Cap 5

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   Começamos a sair com mais frequência, indo ao shopping, praça, parques e até no cinema. Sham estava ansiosa para assistir Abracadabra 2, porém tinha perdido o ingresso que havia comprado. Então decidi fazer outra surpresa para ela: comprei dois ingressos e formos juntos ver o filme. Ela ficou tão feliz como no dia em que eu a levei para a biblioteca.
   Eu fazia de tudo para que ela se sentisse especial e confortável. A acompanhava até em casa, estudávamos juntos e almoçava com ela no banquinho do pátio, debaixo da árvore. Conversamos bastante e descobri que ela adorava escrever, tanto fanfics quanto poemas e que achei aquilo muito interessante! Sham conseguia se expressar melhor por meio da escrita. Nunca conheci ninguém assim.
   Com o tempo, consegui me aproximar mais dela como amigo, mas eu ainda a sentia um pouco hesitante em confiar 100% em mim. Ela ainda estremecia com o meu toque e não mantinha contato visual por muito tempo, apesar de eu achar isso fofo. Mas eu queria mais! Não queria apenas ser amigo daquela garota fofa, criativa, carinhosa e engraçada.
   Para isso, eu teria que ajudá-la á vencer seus traumas, mas ela simplesmente não me deixa ajudar, se fecha completamente! Eu só queria que ela pudesse se abrir comigo. Então planejei levá-la para a praia para ela se divertir e esquecer um pouco os problemas.
   Pedi para que ela me encontrasse na praia ás 7h, horário em que não teria muita gente. Fiquei á espera dela, sentado no banco da orla, observando o mar. Quando escuto passos tímidos e suaves vindo em minha direção.
   Olho por cima do ombro e vejo Sham vestindo um maiô preto de alça, contornando suas curvas sutis e realçando o tamanho dos seios médios, e um short jeans preto com bolsos, deixando á mostra suas pernas compridas e parte de suas coxas grossas.
   — Sham! — falo, hipnotizado pela beleza dela. — Você está maravilhosa!

...

