Capítulo 7. Despedida

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Depois daquele episódio eletrizante, tentei me convencer de que nada foi tão real quanto a dor da perda e que eu tinha que me apegar a isso, eu vi ela ali, deitada, parecendo uma princesa em seu sono profundo... pensaram que eu estava sob efeitos de remédios para me ajudar a suportar esse momento fatídico mas, nunca estive tão sã, a par de tudo que estava acontecendo bem em frente aos meus olhos... eu sabia que ela não estava mais ali, que seu corpo só era um templo de seu espírito... eu sabia que você não voltaria. E eu preciso te deixar ir.

Eu devo seguir em frente.

Me encontro voltando para casa, após dias no hospital, com os fones de ouvido no último, escutando a playlist mais depressiva de todos os tempos.

Patroas. - Todo mundo menos você.

Como pode, o trabalho mais importante da minha vida ser marcador da minha carreira de um jeito assustador. Eu tenho medo de viver novamente, tenho medo de acordar amanhã e não ter um áudio seu nos chamando para tomar uma, ou que o Léo teria dado seu primeiro passo e também, que você mesma, ensinou mais uma palavra errada e que ele falou certinho, assim como já aconteceu das outras vezes e eu te dizer: ele não poderia ser mais seu e igual a você Marília.

Minha Lila.

Meus olhos focam em cada árvore do trajeto minuciosamente, era como se meu cérebro buscasse refujo longe de tudo que poderia me fazer mais mal.

Deito a cabeça no vidro do carro, enquanto penso o que eu faria agora, eu já cai muito nessa vida e na maioria das vezes de repente, mas desse vez, foi de longe a pior queda de todas. Eu sinto sangrar cada pedaço meu.

Durante a viagem de volta para casa, ali, longe dos fones de ouvido, meus cabelos arrepiaram e um barulho estrondoso tremeu o carro, anunciando que uma tempestade estava para cair e pela primeira vez eu sorri, singelamente sorri, porque imaginei que essa dor da alma, talvez eu não fosse a única que estava a sentir... até a natureza sabia que você faria muita falta e chorou de saudade.

— irmã... Maraisa.

Assustada, olho para Maiara que pela feição, já estava tentando me chamar.

— o que foi? - saio de meus pensamentos insanos para lhe responder.

— você está avoada irmã. - falou franzindo a sobrancelha. — eu preciso que você fique aqui comigo.

Respiro fundo, engulo as lágrimas e ela conclui.

— não dá mais para fugir, temos compromissos com a vida. - pega nos meus ombros, focando seus olhos nos meus.

— eu não sei se estou preparada para voltar aos palcos irmã, é tudo muito recente.

— irmã. - ela me abraça forte. — eu estarei aqui para você pra sempre, não importa aonde. Eu serei a sua força assim como é a minha.

Ela me confortou e aqueceu meu coração que estava apagado. Só então lembro o quando fui egoista em não procurá-la, para curar suas feridas até cicatrizar, como a mesma fizera durante toda nossa vida.

A vida precisa continuar esse é o nosso legado, levar o da Marília e é isso que me motiva, não importa. Essa é minha verdadeira identidade eu preciso voltar e voar longe ainda, temos tantos planos e sonhos a serem conquistados que seria injusto desistir sem ao menos tentar.

— irmã você está certa, esse é o legado que deixaremos. Precisamos de forças para continuar e quem mais nos entrega isso? - enxugo minhas lágrimas e as dela.

— os palcos...

— e você é a pessoa que mais amo, se estou com você, estou bem. - abraço ela com ternura e vontade de fazer acontecer.

Aos trancos e barrancos voltamos aos palcos e sem perceber, estouramos ainda mais, houve uma comoção em cima da perda, querendo ou não o Brasil inteiro sentiu o luto, Goiânia decretou luto durante todo o mês... o país ganhou a Lei Marília Mendonça, um hospital foi nomeado com o nome dela, um memorial em sua homenagem foi inaugurado e nós acolhemos todos os fãs que buscaram ajuda... você tinha que ver, eu faria tudo para voltar naquele dia e não deixar você entrar naquele avião.

A vida cresceu em cima do luto;

É claro que nada foi igual depois de você, o brilho nos meus olhos só voltam quando penso em você, quando canto você... amiga, eu voltei escrever e a cantar, foi difícil subir nos palcos, e a minha voz só sair quando é para você, e a Maiara está bem também, demorou um pouco para chorar e desabafar o luto que a sufocava, mas ela foi forte até onde aguentou e talvez se não fosse por ela, eu tinha desistido... aaah e ela terminou o relacionamento tóxico que você pediu para que abrisse os olhos. Amiga, seus fãs te chamam e choram com sua voz a cada música, é lindamente triste mas ver que a conexão que tinham ainda vive, nos motiva ainda mais... sua família está conosco, crescendo juntos como um só, a tia Ruth tem uma força surreal, se alguém merece um lugarzinho ai no céu com você é a sua mãe, uma leoa que luta todos os dias para que seu legado continue vivo e intocável...

O Léo é um assunto delicado, ele não tem mais perguntado sobre você, mas dá para ver você nele, chega ser até assustador, te juro, a mãozinha para cima na hora de dormir me lembra muito você, amiga ele vai ser o menino mais orgulhoso da mamãe que tem.

Prometo continuar cuidando dos seus. Amém.

2023.

Notas: eu precisava me despedir de alguma forma... ela será sempre lembrada e a vida vai seguir. Mesmo se eu demorar, eu volto, eu sempre volto.

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⏰ Última atualização: Jan 11 ⏰

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