Capítulo 1

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Maraisa pov:

Maraisa estava sentada em sua cama, a foto na mão trazia uma dor que não era nada comparada com a dor que sentia diariamente. Hoje, porém, era aniversario dela. E isso não podia ignorar. O dia marcou sua vida, o dia que tudo mudou. O dia que ela não aceitou, se negou e abandonou.
Como sua mãe tinha feito.

Por anos a julgou, mas a fruta não cai tão longe da arvore, e Maraisa não era um ser tão melhor quanto a mãe. Eram a mesma coisa.

A morena olhou para a foto e sorriu triste, passando os dedos pelo rosto dele. Um sorriso contente, representação do melhor dia da sua vida, provavelmente. Até ela estragar tudo.

Em seus braços, um pacotinho. Fruto do amor deles, mas que Maraisa simplesmente não podia segurar.

Estragaria a menina como sua mãe a estragou.

Maraisa se deitou na cama, levando o braço a cabeça. Seus olhos fecharam, as vozes na sua cabeça altas demais para ela ignorar.

Flashback on:

- eu não vou ficar, Maraisa! – Almira dizia enquanto arrumava a mala.

- mãe, não vai! Não me deixa! – a pequena Maraisa implorava enquanto puxava a saia da mãe. – eu prometo tomar conta da casa, a senhora não vai precisar se preocupar comigo! Eu juro, mãe!

Almira não conseguia mais tolerar o choro da menina, então se virou e segurou a garota pelos ombros.

- eu vou embora! – ela gritou.

- então me deixa com meu pai! – Maraisa implorou.

Almira começou a rir sem dó.

- se eu não te quero, seu pai muito menos. Não quis nem te conhecer.

Maraisa começava a se ver sem saída.

- mãe, por favor! Eu te amo!

- eu te odeio, Maraisa! – Almira gritou. – você não entende? Eu tinha planos! Planos com seu pai! Você arruinou tudo!´´

Flashback off:

Maraisa respirou fundo, ignorando a lagrima solitária que insistiu em escapar. Sua mãe havia se tornado seu maior monstro, presente em seus piores pesadelos.

Mas agora... se fosse parar pra pensar em tudo que fez... quão diferente ela era do seu maior pesadelo?

Maraisa se levantou da cama e secou as lagrimas. Era um dia frio em Berlim, o inverno se fazia cada vez mais rigoroso com a chegada do ano novo.

Se olhou no espelho e pegou seu casaco. Se protegeu bem daquele frio que mesmo depois de quase 9 anos ela era incapaz de se acostumar. Pegou seu batom escuro e passou bem, arrumou os cabelos e saiu.

Maraisa trabalhava na melhor escola de balé de Berlim. Havia se tornado uma bailarina fenomenal, disputada pelas melhores companhias, mas tinha escolhido ficar ali onde sempre foi seu sonho. Alemanha era seu sonho e o conquistou, isso ninguém a tiraria dela.

No começo as coisas tinham sido complicadas, os fantasmas do passado, as coisas que ela tinha feito, a perturbavam todas as noites, o que quase fez ela perder seu posto. Mas ela tinha colocado na cabeça que a sua vida e o que ela tinha feito não poderiam interferir no que ela faria agora. Seria como se tudo aquilo não tivesse passado de um sonho, ainda que... cada vez que ela pensava desse jeito sentia uma parte de si morrer.

E foi assim que ao longo dos anos Maraisa foi chamada para a diretoria da escola que ela representava. Ainda era jovem e fazia algumas apresentações pelo pais, mas quanto mais velha ficava sabia que sua carreira na dança estava cada vez mais próxima do fim.

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