   Ruborizo ao ouvir o elogio e olho para o lado, deslizando os dedos pela minha longa trança ruiva.
   — Hmm... Obrigada... — agradeço, sem jeito. Adrien também estava muito bonito: usava um calção de banho azul escuro, uma corrente de prata no pescoço e tinha os cabelos presos como no primeiro dia em que o vi, agora com duas mechas de sua franja soltas na lateral de seu rosto.
   Ele tinha o físico de um surfista, um corpo saudável e forte. Com certeza faria sucesso com muitas garotas, mas Adrien sempre estava comigo e eu não entendia o porque. Rejeitava com frequência vários pedidos de namoro dizendo que não estava interessado ou que tinha outro alvo.
   Adrien sorri e se levanta, os olhos dourados ainda em mim.
   — Eu sabia que você ficaria linda com roupa de banho. Agora vamos andar um pouco? A maré está baixa, dá para caminhar na areia.
   Assenti com a cabeça timidamente e descemos a escada da orla. Seguimos andando na areia fofa e macia, eu com as mãos para trás, cruzadas nas costas, e Adrien com as mãos no bolso.
   — Então... Como a Luna está? — pergunta o garoto, suavemente.
   — Ela está bem. Amanhã eu e minha mãe vamos levá-la para tomar vacina. — respondo. Olho para as ondas indo e vindo. — Luna vai voltar estressada. Ela detesta vacina.
   Ele acena com a cabeça.
   — Entendo. — olha para mim e sorri. — Gostei da sua trança.
   Coro e abro um sorriso tímido, olhando para o chão.
   — Obrigada.
   Então, Adrien gentilmente toca o meu ombro. Olho para ele e vejo em seus olhos ternura e carinho. De modo suave, o garoto desliza a mão pelo meu braço, me fazendo ter um arrepio, até chegar em minha mão. Sua palma envolve a minha e seus dedos entrelaçam nos meus. Meu coração dispara. Observo nossas mãos juntas e o primeiro sentimento que tive foi de felicidade, um quentinho no coração e borboletas no estômago. Me pego sorrindo sem jeito, minha face quente.
   Mas todo esse sentimento some e me vem á mente quantos outros garotos e garotas que fizeram o mesmo comigo e depois me machucaram, mentiram para mim, me usaram e me abandonaram.
   Ele é apenas mais um que irá fazer isso com você.
   Desvio o olhar e largo sua mão abruptamente, cruzando os braços. Adrien fica confuso.
   — Sham, o que foi? — ele pergunta, preocupado.
   — Nada. — responde de modo ríspido e aperto o passo.
   — Sham, espera. O que aconteceu? — Adrien me segue logo atrás á passos largos. — Por que você soltou a minha mão?
   Não dê ouvidos. Não confie, ele está apenas fingindo.
   — Eu já disse que não foi nada!
   O garoto me alcança e segura meu braço, me parando.
   — Eu sei que tem alguma coisa pela sua expressão e pelo modo como você está agindo. Me diga, o que foi?
   Me desvencilho de sua pegada de modo agressivo.
   — Por que você não simplesmente para de se impostar comigo e me deixa em paz?! — disparo, meus olhos brilhando de raiva. — Por que não para de fingir que gosta de mim?
   Ele franze a testa.
   — Como assim? Sham eu realmente me importo com você e gosto de você.
   — Não! É tudo mentira! E eu não vou cair nessa. De novo não.
   Adrien faz uma pausa antes de me perguntar lentamente.
   — Como assim "de novo"?
   Travo. Desvio o olhar e fico em silêncio. Não conte, ele vai fazer você passar por isso tudo de novo. Mordo o lábio e sinto um nó na garganta.
   O garoto dá um passo em minha direção.
   — Sham, pode me contar tudo. Estou aqui para te ajudar. Sou seu amigo, pode confiar em mim. — então acaricia os meus cabelos. — É sobre seus traumas?
   Não responda.
   Relutante, faço um sim com a cabeça. Adrien segura o meu queixo gentilmente, levantando o meu rosto e procurando o meu olhar.
   — Conte para mim. Tire esse peso de dentro de você, Sham. — sinto seu dedão afagar minha bochecha. Seus olhos emanavam consolo e ternura. — Confie em mim.
   Minha visão fica embaçada por conta das lágrimas. Ele está te enrolando. Não conte! Eu preciso desabafar, não aguento mais isso. Não demonstre fraqueza! É isso que ele quer. Ele é meu amigo.
   Me pegando de surpresa, Adrien beija minha testa e me envolve em seus braços fortes, me dando um abraço gentil e acolhedor. Deixo minhas lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
   — Eu tenho trauma de abandono. — Falo com a voz embargada, pousando minha testa em seu peito. — E não consigo mais... Confiar em mais ninguém... nem me envolver com ninguém... Não depois do que fizeram comigo...
   Sinto-o afagar meus cabelos de modo suave e seus braços me envolvem com mais força.
   — Você está indo bem, continue. — encoraja-me o garoto. Respiro fundo e solto um suspiro cansado.
   — Todos em que eu confiava me usaram, me machucaram ou me abandonaram e me trocaram como se eu não fosse nada. — sinto minha voz falhar, um soluço preso na garganta. Cerro os punhos, meu corpo inteiro tremendo. — Nada... — repito num tom doloroso. — Ninguém nunca quis realmente ficar... Todos que vem, vão embora... Ninguém nunca gostou de mim de verdade...
   — Não. Isso não é verdade. — retruca Adrien com firmeza. Levanto o olhar. Sua expressão era séria, mas seus olhos brilhavam. — Não diga isso. Não se culpe por isso. Se essas pessoas fizeram isso com você, o problema está nelas! Não em você. — com os nós dos dedos, Adrien acaricia minha face com leveza e enxuga minhas lágrimas.— Você é tão... fofa. Inteligente. Engraçada. Carinhosa e gentil. E eu sei que você é forte. Você vai conseguir superar tudo isso, porque você é incrível demais, Sham, para deixar esses traumas dominá-la e dominarem a sua vida. — então segura minhas mãos entre as dele. — E eu estarei aqui para te ajudar e te apoiar. Seja como amigo, ou...— um leve rubor colore seu rosto moreno e um sorriso tímido e sutil cresce em seus lábios. — ...como parceiro. O que desejar. — leva minhas mãos para seus lábios e beija suavemente os meus dedos. — Eu prometo que não vou te abandonar. Jamais.
   Sinto aquele quentinho no coração, agora mais leve, e meus olhos ficam marejados. Abro a boca para falar alguma coisa, mas não consigo. Era... forte demais... intenso demais. Foi aí que percebi uma coisa: o silêncio. Minha mente estava quieta. Nada de vozes. Nada de gritos.
   Abraço-o com força, tentando não chorar de novo. Oh meu Deus... Eu estava sem palavras para me expressar, mas Adrien já havia entendido tudo pois me apertou contra seu peito e deu um beijo em minha bochecha.
   — Oh, raposinha... — murmura ele, com a voz embargada.

O Amor Destrói, O Amor CuraOnde histórias criam vida. Descubra agora