.

Eu o odeio. Definitivamente, eu odeio Finnick Odair. Odeio suas piadinhas sem graça e o quanto elas me afetam. Caminho mais um pouco mas ele me segue e continua com suas conversas inconvenientes.

— Qual é o destino, docinho? — ele brinca, enrolando seu dedo em uma mecha do meu cabelo, só parando quando estendo o braço para afastar sua mão, arrancando um sorriso satisfeito de seu rosto. — A rainha das cordas circulando sozinha por aqui a essa hora não parece sinal de boas intenções. Confesso que isso me assusta um pouco.

Meu estômago embrulha com esse comentário e paro momentaneamente de caminhar. Era o que as pessoas pensavam de mim, mesmo fora da arena, era isso que as pessoas pensavam de mim, que sairia por aí apertando cordas pelos pescoços de qualquer um que visse pela frente. E sentiria prazer de vê-los agonizando.

— Não te interessa, Odair. Dá pra me deixar em paz por um minuto?

Minha garganta começara a trancar e minhas mãos voltam a tremer. Eu tinha que me livrar dele o quanto antes, não poderia chorar na frente de Finnick Odair, principalmente chorar por algo que ele disse, seria humilhante demais. Rapidamente escondo minhas mãos nos bolsos da calça e volto a andar, agora em passos largos.

— Só estou querendo conversar um pouco com Ruby Collin.

— Oh, agora você quer conversar comigo?— falo em tom grosseiro e finalmente olho em seus olhos.

— Como assim?— Finnick parece realmente confuso com minhas palavras.

— Esquece. — desvio os olhos meio envergonhada.

— Mas sério, por que está às quatro horas da manhã andando de um lado pro outro que nem louca?

— Estou nervosa para ir pra Capital hoje, e também tem o lance do Massacre Quaternário.— minto em partes. Estava realmente nervosa com o Massacre Quaternário, ainda existem pessoas com que amo que possuem a idade de serem sorteados para os jogos e todos sabem que a Capital sabe ser cruel. No entanto, minha indiferença em relação à ida para a Capital era evidente.

— Ir pra Capital pra quê?

— Presidente Snow disse que alguns patrocinadores gostariam de me parabenizar pessoalmente pela vitória nos jogos. É louco não é? Ganhei os jogo há 2 anos atrás, acho que é um pouco tarde pros parabéns agora.— rio um pouco.

Na escuridão, percebo que Finnick empalidece, sua pele quase tão branca quanto a neve, enquanto os músculos de seu rosto se contraem por alguns segundos.

— E você realmente vai pra Capital? — ele pergunta agora em um tom mais sério.

— Claro, não deve ser tão difícil fingir sorrisos por um dia para pessoas que me ajudaram a ficar viva. — olho para ele sorrindo— Por que a pergunta, Finnick? Não está com medo que roube seu cargo de favoritinho da Capital, está?

Ele finge uma risada que quase soa autêntica, mas a familiaridade com minha própria encenação me impede de ser enganada por algo tão familiar.

— Tenho certeza que não conseguirá, docinho. — ele se aproxima de mim e aperta meu ombro direito em sinal de proteção. — Se cuida, Ruby.

E então sai andando de volta para sua casa na Vila dos Vitoriosos. Depois de ficar dois minutos parada tentando entender o porquê de Finnick ficar tão estranho, vou em direção à floresta, passando pela cerca e ficando a mais ou menos 1 km de distância dela. Passo as próximas 3 horas encostada em uma árvore tentando esvaziar minha mente e escrevendo músicas. E então volto para casa, esperando encontrar minha equipe de preparação, mas em vez disso só encontro meus irmãos tomando café da manhã na cozinha.

— Você recebeu um telefonema.— avisa Nicholas ao me ver entrando na cozinha— Eles disseram que você não iria mais para Capital por causa da anunciação do terceiro Massacre Quaternário hoje.

"Pelo menos uma notícia boa hoje", penso.

— E o pronunciamento vai começar que horas, Nick?— pergunto

—Bom, agora.— Nicholas liga a TV e o presidente Snow já está falando.

Sento ao lado deles e aperto a mão de Darla e Josh, que ainda tinham chances de ser convocados, eu não aguentaria se tivesse que assistir um de meus irmãos naquele inferno.

— Como lembrança de que nem o mais forte pode sobrepujar o poder da Capital, os tributos homens e mulheres serão escolhidos da lista de vencedores de cada distrito.— o presidente Snow fala com um sorriso no rosto, como se estivesse me assistindo agora, satisfeito com minha expressão facial.

Aquelas palavras que ficariam marcadas para sempre na minha cabeça. Fecho os olhos torcendo para que Nick abrisse a porta do quarto e me abraçasse dizendo que era apenas só mais um pesadelo. Mas não era. Aquilo era real e estava acontecendo. Eu ia voltar de novo para a arena, para o lugar de todos os meus pesadelos. E então subo correndo as escadas e me tranco no quarto, ignorando qualquer pessoa que estivesse batendo em minha porta. Era isso, no final de tudo eu era apenas uma garotinha frágil chorando por horas encolhida na cama.

Mad woman | Finnick OdairOnde histórias criam vida. Descubra agora