Capítulo 6

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Maraisa:

Ela tinha pensado muito, imaginando como seria esse encontro. O que diria a Fernando, o que diria a sua filha. Ensaiou discursos e pedidos de perdão. Pensava em que quais seriam suas primeiras palavras e em como ele as receberia.

Mas a realidade era bem diferente.

Maraisa só sabia encarar os dois. Seu mundo voltava a girar aos poucos, o sangue voltando para a cabeça, ajudando em um raciocínio que estava a mil por hora. Então Elisa era sua filha, a menina a quem ela queria desesperadamente encontrar. O universo a colocou na sua frente, lhe dando um ultimato. Faça isso agora ou não faça mais. Maraisa aos poucos foi abrindo um sorriso enquanto olhava para a menina, seus olhos enchendo de agua.

- Elisa... – ela testou o nome em seus lábios, agora ele tinha um sentindo completamente novo.

- pai? – Elisa olhou para o pai sem entender o que estava acontecendo.

Fernando não conseguia desviar os olhos de Maraisa, mas colocou a mão dentro do bolso da calça e entregou a chave do carro para Elisa.

- filha, pede para Fernanda te levar para o carro, por favor – Fernando disse em um tom baixo.

- por que? – a menina perguntou tentando entender porque os dois estavam tão estranhos de repente.

- elisa, por favor, faz o que eu tô pedindo.

Elisa nunca escutava a voz seria do pai, então sabia que deveria fazer o que ele estava pedindo. Se despediu de Maraisa com um sorriso confuso, a mulher a encarava como se a visse pela primeira vez. A menina se afastou deles, chegando até Fernando que também observava a cena com confusão.

- o que aconteceu? – ela perguntou.

- não sei, meu pai pediu para esperar no carro, me leva? – elisa pediu.

Fernanda prontamente atendeu, pegando a menina pela mão e saindo do teatro com a cabeça cheia de duvida.

Entre Fernando e maraisa nada era dito. Ela tinha um olhar de admiração que seguiu a menina até a saída, enquanto Fernando estava serio, a olhando desacreditado. Ela estava ali, na sua frente. Quantos anos não esperou por esse momento? Quantas palavras não tinha entaladas em sua garganta? Cobranças a fazer, explicações para exigir. Tudo morreu. Naquele momento ele só conseguia encara-la.

Olhar para ela de verdade. Seu rosto estava mais maduro, seus cabelos mais compridos. O olhar mais determinado. O corpo mudado. Ele queria gritar com ela, queria a balançar pelo ombros. Queria se bater por estar tão encantado pela beleza dela quanto esteve no primeiro dia em que a viu.

- Fernando... – ela sussurrou seu nome ainda em estado de choque.

Fernando passou as mãos pelo rosto, pela nuca, apoiou as mãos na cintura e olhou para cima, pedindo intervenção divina naquele momento.

- Fernando... a Elisa. – ela não conseguia formular as frases coerentes e esperava do fundo do seu coração que ele entendesse o que ela queria dizer com palavras soltas.

- É. É ela. A nossa filha. A menina que você largou no hospital. – foram as primeiras palavras dele.

Duras, mas necessárias.

Aquilo trouxe Maraisa de volta para a terra. Seus olhos encaravam os olhos dele, e ela sentiu suas palavras como um soco. Merecia, afinal foi isso mesmo que ela fez. Largou esperando que ele cuidasse, que ele a criasse. Não olhou para trás. Foi um monstro igual sua mãe, e se encontrasse hoje provavelmente agiria como Fernando  estava agindo agora.

- eu... – ela até tentou começar a falar.

- não! – ele exclamou baixo aproximando seu rosto do dela. – você não fala, você escuta.

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