I L I A N A
O que foi que eu fiz?
Meus pensamentos se perderam em um caleidoscópio desconfortável enquanto a dor no meu peito vinha em ondas intensas. Baixei a cabeça sobre o volante e tentei respirar fundo. Uma, duas, três vezes. O ar saiu entrecortado, raso, como se eu estivesse sendo asfixiada.
Trêmula, levei a mão direita até a minha garganta e pisquei; estava tudo bem, tinha que ficar. Mas eu não conseguia respirar. Meu corpo sufocou um soluço e eu fechei os olhos.
E de repente a minha mão pertencia a ele; o meu carro não era mais um carro, mas sim um quarto de hotel. O meu banco era uma parede. Eu não quero morrer, pensei, mas esse não era o meu maior desejo desde o que aconteceu? O que mudou? Eu não conseguia respirar. Não consigo respirar. Pisquei e vi pontos de cores na minha visão; rosa, azul, vermelho, preto, e de repente eu só conseguia pensar em seus olhos. Fui tomada por um medo irracional — tão real que me machucou.
Tive a sensação esmagadora de estar perdendo a consciência, no entanto eu estava bem acordada. Vi-me suplicando com o olhar e me senti ridícula por ter implorado para viver — como inconscientemente implorei durante muito tempo. Vi-o finalmente me soltando.
Meus lábios tremeram e tentei me acalmar. Era só uma crise. Preciso entrar na minha casa, disse uma voz bem no fundo da minha consciência, mas eu não conseguia ouvi-la. Duas lágrimas pesadas escorreram pelas minhas bochechas ao mesmo tempo e meus dedos vacilaram, finalmente soltando a minha traqueia.
Suspirei e consegui puxar o ar profundamente enquanto limpava o meu rosto. Estava na minha garagem, a casa inteira tomada em um silêncio sepulcral. Precisei conter a vontade de voltar ao Mondragón Hotel; Belladonna não iria querer falar comigo, não depois de tudo o que eu a disse.
Eu havia estragado tudo. Assim como estraguei meu casamento e a minha própria vida.
Levei a mão até a maçaneta do veículo e abri a porta. Uma lufada de ar frio e bem-vindo atingiu meu rosto febril, e só assim eu percebi o quanto eu estava quente. Fechei os olhos por um instante. Só um minutinho. Uma onda de náusea me atravessou e me fez estremecer. Respirei pela boca, tão tonta que estava com medo de me colocar de pé.
Estava tudo acabado.
Meu estômago revirou de maneira desconfortável e senti meu coração se acelerar mais uma vez. Perguntei-me se conseguiria fugir de novo — para onde? —, tudo para não contemplar a expectativa de ser encontrada por quem não deveria. Senti uma pontada forte na cabeça e tentei respirar. Estou bem, estou bem... Exceto que eu não estava, não sabia se um dia ficaria.
Eu odiava aquilo, a expectativa de passar o resto dos meus dias vivendo com medo de descobrirem que eu morava em Playa del Carmen. Às vezes pensava que era mais fácil simplesmente não viver.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Salada de Frutas
RomanceCompilado de extras do Frutaverso, o universo de Segundo Clichê e Terceiro Croqui. Aqui você encontrará especiais, cenas excluídas e conteúdos exclusivos.