ESPECIAL SC #01 | VEINTICUATRO (Versão da Iliana)

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I L I A N A

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I L I A N A

O que foi que eu fiz?

Meus pensamentos se perderam em um caleidoscópio desconfortável enquanto a dor no meu peito vinha em ondas intensas. Baixei a cabeça sobre o volante e tentei respirar fundo. Uma, duas, três vezes. O ar saiu entrecortado, raso, como se eu estivesse sendo asfixiada.

Trêmula, levei a mão direita até a minha garganta e pisquei; estava tudo bem, tinha que ficar. Mas eu não conseguia respirar. Meu corpo sufocou um soluço e eu fechei os olhos.

E de repente a minha mão pertencia a ele; o meu carro não era mais um carro, mas sim um quarto de hotel. O meu banco era uma parede. Eu não quero morrer, pensei, mas esse não era o meu maior desejo desde o que aconteceu? O que mudou? Eu não conseguia respirar. Não consigo respirar. Pisquei e vi pontos de cores na minha visão; rosa, azul, vermelho, preto, e de repente eu só conseguia pensar em seus olhos. Fui tomada por um medo irracional — tão real que me machucou.

Tive a sensação esmagadora de estar perdendo a consciência, no entanto eu estava bem acordada. Vi-me suplicando com o olhar e me senti ridícula por ter implorado para viver — como inconscientemente implorei durante muito tempo. Vi-o finalmente me soltando.

Meus lábios tremeram e tentei me acalmar. Era só uma crise. Preciso entrar na minha casa, disse uma voz bem no fundo da minha consciência, mas eu não conseguia ouvi-la. Duas lágrimas pesadas escorreram pelas minhas bochechas ao mesmo tempo e meus dedos vacilaram, finalmente soltando a minha traqueia.

Suspirei e consegui puxar o ar profundamente enquanto limpava o meu rosto. Estava na minha garagem, a casa inteira tomada em um silêncio sepulcral. Precisei conter a vontade de voltar ao Mondragón Hotel; Belladonna não iria querer falar comigo, não depois de tudo o que eu a disse.

Eu havia estragado tudo. Assim como estraguei meu casamento e a minha própria vida.

Levei a mão até a maçaneta do veículo e abri a porta. Uma lufada de ar frio e bem-vindo atingiu meu rosto febril, e só assim eu percebi o quanto eu estava quente. Fechei os olhos por um instante. Só um minutinho. Uma onda de náusea me atravessou e me fez estremecer. Respirei pela boca, tão tonta que estava com medo de me colocar de pé.

Estava tudo acabado.

Meu estômago revirou de maneira desconfortável e senti meu coração se acelerar mais uma vez. Perguntei-me se conseguiria fugir de novo — para onde? —, tudo para não contemplar a expectativa de ser encontrada por quem não deveria. Senti uma pontada forte na cabeça e tentei respirar. Estou bem, estou bem... Exceto que eu não estava, não sabia se um dia ficaria.

Eu odiava aquilo, a expectativa de passar o resto dos meus dias vivendo com medo de descobrirem que eu morava em Playa del Carmen. Às vezes pensava que era mais fácil simplesmente não viver.

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